terça-feira, junho 26, 2012

Iria



A tarde latejava entre as vozes infantis banhando-se na contaminada praia de Caranza, e as atarefadas vozes nas juntanças que buscavam soluçons ao malgasto da praça de Espanha, e à aguardada sentença contra Reganosa. E entóm aconteceu a tua morte e todas as vozes calarom. A poucos metros de onde a policia marcava cautelosamente a mobilizaçom dos trabalhadores e trabalhadoras de SEAGA, alguém decidiu matar os teus direitos, decidiu matar a tua liberdade, decidiu matar a tua vida. E o teu sangue que corria as ruas de Narom chamou-nos mais forte que outros sangues, porque estavas tam perto..., e te sentimos indo-te entre as nossas gorxas, entre os nossos dedos impotentes.

Manhá continuará a vida nesta comarca de Trasancos, as loitas obreiras e populares seguiram no passo das ruas e no eco dos edifícios oficias. Mas nada disso foi suficiente para ti, nada disso será suficiente para pôr a salvo as nossas filhas, às nossas irmás, às nossas amigas... porque a fera machista demostrou em ti que segue viva, que se reproduze, e umha a umha segue cobrando, sem trégua, as suas vitimas.

Agora, nas beiras do Xuvia ficará para sempre marcado o lugar da tua morte, que sinala o nosso fracasso, que sinala a nossa impotência. Na Praça de San Roque o machismo ganhou-nos a batalha.

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quinta-feira, junho 21, 2012

O parto


Estes dias Yolanda Díaz, dirigente de Esquerda Unida, pronunciava umha das frases máis lúcidas que tenho lido nas últimas semanas “ Nós sós nom podemos”. Trata-se da frase que ainda parecendo que xurde da impotência ou da frustraçom, é a que tem a clave que nos pode tirar do abismo no que levamos caindo irremediavelmente, sem tam sequer chegar a albiscar o fundo.

A esquerda que aguardamos, a esquerda que poida abrir a porta para sairmo-nos fora deste sistema, a esquerda que precisamos, ainda nom viu a luz, por mais que sintamos já as contraçons do parto. Um caminho que nom vai ser doado, as organizaçons que estam chamadas à súa construçom, estám instaladas no “ Nós somos a esquerda”, ou “Nós somos o país”, ou mesmo colhem posiçons porque entendem o accionar político coma umha carreira em competiçom. Ainda fica muito autismo político entre nós.

Ainda assim, começam as ganas de empuxar, polo que cumpre levar a bo termo este parto, sabendo em primeiro lugar se a criatura está bem colocada, e ao pouco que se apalpe vera-se que nom, que polo de agora vem de nádegas.

Estamos olhando para o que deixamos atrás, para a placenta nutricia que nos alimentava até agora, e deixamos de olhar para a canle que temos que atravesar para respirar numha nova vida. Seguimos pensando que é suficiente com enumerar soluçons, alternativas, obxectivos... onde mais ou menos todo o mundo coincidimos, mas esquezendo explicar como é que imos atravesar essa canle para chegarmo-nos a esses obxectivos, a cristalizar essas alternativas, a darmo-nos soluçom aos problemas.

Nom nos decatamos que estamos na canle de parto, e nom hai volta atrás. Nada vai volver a ser igual. Se as organizaçons de esquerdas, as que dim que querem um outro sistema, tivessem a maioria nas instituiçons, que fariam co déficit? e ca débida? com que medios? com que alianzas? Hai muito para reflexionar no acontecido nos últimos días, resignaçom ante a realidade em Andalucia, e fracaso na desuniom em Grecia. Eis o que cumpre decidir, submissom ou insubmissom; confluencia e unidade ante a emergência, ou desuniom e ignorância e sálve-se quem poida. O tempo corre contra nós, mas tampouco podemos andamiar em falso. Nom som mais, mas som poderosos, nom tenhem escrúpulos e venhem a por nós.

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