sábado, dezembro 22, 2012

Repugnáncia à Igualdade


Matilde Herrero Barcia, foi finalmente assassinada tras sofrer case umha década de situaçons de violência que denuncias, detençons e ordes de afastamento, nom puiderom evitar. Matilde foi abatida quando saia do trabalho, aguardada coma umha presa polo seu caçador.

Atrás ficaram arrependimentos envoltos em promessas nom cumpridas; atrás ficaram perdons construídos em trampas de fracassos, responsabilidades, compaixom e autoculpa.

O machismo mata. É mesmo tam destrutivo, que  mata também ao machista. Na sociedade de “eres o que possuis”, “tanto tens, tanto vales”, muitas mulheres som simbolicamente, e também fisicamente, convertidas numha propriedade mais. Até tal punto, o machismo construí o pensamento e a acçom de muitos homens, que a sua auto-estima e estabilidade emocional, depende única e exclusivamente da continuidade dessa possessom.

Mal-ensina-se-nos a amar, a enamorar-nos... e somos analfabetas e analfabetos na gestom do desamor. No espelho no que temos que olhar-nos, aparece a historia feliz onde deves comer perdizes. A historia onde todo é para sempre. E seguimos a confundir romanticismo com tenrura, ciumes com amor, controlo com cuidado.

O feminismo sabe desde hai tempo, que este tempo de Natal é de alto risco para as mulheres. Nom só polo número de assassinadas, também porque os valores machistas, associados a crenças religiosas, imponhem o modelo de família tradicional na maneira de viver estas datas. Umhas festas onde a convivência forçada, o trabalho extra, e o rol de facilitadoras que se supom às mulheres, som um caminho de poucos dias, mas de custosa peagem.

Neste tempo, onde as cores grises volvem a tingir a realidade social que puxava por nascer multicolor, nom podemos instalar-nos ante o assassinato de mulheres, com a resignaçom que nasce da ignoráncia ou da análise errada das causas do acontecido. O privado é político. Nada do que ao nosso redor sucede,  é alheo às decisons colectivas ou às decisons impostas. Cumpre sinalar aos culpáveis, cumpre despejar o caminho de obstáculos, cumpre ailhar ao machismo organizado nas instáncias políticas, religiosas e sociais. Essas instáncias que vomitam sobre a vida das pessoas leis Wert ou privatizam a Justiça. Se nos quere vender que a soluçom à pobreza está na caridade, e nom no reparto da riqueza. Do mesmo jeito que  se nos quere vender também que a erradicaçom da violência machista descansa só na vitimizaçom das mulheres que a sofrem, e nom no exercício pleno, na vida de todas as mulheres e nenas, do direito à Igualdade. Esse direito, ao que o poder financeiro, a Igreja católica e o Partido Popular sintem tanta repugnáncia.
---

domingo, novembro 11, 2012

Cara um governo de concentraçom?



Hoje na concentraçom de repulsa polas últimas mortes associadas aos desafiuzamentos, havia micrófono aberto e lim o comunicado da Plataforma das Afectadas eAfectados pola Hipoteca. Um comunicado descarnado, duro, que inclue umha crítica ao PSOE pola sua actuaçom sobre este tema ao longo dos catro anos de existência da Plataforma, e também pola soluçom negociada co PP que acaba de anunciar.

Foi umha decisom tomada na casa porque o comunicado é moi clarificador. Tomei essa decisom, ainda sendo consciente de que ia haver na concentraçom umha importante representaçom do PSOE.

Hai companheiras e companheiros do PSOE com os que compartilho loitas no bairro, na cidade, na comarca... e fixo-se-me doloroso. Mas a situaçom é grave e cumpria aclarar cousas.
Som das que penso que o PSOE, com esta decisom no tema dos desafiuzamentos, em vésperas dumha Folga Geral, vem de lavar-lhe a cara ao PP com esse acordo sobre a moratória. Um acordo, que como denuncia a Plataforma das Afectadas e Afectados pola Hipoteca vai ser só um parche.

As alternativas da PAH som moi claras: paralizaçom de todos os desafiuzamentos de vivenda habitual quando se trate de devidas de boa fe. Daçom em pago retroactiva. Reconversom do parque de vivendas que acumulan as entidades financeiras num parque público de aluguer social.

Em todo caso, parece que estamos ante a primeira posta em escena do que poderia ser um governo de “concentraçom nacional” PP-PSOE. Um lavado de cara da direita no governo, para que a cidadania entendamos que co diálogo entre estas duas forças maioritarias, podem-se conseguir cousas. Umha primeira posta em escena que nos deixa na indefensom ante a Troica e as consequências desse segundo resgate que está a cair.

Às vezes escoitar a verdade doe, e dize-la também. Mas viver na ignorancia da verdade pode traer consequências dramáticas. Consequências que pretendemos evitar coa folga do 14N, e ilhando socialmente ao PP. Mas o PSOE, mais umha vez, prefire salvar a banca, será porque som da “casa”?

---

terça-feira, outubro 30, 2012

Silvia, arma de guerra?

Quem me conhece sabe da minha posiçom radical contra o uso da violência como arma política. Posiçom que vem, nom só dumha reflexom política, um enraizamento da cultura da paz na minha vida, e um compromisso ético, senom também dumha dura experiência pessoal. Em muitos foros tenho denunciado a irresponsabilidade e veemência, por nom dizer demência, das pessoas responsáveis de certos posicionamentos políticos enfermiços que tenhem a violência como principio e fim, carregando geraçom tras geraçom a un bo feixe de moços e moças, que amam o país que habitam, tras os muros das prisons.

A detençom de duas pessoas em Ferrol, Júlio Saians e Silvia Casal, moi conhecidos entre os círculos culturais, nacionalistas e independentistas da cidade, obriga-me a premer as teclas do computador para pôr terra por medio, nom coas pessoas detidas, senom para afastar-me e condear a operaçom policial que se desenvolveu na nossa cidade.

Desde as pessoas que lhes som próximas, chega o relato da vulneraçom dos seus direitos. Ilhamento, traslado a centos de quilómetros da sua casa, manipulaçom da sua imagem pública nos médios de comunicaçom, vulneraçom do direito à presunçom de inocência... e todo por umhas acusaçons que o proprio Ministerio do Interior na súa pagina web, apenas é quem de redactar.

Hai ademais um bebê de oito meses que é separado da sua nai lactante. E é o caso de Silvia, onde mais claramente se manifesta a desproporçom da acçom policial. Na Marcha Mundial das Mulheres, temos escoitado muitas vezes o relato de mulheres dos cinco continentes, de como foram usadas como arma de guerra contra a sua família e às suas comunidades.

Na página do Ministério de Interior, onde se informa da sua detençom, nom se sinalam acusaçons contra ela. Perguntemo-nos pois para que é útil a detençom de Silvia. Perguntemo-nos pois que leis permitem separar a um bebê lactante da sua nai. Perguntemo-nos pola necessidade de traslada-la a centos de quilómetros da sua casa. Perguntemo-nos a quem beneficia utilizar a vulnerabilidade dumha nai ante a separaçom do seu bebê.

O Ministerio do Interior equivoca-se se pensa que as pessoas que nom admitimos a violência na praxis política, social ou privada, imos tolera-la na actuaçom policial. A vulneraçom dos direitos humanos por parte do estado, cobra perverso valor ante a impotência e indefensom que crea na cidadania que devera proteger. Eis a minha denúncia e o meu compromisso.

---

terça-feira, outubro 23, 2012

A maldita frase

Som só umhas palavras. Umhas malditas palavras que alguém, num acolchado despacho, tivo a ocorrência de transcrever, para que, entre o primeiro café da manha, dirigentes do Partido Popular a almorçaram, e se assentara no seu tecido orgánico, como o leite ou o croissant. Um jogo de palavras que estivo nestes últimos anos aparecendo e desaparecendo da boca destes ilusionistas das medias mentiras.

Estas malditas palavras estam preparadas para fazer derrapar qualquer mobilizaçom social, qualquer resposta organizada à nova onda de recortes, ajustes e roubos que está ordenando a troika, e que o seu maiordomo Feijóo, está em disposiçom de nos servir.

Esta frase aparecerá desqualificadora, rotunda, branqueando o sepulcro onde apodrece a democracia: “querem ganhar na rua o que perderom nas urnas”. E assim, mais umha vez, a mentira, a manipulaçom, a corrupçom, o roubo... ficaram baixo a alfombra da Lei de D'Hondt, varridos pola vassoira dos uniformados poderes mediáticos, e bendecidos pola sagrada inquisiçom financeira.

Cumpre logo escoitar, memorizar e repetir, a nova melodia interpretada por umha parte importante da cidadania que vem decidida a navegar em mares de rebeldia e nom acepta um governo que, ao governar contra a maioria dos seus cidadáns e cidadás, perde a legitimidade, e converte estas passadas eleiçons numha tragicomédia onde os diálogos e personagens ocultos nas bambolinas, decidem o acto final.

Os de “que se jodan”; os que vulnerarom nove vezes a lei eleitoral em campanha; os que ocultarom a siglas do PP e a cara de Rajoi; os que ocultarom o seu programa, os mandadinhos da troika... com só o 45,72% dos votos, teram umha cómoda maioria absoluta. E ademais agora, as mans livres para reformar a lei, de tal jeito que se garanta que essa maioria se prolongue até o futuro e mais alá.

Quando o 14 de Novembro em toda Europa, a mobilizaçom cidadá protagonize a primeira folga europeia, volveremos escoitar a maldita frase. Pronunciaram-na para costrenhir a democracia a essa burla de si mesma em que a converte a lei de D'Hondt e a anêmica participaçom. Mas também a cidadania pronunciará benditas palavras, “querem impedir que recuperemos na rua, o que nos roubarom nas urnas”. A cidadania mais consciente, vai dar essa batalha desigual, a batalha entre David e o Golliat dos mercados, onde com a onda da dignidade, loitaremos para recuperar a soberania que nos permita fechar os despachos onde se decidem os nossos direitos e o nosso modo de vida. Havera para entom, nom só nove vozes, senom dezasseis, deconstruindo as malditas palavras no Hórreo?

---

domingo, agosto 19, 2012

Nós as que abortamos


A resposta social em debates, tanto nos meios convencionais como nas redes sociais, aos projectos de Gallardón, é como um raio de esperança neste veram eclipsado por tanto escurantismo e regressom. Hai milheiros de vozes defendendo um direito fundamental para as nenas e mulheres, ainda que mesmo, muitas delas, nom o cheguem a exercer nunca nas suas vidas. Nom é o meu caso, nem o de muitas mulheres que conheço, eu abortei.

Os argumentos do nazi-onal-catolicismo reaparecem, mas nom coa velha face da ideologia misógina, que segue vendo no corpo das mulheres o terreio a dominar, e onde dar a batalha contra a sexualidade, verdadeira besta negra que atormenta a quem a professa desde os votos de castidade e a dupla moral. A fera esfrega-se coa palavra discriminaçom, aclara a voz coa palavra vida e enfeita-se coa palavra direitos.

Disse-nos que o zigoto, embriom, feto, é um ser humano e que as mulheres que o temos assentado no nosso útero nom temos direito sobre el. Disse-nos que abortar é coma a pena de morte. Disse-nos que se se nos obrigasse a ver umha boa imagem do cigoto, embriom, feto, nunca decidiríamos abortar. Disse-nos que levemos o embaraço a termo, e lhes entreguemos, agora sim, o filho ou a filha já nascida, para as suas organizaçons e famílias afins. Disse-nos que se nos vai tutelar para que podamos sair da violência estrutural que nos obriga a abortar. Som o seu imaginário do terror, os seus argumentos.

Mas hai umha ideia que se repete na argumentaçom de muitas das pessoas que estam a dar a batalha polos nossos direitos nos meios de comunicaçom e redes sociais, e pode estar a funcionar como as pedras no próprio telhado. Repite-se como umha verdade indiscutível, como algo empírico, fora de discussom. Disse que o aborto é umha decisom difícil para as mulheres, umha tragédia à que nom hai que botar mais lume.

Lembro quando eu, para poder abortar, tomei a decisom de cruzar umha fronteira para outro país, alonjar-me mais de quinhentos quilómetros da minha casa, pôr-me em mans de gente desconhecida, que mesmo falava dum jeito para mim difícil de entender... Mas era umha decisom que me librava dumha grande tragédia, um embaraço nom desejado.

Ao longo da historia e agora mesmo em muitos lugares do mundo, as mulheres preferem arriscar às suas vidas, a sua saúde, ou mesmo a sua liberdade antes de levar a termo um embaraço nom desejado. Eis a verdadeira tragédia. O aborto é o alivio para essa tragédia. Assim o vivim eu e assim o vivirom muitas mulheres que eu conheço.

Se nom somos quem de impedi-lo, Gallardón e o integrismo católico, que o arroupa e inspira, aprovaram a nova lei, que vai ser umha escenificaçom do triunfo do seu modelo social. Mas as mulheres vam seguir abortando, como sempre. As mais afortunadas com profissionais de confiança perto da casa. Outras iram a outros países para faze-lo cum mínimo de seguridade. As mais desafortunadas, faram-no com claro risco para as suas vidas e a sua liberdade. E mesmo, volveram aos jornais as novas de fetos atopados nos contentores ou recém-nados abandonados mortos ou em vida. Eis o seu modelo social.

Agora, ás que abortamos, as que sabemos o beneficio do uso desse direito, toca-nos defende-lo. Hai que bota-los!

Nota.- Artigo publicado na revista Tempos Novos.

---

terça-feira, julho 24, 2012

A pola constituinte!


Nom hai volta atrás. Mentres os especuladores lançam ataques sobre a dévida, e ditam as leis que devem aprovar os parlamentos outrora “soberanos”, os ultracatólicos e neoliberais aproveitam para dar o finiquito a direitos e liberdades, desmontar e privatizar empresas e serviços públicos e mesmo a reformular a estrutura do Estado, ameaçando com reduzir ou eliminar o poder local, autonomias... mas mantendo, isso sim, a santa monarquia, o centralismo asfixiante e os ninhos de caciquismo provinciano das diputaçons. Começarom umha contrarreforma que, nesta nova etapa, tivo o seu pistoletazo de saída na reforma constitucional aprovada numha vergonhenta sessom do parlamento espanhol, onde PP-PSOE entregarom a “soberania” aos mercaderes europeus.

Aproveitando a situaçom socioeconómica que provoca esta Estafa chamada Crise, esta-se produzindo, nos estados ocidentais, umha auténtica revoluçom neoliberal, comandada polas oligarquias financeiras e amplos sectores das burguesias “nacionais”, neoliberais no económico e conservadoras no social.

A grande estafa da especulaçom financeira e inmobiliaria, a sobre produçom industrial, cria no mundo umha crise económica e social que nom deixa ver a profundidade e importância vital das outras crise, a alimentaria, a energética e a medioambiental.

Para esta nova etapa, de acumulación do Capital, necesitan o control dos recursos, a guerra e uns povos temerosos e sem dereitos.

Cumpre que tomemos consciência desta situación mundial e do novo marco político-jurídico onde nos estam encorsetando. E cumpre analisar se é possível volver, cum simples cambio de governos, à situaçom anterior. Umha situaçom onde a corrupçom política, a especulaçom bancaria ao redor do cemento, a energia e o asfalto, ficavam num segundo plano, pois a capacidade de consumo insuflada qual bebediço nas maiorias sociais, dava a impressom de coesionar a toda umha sociedade ao redor do lema “consume até o infinito e mais alá, que eu deixo-che os cartos”.

Nom vai ser possível volver atrás, porque as directrices da Troika, do FMI e o BM, obrigariam a manter o caminho de pedras ardentes por onde se nos está obrigando a caminhar. Nom abonda com eleger nas eleiçons aos melhores gestores e gestoras, mesmo se fossem os que cumpriram co critério de maior honradez. O déficit e as arcas baleiras, e o desmantelamento do público, seria a realidade a gestionar. E umha dévida imensa, cos seus correspondentes interesses, estaria colocada na mesa das reunions governamentais. As cadeiras e carteiras estariam agrilhoadas por um pacote legislativo que faria ilegal qualquer medida que tentasse um golpe de leme. Nom som gestores ou gestoras o que precisamos nas instituiçons, precisamos pessoas que liderem o cambio de paradigma, pessoas insubmissas, descridas co sistema capitalista, dispostas à construçom de algo novo. Mesmo dispostas a desconstruir essas mesmas instituiçons e construir outras novas se houver lugar.

Cumpre assumir que temos que abrir-nos a um novo tempo. Estamos numha situaçom onde, ou damos um salto adiante para salvar o precipício, ou nos afundimos nele para umha longa e gris etapa histórica, que have-las hai-nas. Cumpre assumir que temos que ir a um processo constituinte. E cumpre explicar-lho a todo o mundo. Um processo político e social que construa uns novos alicerces onde os materiais nom podem ser outros que os aportados polos movimentos sociais, os movimentos cidadáns e as forças políticas de esquerdas, que sejam quem, para si mesmas, fazer o seu próprio processo constituinte.

Hai que construir e assinar um novo acordo. Temos que pensa-lo todo de novo,  como queremos viver, como nos imos organizar, quem e como tenhem que ser as pessoas nas que deleguemos funcións de governanza e representatividade. Como organizar a justiça, a economia, as finanças... Como erradicar a pobreza e limitar a riqueza. Como construímos a nova democracia, e como é que o território que habitamos, vai ser respeitado e nos vai poder aturar.

Este processo constituinte está começando a gestar-se em Grecia, Italia, Portugal e  nos territórios que conformam o caduco Reino de Espanha. Devera logo, este processo constituinte, de jeito lúcido e duradeiro, devolver a soberania aos povos que a vimos reclamando por séculos, e o dereito a decidir que tipo de alianças concretadas em federaçons, confederaçons, unións, ... hai que construir para começar cum bo pé a nova etapa histórica que nos está aguardando aí, a um salto de precipício.

É por isso que neste 25 de Julho, com cinco atos diferentes em Compostela, e mais algumhas organizaçons que nom tenhem organizado ato algum, nom devemos quedar-nos na imagem de  divisom, fragmentaçom ou sectarismo da esquerda nacional. Devemos ver, neste 25 de Julho, a imagem das peças do mosaico que estám chamadas a entender-se, e conformar este novo processo constituinte. Como se coloquem, os cámbios e processos internos que haja que dar, o tempo que precisam, nom deixam de ser simples variáveis, porque os tempos obrigam ao entendimento, à uniom, à colaboraçom e à complementariedade. Todas e todos, a pola constituinte!
-----

segunda-feira, julho 23, 2012

O Inquisidor



O ministro Gallardón quere converter em lei o que é simplesmente doctrina de fe. Segue o caminho planeado polo nacional-catolicismo, amplamente representado nas instituiçons. Um caminho planeado longe da transparência e da democracia, nos sombrios espaços das seitas mais poderosas, chamem-se Opus Dei, Comuniom e Libertaçom ou Neocatecumenato. A vida das mulheres e das nenas, graças a este obediente inquisidor, vai estar constringida à moral dumha Igreja que é capaz de obrar o milagre de recolher mais dum milhom de euros nos seus cepilhos.

Assim, como no tempo onde nos mandavam torturar e queimar nas praças públicas, para liberar as nossas almas possuídas polo mal da bruxaria, agora o inquisidor, quere liberar-nos da violência estrutural que nega os nossos direitos, dando-lhe de beber à opinom pública um vinho de arrecendos democráticos que agocha o mortal veleno da misoginia, mentres mulheres e nenas, quedam expostas ao lume da maternidade imposta.

Chega a sua perversom ao extremo de converter a malformaçom do feto num problema de discriminaçom. As leis e os direitos que nelas tenhem que estar garantidos, estam em mans de mentes obsessionadas em legislar, acotar e dominar, o que consideram o espaço-força origem do pecado: a sexualidade e o corpo das mulheres. A Inquisiçom carga de novo contra as cidadás livres, que poidam decidir, com toda a informaçom necessária, levar a termo ou nom um embaraço, com malformaçons ou sem elas, é o seu direito.

-----






terça-feira, junho 26, 2012

Iria



A tarde latejava entre as vozes infantis banhando-se na contaminada praia de Caranza, e as atarefadas vozes nas juntanças que buscavam soluçons ao malgasto da praça de Espanha, e à aguardada sentença contra Reganosa. E entóm aconteceu a tua morte e todas as vozes calarom. A poucos metros de onde a policia marcava cautelosamente a mobilizaçom dos trabalhadores e trabalhadoras de SEAGA, alguém decidiu matar os teus direitos, decidiu matar a tua liberdade, decidiu matar a tua vida. E o teu sangue que corria as ruas de Narom chamou-nos mais forte que outros sangues, porque estavas tam perto..., e te sentimos indo-te entre as nossas gorxas, entre os nossos dedos impotentes.

Manhá continuará a vida nesta comarca de Trasancos, as loitas obreiras e populares seguiram no passo das ruas e no eco dos edifícios oficias. Mas nada disso foi suficiente para ti, nada disso será suficiente para pôr a salvo as nossas filhas, às nossas irmás, às nossas amigas... porque a fera machista demostrou em ti que segue viva, que se reproduze, e umha a umha segue cobrando, sem trégua, as suas vitimas.

Agora, nas beiras do Xuvia ficará para sempre marcado o lugar da tua morte, que sinala o nosso fracasso, que sinala a nossa impotência. Na Praça de San Roque o machismo ganhou-nos a batalha.

-----

quinta-feira, junho 21, 2012

O parto


Estes dias Yolanda Díaz, dirigente de Esquerda Unida, pronunciava umha das frases máis lúcidas que tenho lido nas últimas semanas “ Nós sós nom podemos”. Trata-se da frase que ainda parecendo que xurde da impotência ou da frustraçom, é a que tem a clave que nos pode tirar do abismo no que levamos caindo irremediavelmente, sem tam sequer chegar a albiscar o fundo.

A esquerda que aguardamos, a esquerda que poida abrir a porta para sairmo-nos fora deste sistema, a esquerda que precisamos, ainda nom viu a luz, por mais que sintamos já as contraçons do parto. Um caminho que nom vai ser doado, as organizaçons que estam chamadas à súa construçom, estám instaladas no “ Nós somos a esquerda”, ou “Nós somos o país”, ou mesmo colhem posiçons porque entendem o accionar político coma umha carreira em competiçom. Ainda fica muito autismo político entre nós.

Ainda assim, começam as ganas de empuxar, polo que cumpre levar a bo termo este parto, sabendo em primeiro lugar se a criatura está bem colocada, e ao pouco que se apalpe vera-se que nom, que polo de agora vem de nádegas.

Estamos olhando para o que deixamos atrás, para a placenta nutricia que nos alimentava até agora, e deixamos de olhar para a canle que temos que atravesar para respirar numha nova vida. Seguimos pensando que é suficiente com enumerar soluçons, alternativas, obxectivos... onde mais ou menos todo o mundo coincidimos, mas esquezendo explicar como é que imos atravesar essa canle para chegarmo-nos a esses obxectivos, a cristalizar essas alternativas, a darmo-nos soluçom aos problemas.

Nom nos decatamos que estamos na canle de parto, e nom hai volta atrás. Nada vai volver a ser igual. Se as organizaçons de esquerdas, as que dim que querem um outro sistema, tivessem a maioria nas instituiçons, que fariam co déficit? e ca débida? com que medios? com que alianzas? Hai muito para reflexionar no acontecido nos últimos días, resignaçom ante a realidade em Andalucia, e fracaso na desuniom em Grecia. Eis o que cumpre decidir, submissom ou insubmissom; confluencia e unidade ante a emergência, ou desuniom e ignorância e sálve-se quem poida. O tempo corre contra nós, mas tampouco podemos andamiar em falso. Nom som mais, mas som poderosos, nom tenhem escrúpulos e venhem a por nós.

---

terça-feira, maio 22, 2012

Pam e cebolas


Manhá vou trabalhar. Entrarei na aula, onde com seguridade faltaram alguns nenos e nenas. As suas famílias sim querem que manhá as aulas estejam baleiras. Hai muitas razons para fazer folga. Mil, milheiros... Os recortes no professorado, nos orçamentos, Educaçom para a Cidadania, as bolsas, as matrículas... Muitas razons e graves... Por isso entende-se menos a falta de unidade sindical. Por isso entende-se menos que o que tinha que unir a todos os sindicatos para tumbar este despropósito, quede em segundo lugar e se fagam convocatórias sem contar com todos, ou se rejeitem convocatórias em base a estratégias que nom som útiles para afrontar a ofensiva que estamos a sofrer. Sei que os tempos e os espaços som diferentes, Galiza, os outros territórios do Estado..., mas som cada vez mais consciente de que os relojos, em todo o estado, e em toda Europa, devem sincronizar-se se queremos sobreviver a este desastre.
Manhá irei trabalhar porque o meu sindicato nom convoca folga, e no meu centro de trabalho ninguém secundará a folga que vam respaldar milheiros de ensinates, e alumnos e alumnas do Estado. Todo o mundo comenta que nom hai unidade sindical, e o ánimo baixa, e as loitas parecem inútiles, sem resultado, mentres o ministro Wert, ensina o seu sorriso para anunciar um novo triunfo neoliberal.
Hoje na aula lemos a biografia de Miguel Hernández. Que foi o que matou ao poeta? O cárcere ou a tristeza? Mentres se siguem escrevendo discursos para explicar o que se fai ou se desfai desde as cúpulas sindicais, mentres se redactan circulares internas para pôr as lindes da acçom ou da nom-acçom, mentres se especula sobre as intençons dos outros e bailam as cifras que midem umha cada vez mais questionada representatividade e legitimidade, o poder, esses homes e mulheres do gram poder, estam preparando com uniom, o futuro das nossas nenas, o futuro dos nossos nenos..., um futuro de pam e cebolas.

-----

sexta-feira, abril 20, 2012

Assembleia



Assembleia de mariscadoras e mariscadores da confraria de Baralhobre...a Xunta deve-lhes meses de labores de limpeza da Ria. Os planos de saneamento violados umha e outra vez. E as dívidas polas hipotecas, os empréstimos e a vida diária, aumentam. Começa a falar-se de desafiuzamentos. Depois de duas semanas de encerramento no concelho de Fene, chamam a umha asembleia cidadá para recabar solidariedade.

Ideias, propostas, debate, críticas... mas a solidariedade começa a colher forma. Hai ausências que encher, noutras confrarias ocorre o mesmo, hai que unir-se.
Repaso às instituiçons. Por que o alcalde do PP nom apresenta a súa demissom se a Conselharia nom fai efectivo o pago das mensalidades? É mais, por que o PSOE, BNG e EU nom lhe dim ao alcalde que faga que lhes paguem, ou se unem e o sacam da alcaldia? E mesmo, por que está na alcaldia?

Na assembleia, em relaçom a umha proposta que falava de unirse a várias mobilizaçons que vam ter lugar na nossa comarca, afirmou-se que os que governam alegram-se de ver todo misturado, confundido... Eu penso que aos que governam, o que mais lhes aterra é ver que nos unimos.

-----

domingo, abril 15, 2012

Ignomínia



Ontem, da mam das organizaçons mais conscientes na defensa do território, ADEGA, Verdegaia, SGHN e a Plataforma de Defensa dos Camiños, assistim perplexa a um roteiro polo rio Baa, um rio que atravessa as terras de Bezoucos, nos concelhos de Fene, Cabanas e Mugardos. Segundo íamos avançando a jornada, a minha expressom de perplexidade ía tornando-se mais significada, suponho que por discreçom e boas maneiras, ninguém me comentou nada, mas o estado de shok no que ia entrando, entre chuvascos e raxeiras, devia ser moi evidente.

Todo começou quando nos fixerom subir em riba de miles de toneladas de “áridos” asfálticos situados na canle do rio, no polígono de Vilar de Colo. Alí a voz acreditada dum químico da Universidade de Compostela, falou da presença de cancerígenos e mutagénicos, falou de escorrentias que estam a levar essas substancias tam perigosas às augas do rio Baa, que as depositará na Ria de Ferrol … ; falou-se de corrupçom, interesses políticos, que fam possível que uns residuos letais poidam vir de Holanda e depositar-se num território que, como vimos logo ao longo do resto da jornada, é dum valor ecológico e cultural incalculável. Uns resíduos que ademais de naquela montanha de horror, estám formando parte já dos recheios do polígono de vivendas do bairro do Bertom, ou no porto exterior.
E eu, que conhecia polos correios e polos jornais as denuncias que contra esses mal chamados áridos existiam, agora os tinha diante, e nunca os imaginara tam imensos e ameaçantes..., e sentim o mesmo que o primeiro dia que me acheguei aos depósitos de Reganosa, raiba e impotência. Ao nosso território botárom-lhe estrume nas galas dum dia ...

Achegamo-nos logo ao “menir de San Lourenzo”, onde restos de ritos de sanaçom, ainda ficam espalhados cada día ao redor da pedra mágica. Alí, por um momento, sonhei que antergos habitantes do Castro de Prismos, juntavam-se a nós, porque para livrar-nos de tanta ignominia vam fazer falta muitas mans ...

---


quinta-feira, março 29, 2012

Irmandade


-->

Em jornadas como a que vivemos hoje, é quando sucedem cousas que passados os anos podemos ver narradas em filmes ou novelas. Este é o caso do que a continuaçom vou-vos narrar.

Desde primeira hora da tarde do mércores um grupo de afiliadas à CIG, estivérom realizando labores de reténs no sindicato. A noite foi longa, os piquetes iam polo sindicato a intercambiar informaçom, e recuperar forças. Quando amanheceu, e os piquetes recobravam umha actividade mais intensa, as companheiras tenhem noticia de que um Gadis do bairro, abrira as suas portas. Desde umha das xanelas do sindicato pode-se ver o local da CNT. Nom duvidarom, “companheiros, Gadis está aberto!”. Um grupo de sindicalistas “vizinhos”, pom-se em movimento. Á volta, desde as xanelas “subide tomar um café ou um bocata”. Hai quem está remarcando no dia de hoje a divissom entre os sindicatos convocantes da folga geral. Esforço inútil, o capitalismo está unindo-nos numha grande irmandade.

-----

sábado, março 24, 2012

Tabu



Observava eu estes dias no facebook, com supresa e admiraçom, um encendido debate entre dous amigos sobre as mulheres, a violência machista, as políticas de igualdade... e todo o que vos podades imaginar que pode xurdir, quando dous homes começam a discutir sobre Feminismo. Assistia digo, com admiraçom, porque um desses homes que tenho associado como amigo na minha conta, defendeu-nos ás mulheres bastante bem, fronte a um neo-machista cargado de argumentos de Intereconomia, Asociaçons de Juízes e Conferencia Episcopal.
Muitos homens começam a dar passos importantes no seu compromisso co Feminismo. Falam, opinam, escrevem... e como nós, as feministas, também se trabucam. Digo isto ao abeiro do debate que se está a dar nalgúns espazos de comunicaçom, sobre afirmaçons públicas onde se utiliza a violência machista como símil ou metáfora. Beiras fixo-o ao referir-se à situaçom criada pola ruptura, divorcio, no BNG; e Bieito Lobeira fixo-o referindo-se ao maltratador da nossa Língua, o Conselheiro de Educaçom.

Mas as feministas estariamo-nos equivocando ao pôr cancelas na boca dos nossos aliados, e também nos estariamos equivocando se fazemos da violência machista, um tabu, um tema do que só desde as experimentadas vozes das totens feministas, se conheceram as combinaçons válidas, exactas e acaidas para nomear as inomináveis palavras.

Nom som as metáforas nem os símiles os que nos fam dano. Som as políticas aprovadas, executadas sobre nós, sobre os nossos direitos, por essa maquinária esmagadora, braço executor do patriarcado capitalista que é o Partido Popular. Políticas por certo, moi bem resumidas no lema de CCOO para a greve do 29M, “querem acavar com tudo”.

Nom é o parlamentário Bieito Lobeiras o que deroga a Lei do Aborto, nom é Beiras Torrado o que desmantela a rede de serviços para a Igualdade... e se utilizam os símiles dos mecanismos do maltrato para incorpora-los no seu discurso político, estarám ajudando a dar a conhecer como é que sucede na realidade. Resulta que ademais, umha conceptualizaçom nascida da análise feminista, passa a aplicar-se para comprender outras realidades que nom afectam só a mulheres. Podemos deixar de ler isto como um suceso do próprio Feminismo?
A convivência na esquerda ante a apariçom dum novo proxecto político na Galiza pode resultar, e de feito está a resultar difícil, mas nom botemos muitas energias no que o passo do tempo vai converter em anedota. Porque estám aí, avançam, demolindo, queimando, arrincando-nos até a raiz do que tinhamos sementado... colhamos cada quem a nossa posiçom, mas enfrontemo-nos com uniom às súas políticas, porque Atila volve a Galiza.

----

Em Caranza



No meu bairro, hoje houvo umha assembleia. Foi às sete da tarde, convocada por oito  associaçons. Falamos, participamos, debatemos, propusemos … Logo assistimos a um ato convocado polo Concelho, onde se proibiu falar, participar, debater, eleger e ser elegid@ … Onde os atuais representantes da Asociación de Veciños de Caranza, traicioarom acordos contraídos com outras sete associaçons do bairro. Isto permitiu agrilhoar o que tinha que ser a “Asemblea de Barrio” e reduzi-la a um mero trámite ao serviço das políticas do PP. Um bo dia para a mentira, a manipulaçom, a ambiçom pessoal..., mas também um bo día para a verdade, a participaçom direta e a defesa do bem comum. Porque na Assembleia, a única Assembleia, que merece tal nome, que se desenvolveu no bairro às sete da tarde de hoje, impulsou-se um novo processo de participaçom, de construçom do bairro desde o trabalho comunitário, desde a reivindicaçom popular. É por isso que ao render o meu corpo esta noite nesta casinha fronte à ribeira, conseguida tras anos de loita comunitária, tenho um sentimento de esperança, porque a boa gente, a generosa e loitadora gente de Caranza, vai saber virar a mentira e a manipulaçom, em verdade, justiça e qualidade de vida para o bairro.

-----

domingo, março 11, 2012

O relevo

Hoje nas ruas de Compostela pudemos comprovar que o Feminismo Galego é um movimento social arraigado, criativo e com fortes alianças com outros movimentos e organizaçons políticas. Mas se algo brilhou com pleno protagonismo e resultou confirmado na realidade palpável para quem olhar a manifestaçom, foi o relevo geracional que o Feminismo Galego vinha gestando nestes últimos anos, e hoje viu-se consolidado.

Este feito resulta transcendente ante umha ofensiva patriarcal que está a realizar um bombardeio constante contra os direitos e liberdades acadados pola luita feminista desde a década dos setenta. Um relevo geracional, que está alimentado desde muitas fontes, mas que tem na vontade integradora, de reconhecimento das diferenças, da posta em valor da pluralidade, que o próprio movimento pratica, a sua máxima possibilitadora.

O Feminismo Galego soubo flexibilizar nesta convocatória as formas organizativas que vinham liderando o movimento. A Marcha Mundial das Mulheres tomou a decissom política de replegar-se como guarda-chuvas que acobilhava à maioria do movimento, para aparecer em pé de igualdade com outros colectivos e organizaçons mixtas que demandavam essa nova rede. Decissom que resultou acertada. Eis a maior fortaleza da MMM, tanto a nível galego como a nível internacional: construir-se em cada momento como a expressom mais útil para a defensa dos nossos direitos e liberdades.

Na Galiza conseguiu-se umhas semanas ao redor da data do 8 de março, onde a cidadania soubo da vontade de reagir do movimento feminista, realizando concentraçons, manifestaçons, actos de propaganda, comunicaçom e reflexom, destinados à denuncia das políticas capitalistas aplicada no mar revolto da estafa chamada crise, e a vontade do movimento, para enfrontar a onda patriarcal mais abafante das últimas décadas, que pretende à nossa volta ao século XIX.

-----

sexta-feira, março 09, 2012

Palavras em liberdade

Boas tardes a todas e todos. O que vai acontecer aqui, nom poderia ser possível noutro momento, noutro lugar... Cumpre-se 40 anos dos sucessos de Março de 1972, que marcarom e seguem marcando esta cidade, esta comarca,... manhá celebraremos o DIA DA CLASSE OBREIRA GALEGA,... e ademais, som setenta anos dumha vida marcada também por esses sucessos e por muitos outros que forom conformando um latejo indomável, um latejo comprometido, um latejo rebelde, um latejo que forma parte do nosso território comum, um latejo que marca a várias gerazons aqui representadas, o latejo vital de Rafael Pillado Lista, filho do velho militante Manuel Pillado e da valente e luitadora Maria Lista Lago.

Coa generosidade que o caracteriza, Rafael Pillado para a maioria de nós, regala-nos umha vez mais a sua vida, nesta ocasiom em forma dumha apaixonada biografia. Quando abrades este primeiro volume das suas memórias, podereis percorrer da sua mam as paisagens da sua infáncia marcada pola repressom franquista contra a sua família; o nascer da sua consciência de classe e o seu compromisso político na fundaçom dumha ferramenta fundamental na luita contra o fascismo, o Partido Comunista de Galicia. Conhecereis o nascimento do sindicato Comisións Obreiras, do que tem o carnet número 2, o número 1 era do seu inseparável Xulio Aneiros, e o seu passo polos cárceres franquistas. Mais, como é Rafael o que escreve estas memorias, também nos oferece no seu latejo, os seus erros, as suas tristezas, as alegrias, as pequenas oportunidades aproveitadas, e também as contradiçons, que permitem que na viagem pola sua vida, sintamos que qualquer de nós, qualquer de nós com o coraçom em disposiçom para que entre o vento da justiça e a liberdade, poderia estar em Sam Cibrao, em Sam Filipe, em Bazám... E assim, sentimos a frescura do vento que sopra na cara do neno Rafael a brincar polos prados de Sam Filipe, fazendo nom poucas trasnadas; a sua alegria no sucesso da mortadela, a sua impotência e raiba fronte ao mestre fascista e pederasta; namoramo-nos com el, navegamos com el, protagonizamos as primeiras assembleias e reunions, passamos os seus medos nos quartelinhos , nas comissarias e no cárcere, …; e todas e todos, com este livro, imos dar o berro, esse berro profundo, atávico, ferido, saído dum latejo famento de justiça, que foi o que asseguram algumhas testemunhas, que deu Pillado quando abraçou nas Pías o corpo sem vida de Daniel Niebla.

Rafael nom podia escolher melhor data para regalar-nos outra vez a sua vida, porque mais que nunca, é-nos precisa a sua ensinança, a sua experiência, o seu compromisso... Som tempos difíceis para a classe obreira, para as classes populares. Os poderosos estám desfazendo a nossa casa, arrasando co colheitado nestes anos de loita e sacrifício... Precisamos volver a ler, entender, e as gentes mais novas devem conhecer, como em condiçons extremas de repressom e precariedade, umha geraçom de ferroláns e ferrolás, conseguiu enfrentar a besta fascista.

Agora, precisamos expulsar outra vez a besta da nossa casa. E permitide-me que me dirixa directamente a José Manuel Rey Varela, convidado aqui pola associaçom Fuco Buxán como alcalde de Ferrol. Sr Alcalde, o Partido dos Poderosos ao que vostede pertence e serve, abriu as portas da nossa casa de par em par a essa besta. Umha besta que nos quere devolver ás condiçons laborais do SXIX, á falta de liberdade do SXIX, á falta de direitos do SXIX, às condiçons de vida que se davam no bairro de Esteiro e de Ferrol Velho, no século XIX, á negaçom da condiçom de plena cidadania que sofriam as mulheres no século XIX...mas imos pechar essa porta, imos expulsar da nossa casa a quem entrou para destrui-la. Temos as memorias de Rafael Pillado, e estamos construindo umha vez mais a solidariedade, o apoio mútuo, a nossa uniom. E começando a caminhar outra vez, como vimos fazendo ao longo da história às geraçons dos Pilhados, as gentes da nossa condiçom, o caminho da luita e a irmandade.
-----

quinta-feira, março 08, 2012

Viva!!!


Hai quem se pode crer que as feministas nos alegramos de que o tempo nos venha a dar a razom nalgumhas cousas que prediziamos: hai que defender os direitos conquistados porque podem perder-se..., o patriarcado está avançando em toda Europa...Mesmo tenho um mantelo de algodom, mercado a unhas feministas belgas da Marcha Mundial das Mulheres, que participavam com nós numha manifestaçom europeia em Marselha que di "PAS DE RETOUR AO 19iéme SIECLE", nom à volta ao século XIX.

Nom nos alegramos de ter razom, estamos vivendo estes momentos com medo, com incertidume, porque a máquina do tempo nos leva cada dia mais longe, longe dos nossos direitos, longe das conquistas sociais, longe das ideias de liberdade, igualdade, justiça, solidariedade...e mesmo semelha que a cada virada da máquina ponhemo-nos cada vez mais longe da paz.

Hoje e onte, as vozes inimigas das mulheres, das feministas, da democracia, da justiça, as vozes e as vontades inimigas da Igualdade, volverom a tronar para alindar os nossos direitos, a nossa liberdade. Intentam acossar-nos, socavar a nossa autoestima, "o aborto é um fracasso da mulher" di Esperanza Aguirre; intentam intimidar-nos "vivirá toda a vida apesadumbrada polo crime do aborto", se nom te sometes á sua moral, di o arzobispo de Granada; intentam que nos desorientemos confundindo a realidade, "as mulheres embaraçadas sofrem violência de gênero", aludindo às supostas pressions sociais para que aborte, di o Ministro de Justiça, Alberto Ruíz-Gallardón;"hai que julgar o roubo de bebés com critérios doutro tempo" di o arzobispo de Barcelona, para sair livre de qualquer culpa; "eu nom som feminista nem machista, som umha mulher normal" di a Concelheira de Igualdade do Concelho de Ferrol, intentando ridiculizar os nossos esforços colectivos de emancipaçom.

Hoje todas as pessoas que acreditamos no mundo democrático e justo que propom o Feminismo, estivemos reunidas, manifestando-nos, concentrando-nos, participando em actos públicos, nas escolas, nos centros de trabalho, nos sindicatos, nas redes...falando de Igualdade. Hoje era o dia para ver-nos e arroupar-nos..no virtual e no real, e assim foi. Viva a luita feminista!

---

sábado, fevereiro 11, 2012

A camiseta


Estes dias jogara-se a Copa de Rei. Milheiros de pessoas seguirám um partido que promete emoçom, adrenalina ou simplesmente um momento para tomar umhas cervejas coas amizades ou a família. Eu nom poderei desfrutar do partido. Nom é só porque esse deporte o sinto deturpado polas ingentes quantidades de dinheiro que move... Nem pola utilizaçom política que o Ministro Wert está dando ao deporte em geral, para alentar o revanchista, dominante e excluinte nacionalismo espanhol... Nem polo protagonismo masculino que o envolve... Nom nesta ocassom.

É pola camiseta. Essa camiseta que co tempo vai tomando forma tridimensional e me transporta a umha realidade triste, como num final de filme de ficçom com cidade em ruínas, laios e poucos superviventes. A camiseta co logo, que está em todas partes, sobre todo cobrindo o peito dos nenos, que sintem assim a pertença á sua equipa favorita. Umha camiseta que, como bom obxecto de desenho, cumpre perfeitamente o obxectivo propagandístico, inoculaçom de informaçom intencionada, para o que foi desenhada.

Fundaçom Qatar. O jeque de Qatar, monarquia absoluta, direitos políticos e direitos cidadáns negados, poligamia...nom se vota. Mas hai muito dinheiro, dinheiro do petróleo e o gas. Como para mercar nom um, se nom um milhom de equipas de futebol. Que levem o escudo da obra do jeque, esse mesmo jeque que agora está partilhando co imperio como mover ficha na guerra que lançou contra os povos árabes. Para que todo sega igual para os poderosos de Qatar, para que todo sega igual para a monarquia, e poder patrocinar, case sem dúvida, á melhor equipa de futebol do mundo.

-----

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Quedara-nos Portugal?

Eram finais dos setenta, princípios dos oitenta, quando íamos exercer o nosso direito a abortar, no vizinho país. Um direito que estava negado também ali como no nosso, mas que contava cumha permissividade maior. Era custoso e perigoso. Tinhas que viajar muitos quilômetros, e na volta corrias serio perigo se algo ia mal, e se apresentava algumha complicaçom que precisara intervençom médica. Ás vezes se acudia a algumha consulta privada onde nom existiam muitas garantias. Também se podia acudir a algumhas clínicas, melhor equipadas, onde sempre encontravas gente da tua cidade, os endereços que circulavam iam sendo os mesmos. Só coa solidariedade e apoio, em médios e dinheiro para a viagem, das pessoas que acreditavam que o aborto era um direito que tínhamos que conquistar, era possível, naqueles tempos como noutros mais escuros, escapar dos abortos clandestinos que tinham arrebatado a vida a miles de mulheres.

Logo vinherom as clínicas no país, onde descobrimos que o aborto podia ser umha pequena intervençom de ambulatório com anestesia local. As vizinhas, familiares, conhecidas... íamos quadrando na sá de espera sabendo do bom trato, da seguridade, da profissionalidade... mas também sabendo do custe econômico, que muitas mulheres podiam afrontar também, mais umha vez, coa solidariedade e apoio mútuo.

A reforma do 2009 supuxo um passo de gigante em quanto a garantias e tutelas na hora de decidir. Mas quedavam sem tocar elementos clave para assegurar que umha volta atrás fosse tam doada como a que está preparando um dos “Ministro dos obispos”, Ruiz Gallardon. Ter resoltos os problemas da objecçom de consciência, suspeitosamente maioritários nas plantas de ginecologia dos hospitais públicos, e o próprio acolhimento da prática do aborto nestas instalaçons, sem intermediaçom das clínicas privadas e polo tanto com cobertura completa e universal, houvessem amortiguado a decissom do PP em relaçom ao direito ao aborto. Todo o mais estaríamos falando, imolado no altar da crise, da sua privatizaçom.

Agora, quando as bolsas de pobreza rebentam por toda parte, quando se fai mais difícil o aceso aos serviços básicos, quando os salários, de existirem, descobrem o elevado prezo dos métodos anticonceptivos, querem que regressemos ao passado, e nós sabemos, que quando os que estám detrás dos confessionários onde se ajoelham os ministros e as ministras, falam do passado, estam-se a referir ao seu passado. Um passado onde “Red Madre” era “Maria Madre”, umha organizaçom que em Euskal Herria, SOS Bebés Robados Euskadi, denuncia por vinculaçom coa rede que traficava com bebés recém nados durante o franquismo e até mediada a década dos noventa. Pessoas que soterravam pequenos cadaleitos brancos, que agora agromam baleiros. Essas pessoas decidiam se um mulher merecia ou nom criar á criatura recém parida, ou se polo contrario deveria ser entregada a outra família afecta ao régime franquista. Alguém decidia por ela tirando um lucro. Agora, outra vez os confessionários, as redes ultra e um partido político que os representa, volvem decidir por nós, volvem julgar-nos, volvem invadir o nosso útero para expropriar-nos de nós mesmas e especular coa nossa capacidade de dar vida.

---

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Déjà vu

Quando existe a sensaçom de que umha situaçom já foi vivida, chama-se “déjà vu”, “o já vivido”. Trata-se dum fenômeno experimentado por mais do 70% da povoaçom nalgum momento da sua vida, e que agora se explica como um falho no sistema que regula a nossa memória.

Déjà vu, é o que me provocou o Ministro Wert estes dias. Déjà vu o juízo a Baltasar Garzom. Déjà vu as declaraçons do Ministro Gallardón. Déjà vu as intençons da Ministra de Sanidade. Déjà vu a celebraçom da figura de Fraga...

Memória, experiencia vivida... que se misturam estes dias provocando umha irritante e persistente náusea que busca, sem sucesso, algo físico que represente o mal, onde lançar a ágria queimaçom que deixam as injustiças.

O déjà vu provoca em muitos casos sensaçons que quedam gravadas na vida das pessoas, permanecendo na suas consciências ao longo dos anos. Ficaram logo aí as imagens da entronizaçom aos altares da figura de Fraga, cuja memoria ajudarom estes dias a perpetuar, mans que nunca deveriam alçar-se ao chamado do seu nome. Ficaram as cabeças barbeadas e o azeite de ricino que Ana Mato projecta aplicar-nos cada vez que nom queiramos emprenhar. Ficaram as letras gravadas coa navalhinha de Ruiz Galhardón na nossa fronte de “assassinas”, por querer ter direitos. Ficaram as vozes acaladas pola justiça injusta, do mundo ao revés.

E,finalmente, essas vozes recorrentes na minha cabeça, essas vozes que desde as palavras do Ministro Wert sobre Educaçom para a Cidadania, ressoam co eco do adoutrinamento da ditadura que ninguém venceu. Umhas vozes, a minha entre elas, cum jogo de mans na rúa, passando as longas tardes da infância em escala de grises que nos fixérom padecer:

El verdugo Sancho Panza,
ha matado a su mujer,
porque no le da dinero
para irse para irse al café.
En Madrid hay una casa,
en la casa una pared,
en la pared una vía,
por la vía por la vía
pasa el tren.
En el tren va una señora,
que lleva un lorito blanco,
y el lorito va diciendo
Viva Franco!
Viva Franco!
Y su mujer.

---

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Fraga fai um último serviço à direita


Fraga cubriu coa súa morte, umha última folha de serviço à dereita. À que o acompanhou ao longo de toda a súa vida, primeiro com forma de dictadura fascista, e máis tarde como forza constritora dum proceso democrático nom completado.

Fraga fai este serviço, pechando essa folha impecável que mesmo inclue responsabilidade em assassinatos, torturas, desapariçom e tráfico de pessoas... do que nunca respondeu.

Nos últimos renglons ficara escrito para sempre " e morreu coincidindo co julgamento do juiz que pretendia investigar os crimes do fascismo, actuando como um tsunami informativo".

Hoje assistimos um dia mais ao paradojo de ver a todas as instituiçons do estado, aos médios de comunicaçom, e a dirigentes políticos, alavando a quem deveria estar no banquinho dos acusados respondendo dos seus crimes. O juiz Baltasar Garzón ocupa o seu lugar por iniciativa dumha organizaçom fascista cuxas denuncias forom tomadas em conta polos tribunais. Uns tribunais que estám desoindo o chamado de Justiça, que também hoje lançavam associaçóns de familiares, vítimas dumha rede que facia desaparecer bebes desde a década dos corenta, para entregalos a famílias do Régime. Esses pequenos ataúdes baleiros, atopados hoje em Gasteiz, som o símblo do modelo democrático que se nos impuso à cidadania e aos povos. Umha democrácia baleira, de direitos roubados, de mentiras e sofrimentos. Nom vai ser com maiúsculas que a história escribirá o nome de Fraga para as novas geraçons. Hoje é a sombra dum juiz acusado de perseguir a verdade, e esses pequenos ataúdes baleiros que nos falam de vidas roubadas...E manhá, passado e mais um dia mais, serám outras sombras, outros baleiros os que seguiram denunciando e clamando Justiça polos crimes do fascismo.

---