sábado, fevereiro 11, 2012

A camiseta


Estes dias jogara-se a Copa de Rei. Milheiros de pessoas seguirám um partido que promete emoçom, adrenalina ou simplesmente um momento para tomar umhas cervejas coas amizades ou a família. Eu nom poderei desfrutar do partido. Nom é só porque esse deporte o sinto deturpado polas ingentes quantidades de dinheiro que move... Nem pola utilizaçom política que o Ministro Wert está dando ao deporte em geral, para alentar o revanchista, dominante e excluinte nacionalismo espanhol... Nem polo protagonismo masculino que o envolve... Nom nesta ocassom.

É pola camiseta. Essa camiseta que co tempo vai tomando forma tridimensional e me transporta a umha realidade triste, como num final de filme de ficçom com cidade em ruínas, laios e poucos superviventes. A camiseta co logo, que está em todas partes, sobre todo cobrindo o peito dos nenos, que sintem assim a pertença á sua equipa favorita. Umha camiseta que, como bom obxecto de desenho, cumpre perfeitamente o obxectivo propagandístico, inoculaçom de informaçom intencionada, para o que foi desenhada.

Fundaçom Qatar. O jeque de Qatar, monarquia absoluta, direitos políticos e direitos cidadáns negados, poligamia...nom se vota. Mas hai muito dinheiro, dinheiro do petróleo e o gas. Como para mercar nom um, se nom um milhom de equipas de futebol. Que levem o escudo da obra do jeque, esse mesmo jeque que agora está partilhando co imperio como mover ficha na guerra que lançou contra os povos árabes. Para que todo sega igual para os poderosos de Qatar, para que todo sega igual para a monarquia, e poder patrocinar, case sem dúvida, á melhor equipa de futebol do mundo.

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quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Quedara-nos Portugal?

Eram finais dos setenta, princípios dos oitenta, quando íamos exercer o nosso direito a abortar, no vizinho país. Um direito que estava negado também ali como no nosso, mas que contava cumha permissividade maior. Era custoso e perigoso. Tinhas que viajar muitos quilômetros, e na volta corrias serio perigo se algo ia mal, e se apresentava algumha complicaçom que precisara intervençom médica. Ás vezes se acudia a algumha consulta privada onde nom existiam muitas garantias. Também se podia acudir a algumhas clínicas, melhor equipadas, onde sempre encontravas gente da tua cidade, os endereços que circulavam iam sendo os mesmos. Só coa solidariedade e apoio, em médios e dinheiro para a viagem, das pessoas que acreditavam que o aborto era um direito que tínhamos que conquistar, era possível, naqueles tempos como noutros mais escuros, escapar dos abortos clandestinos que tinham arrebatado a vida a miles de mulheres.

Logo vinherom as clínicas no país, onde descobrimos que o aborto podia ser umha pequena intervençom de ambulatório com anestesia local. As vizinhas, familiares, conhecidas... íamos quadrando na sá de espera sabendo do bom trato, da seguridade, da profissionalidade... mas também sabendo do custe econômico, que muitas mulheres podiam afrontar também, mais umha vez, coa solidariedade e apoio mútuo.

A reforma do 2009 supuxo um passo de gigante em quanto a garantias e tutelas na hora de decidir. Mas quedavam sem tocar elementos clave para assegurar que umha volta atrás fosse tam doada como a que está preparando um dos “Ministro dos obispos”, Ruiz Gallardon. Ter resoltos os problemas da objecçom de consciência, suspeitosamente maioritários nas plantas de ginecologia dos hospitais públicos, e o próprio acolhimento da prática do aborto nestas instalaçons, sem intermediaçom das clínicas privadas e polo tanto com cobertura completa e universal, houvessem amortiguado a decissom do PP em relaçom ao direito ao aborto. Todo o mais estaríamos falando, imolado no altar da crise, da sua privatizaçom.

Agora, quando as bolsas de pobreza rebentam por toda parte, quando se fai mais difícil o aceso aos serviços básicos, quando os salários, de existirem, descobrem o elevado prezo dos métodos anticonceptivos, querem que regressemos ao passado, e nós sabemos, que quando os que estám detrás dos confessionários onde se ajoelham os ministros e as ministras, falam do passado, estam-se a referir ao seu passado. Um passado onde “Red Madre” era “Maria Madre”, umha organizaçom que em Euskal Herria, SOS Bebés Robados Euskadi, denuncia por vinculaçom coa rede que traficava com bebés recém nados durante o franquismo e até mediada a década dos noventa. Pessoas que soterravam pequenos cadaleitos brancos, que agora agromam baleiros. Essas pessoas decidiam se um mulher merecia ou nom criar á criatura recém parida, ou se polo contrario deveria ser entregada a outra família afecta ao régime franquista. Alguém decidia por ela tirando um lucro. Agora, outra vez os confessionários, as redes ultra e um partido político que os representa, volvem decidir por nós, volvem julgar-nos, volvem invadir o nosso útero para expropriar-nos de nós mesmas e especular coa nossa capacidade de dar vida.

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sexta-feira, fevereiro 03, 2012

Déjà vu

Quando existe a sensaçom de que umha situaçom já foi vivida, chama-se “déjà vu”, “o já vivido”. Trata-se dum fenômeno experimentado por mais do 70% da povoaçom nalgum momento da sua vida, e que agora se explica como um falho no sistema que regula a nossa memória.

Déjà vu, é o que me provocou o Ministro Wert estes dias. Déjà vu o juízo a Baltasar Garzom. Déjà vu as declaraçons do Ministro Gallardón. Déjà vu as intençons da Ministra de Sanidade. Déjà vu a celebraçom da figura de Fraga...

Memória, experiencia vivida... que se misturam estes dias provocando umha irritante e persistente náusea que busca, sem sucesso, algo físico que represente o mal, onde lançar a ágria queimaçom que deixam as injustiças.

O déjà vu provoca em muitos casos sensaçons que quedam gravadas na vida das pessoas, permanecendo na suas consciências ao longo dos anos. Ficaram logo aí as imagens da entronizaçom aos altares da figura de Fraga, cuja memoria ajudarom estes dias a perpetuar, mans que nunca deveriam alçar-se ao chamado do seu nome. Ficaram as cabeças barbeadas e o azeite de ricino que Ana Mato projecta aplicar-nos cada vez que nom queiramos emprenhar. Ficaram as letras gravadas coa navalhinha de Ruiz Galhardón na nossa fronte de “assassinas”, por querer ter direitos. Ficaram as vozes acaladas pola justiça injusta, do mundo ao revés.

E,finalmente, essas vozes recorrentes na minha cabeça, essas vozes que desde as palavras do Ministro Wert sobre Educaçom para a Cidadania, ressoam co eco do adoutrinamento da ditadura que ninguém venceu. Umhas vozes, a minha entre elas, cum jogo de mans na rúa, passando as longas tardes da infância em escala de grises que nos fixérom padecer:

El verdugo Sancho Panza,
ha matado a su mujer,
porque no le da dinero
para irse para irse al café.
En Madrid hay una casa,
en la casa una pared,
en la pared una vía,
por la vía por la vía
pasa el tren.
En el tren va una señora,
que lleva un lorito blanco,
y el lorito va diciendo
Viva Franco!
Viva Franco!
Y su mujer.

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