terça-feira, dezembro 07, 2010

Estado de Alarma


Os sindicatos CCOO, UGT e USO, anunciárom a convocatoria de folgas nos aeroportos de AENA para estes dias de Natal. Mariano Rajoy e José Luis Rodríguez Zapatero anunciárom que estám em disposiçom de prorrogar o estado de alarme que conlevou a militarizaçom do tránsito aéreo. Se a alguém cum mínimo de consciência tinha algumha dúvida sobre o efeito devastador que, sobre os direitos laborais, tivo e tem o conflito que mantenhem as controladoras (um número moi importante som mulheres), e controladores aéreos, e o Ministério de Fomento, nestas próximas semanas verá a cousa com mais claridade.

O linchamento mediático de todo um colectivo de trabalhadoras e trabalhadores foi possível porque o discurso monocorde nos médios de comunicaçom ia acompassado, sem fissuras. Algo disto nos temíamos quem passeávamos com preocupaçom por umhas cidades desertas que se tingírom em bicolor quando o campeonato do Mundo deu a vitoria à equipa de Espanha. Tanta sincronia nom podia agoirar nada bo.

Se bota-se-mos umha olhada hai um ano, aos comentários que se verquiam nos médios de comunicaçom contra a folga convocada polos trabalhadores e trabalhadoras do metal em Vigo, ou pola convocada no Metro de Madrid este mesmo ano, veríamos que coincidiam letra a letra, ofensa com ofensa, cos verquidos estes dias contra este colectivo. Num medio de comunicaçom como Faro de Vigo, pedia-se que se lhes bota-se a todos ao paro, que nom volvessem trabalhar em Vigo, penas de cárcere por delinquentes... Mas a maior coincidência entre estes três colectivos ( as diferenças salariais, de condiçons de trabalho... já as conhecemos), é a vulneraçom do convenio colectivo nos três casos. É dizer, os maiores conflitos dos que tenho eu consciência nos últimos tempos, nom som por melhorar as condiçons laborais e salariais das trabalhadoras e trabalhadores, senom por manter o que se tinha até o momento, o que se tinha assinado e ganhado por convênio.

No caso das controladoras e controladores, tivérom um recorte salarial do 40% no mês de Fevereiro, e três decretos mais ao longo do ano que violavam direitos laborais básicos do Estatuto dos Trabalhadores, como é a obrigaçom que se lhes impom, via decreto, de recuperar as horas de baixa por enfermidade, por permiso maternal, lactáncia, horas sindicais, ferias... Todos estes decretos, mantinham a este colectivo num alto nível de descontento e impotência, que nom puidérom expressar na folga do 29S ao impor-lhes uns serviços mínimos do 100%. A constataçom na prática de que o direito à folga nom existe para o seu colectivo, levou-nos a um abandono massivo do posto de trabalho aludindo motivos de saúde. Desse jeito tam desesperado é que este colectivo protestava pola privatizaçom de AENA, e por umha volta de torca mais nos seus direitos laborais.

Agora virá a quenda do resto dos trabalhadores e trabalhadoras de AENA. O estado de Alarme com seguridade vai fazer cambiar muitas das vontades que pretendiam defender a titularidade pública dumha empresa que nom dá perdas. A campanha mediatica está feita, criminalizaçom sindical, da resposta obreira e linchamento de quem ouse romper a monotonia do cotidiano. Essa monotonia de quem nom se questiona o que vem de arriba, só o carga sobre o seu lombo, como se dum fenómeno natural se tratase, e a seguir!

A divida contraída coas entidades financeiras, fai que o governo, veja nas privatizaçons um jeito de encher de imediato as arcas públicas, para pagar os interesses que lhe exigem os acreedores. Estes, polo visto, nunca perdem, ainda que botem um pulso co estado. O governo está disposto a dobregar-se à chantagem dos mercados e reserva as respostas ofensivas para aqueles colectivos que ousem desafiar as suas políticas de privatizaçom e recortes sociais.

Na minha cidade os trabalhadores e trabalhadoras do Souto de Leixa levam semanas loitando contra a privatizaçom do seu centro de trabalho. Em mobilizaçom permanente, intentam consciencizar à cidadania de que os serviços públicos som o melhor garante dos nossos direitos assistenciais, sanitários e educacionais. Agora eu engadiria de serviços básicos como o transporte ou a energia. Nom tenhem convênio de grandes salários, nem som elites privilegiadas dentro da empresa pública, mas ainda assim, nom parece que sejamos conscientes de que a sua loita é a nossa, que nos jogamos muito e imos perdendo.
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domingo, dezembro 05, 2010

Privatizar o Outono


Em quanto os dias se fixérom mais curtos, os caminhos do meu bairro começárom a encher-se de cores luminosas. Amarelos, laranjas, ocres, mesmo vermelhos, saiam-me ao passo polas ruas, polos caminhos entre os parques, no passeio à beira do mar. Um mar de gente, sobre todo crianças, apanhavam castanhas nos soutos urbanos que forom consolidando-se ao longo destes anos em distintos pontos de Caranza. Carvalhos, castinheiros, marmeleiros, ameneiros, bidueiros... e mesmo algum albedro e arces japoneses, agasalham as suas melhores cores, para que vejamos nelas a luz e o consolo que um debilitado sol, e um ceo gris, dia sim e dia também, nos negam empurrando-nos cara a tristeza dumha natureza que se apaga.

Só assim, apoiadas e apoiados na contemplaçom das cores luminosas do Outono, podemos sobreviver até a chegada do solstício de inverno onde mais umha vez, a luz volverá a ganhar o dia.

É por isso, que este ano vivim com preocupaçom este Outono que chega a súa recta final. Nesta febre neoliberal com convulsons privatizadoras, suspeito que o Outono vai ser privatizado, de jeito que só um grupo privilegiado vai ter aceso a el. O Outono nas cidades nom é rendível a olhos de quem aspira a recortar gastos e vê na nossa saúde, entendida o mais globalmente possível, algo que, ou se tira negocio de-lo ou é valorado como um lastre, algo que pom freio a um crescimento inevitável, lembremos neste ponto que os cancros, os tumores, som também um crescimento desregulado das nossas células.

O Outono nas cidades precisa de coidados. As folhas tenhem que ser recolhidas para que nom tupam as sumidoiros, e para que nom produzam acidentes sobre todo entre a gente de mais idade que desfruta dos passeios. As árvores tenhem que ser coidadas, junto a todas as zonas verdes, das que o meu bairro, por sorte, conta polo de agora, de abondo. Isso se traduz em gasto para a instituiçom municipal, afogada polos obrigados recortes que nos impom o cancro que padecemos, é dizer, o medre duns mercados desregulamentados, convertidos em tumores malignos moi activos e com grande capacidade de metástase que, ameaçam, entre outras cousas seguramente mais importantes, o desfrute colectivo da maravilha outonal. O Outono significa postos de trabalho para coidar de algo que nom se valora como produtivo, e agora coa máxima de que “quem o queira que o pague”, podemos começar a ver como se substituem por cimento, ou por espécies perenes, que nada tenhem a ver coa paisagem que precisamos para fazer com cordura esta viagem de transiçom ao inverno, os nossos parques e os nossos passeios.

Privatizaram o Outono. Numha comarca onde a invasom do eucalipto nom permite vê-lo nas fragas mais achegadas, onde um monótono e sedento verde grisalho nos acompanha todo o ano. Entom, o Outono ficará nas grandes fincas privadas. E nós iremos busca-lo detrás dos feches dessas fincas, como a grande maravilha que nos será negada. E estaremos com menos saúde, com menos alegria, e nom seremos quem de ser nós, seremos irremediavelmente gente diferente.

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