domingo, dezembro 29, 2013

O Natal de Isabel


A tua era umha morte aguardada. Polo esforço colectivo por conhecer e investigar a violência machista, sabíamos que nestas datas as agressons aumentam, o risco de morte eleva-se nas estatísticas e sempre cumpre aguardar o pior.

Para alguns estamentos conhecedores desta realidade, esta informaçom lera-se com menor interesse que o aumento da velocidade do vento ou a intensidade das precipitaçons. Quando menos, ante esses adversos meteorológicos sempre estam as alertas amarelas, laranjas e vermelhas, e os Planos de Proteción Civil. A vida das mulheres tem menos valor que a dumha árvore caída na ciclogênese explosiva.

Tocou-che a ti Isabel protagonizar a lista interminável de mulheres mortas. Numhas datas onde a família e as relaçons afectivas som o epicentro das celebraçons, o conflito sem resolver derivado da organizaçom patriarcal das mesmas, nom fai máis que dar oxigeno ao lume da violência machista. Um home com quem compartiches afectos, intimidade... decidiu por ti, decidiu sobre a tua vida, decidiu por riba da tua vida. Assim, como outros homes co apoio dalgumhas mulheres, pretendem decidir por todas nós, quitando-nos por lei a soberania sobre o único território de propriedade sagrada, inviolável, que é o nosso corpo.

Mentres te arrincavam a vida, noutro extremo do país, a folga de fame dum grupo de resistência ao machismo na cidade da Corunha, mulheres de Ve-la Luz, vem mostrando durante mais de vinte dias, a hipocrisia dum poder político e judicial que esconde trás as cortinhas de fume das denuncias falsas, do Síndrome de Alineación Parental, da custodia compartida imposta... a sua misoginia, o seu medo à liberdade das mulheres e a sua resistência a entender que a desigualdade está na raiz da violência contra as mulheres que nom cessa; a sua resistência a que lhes desconstruamos este mundo injusto e violento sobre o que se mantenhem os seus privilégios.

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sexta-feira, dezembro 27, 2013

Que passa em Anova?


Numha conferencia de Jurjo Torres Santomé, o nosso especialista internacional em temas educativos, e cuidadosamente oculto e silenciado nos médios de comunicaçom nos debates sobre reformas educativas, explicava entre outras cousas, que um dos objectivos da LOMCE é formar seres humanos que acolham como naturais as políticas neoliberais e para elo precisam ter um pensamento conservador. Nesse discurso podemos atopar também umha nova leitura sobre o que está acontecendo em ANOVA.

As renuncias, individuais e colectivas, as expulsons, a intervençom de cargos nacionais para torcer o curso de assembleias soberanas... som os efeitos que saem a luz dumhas causas profundas que tenhem leituras muito mais complexas que a concorrência eleitoral, ou as relaçons coas outras organizaçons na coaliçom AGE.

Em ANOVA esta-se a dar umha batalha ideológica entre duas correntes de pensamento que defendem modelos organizativos e projetos políticos diferentes. Em ANOVA esta-se em trabalho de parto, com contraçons dorosas que acurtam o seu tempo de repetiçom e mantenhem a incognita de como será a criatura que finalmente verá a luz entre tanto feito convulso.

Em ANOVA, onde se nom?, pois foi em ANOVA onde confluírom um número significativo de activistas que vivírom os processo do Foro Social Mundial e do 15M. Em ANOVA, onde se nom?, pois foi onde atoparom acobilho sectores organizados que fuxiam dos controis sectários e de dirigismos anacrónicos. Em ANOVA, onde se nom?, pois foi em ANOVA onde se fundírom a urgência e a indignaçom vivida por centos em primeira pessoa, pola perda de direitos, os abusos, a injustiça e a desafecçom aos partidos políticos e às instituiçons, convertida no pam nosso de cada dia.

Mas também em ANOVA, estam presentes sectores que aspiram a desenvolver um proxecto político que tem como obxectivo colocar-se como força nos postos de gestióm das instituiçons para aplicar velhas políticas socialdemócratas, de orientaçom produtivista e crecentista. Acreditam que a cidadania só lhes pide soluçons para o “que hai do meu?”. Mostram umha incapacidade manifesta para analisar corretamente o momento de crise sistémica que estamos a viver, e a incompetência para apresentar-se socialmente como umha alternativa segura para supera-la. Precisam logo, que o modelo organizativo seja “o de toda a vida”, “o que se fixo sempre”, “eu já fixem mais dumha duzia de campanhas eleitorais!”, “a gente nova nom sabe como montar umha organizaçom”.

Escoitando a Jurjo Torres podíamos perguntar-nos que foi antes o ovo ou a galinha? A LOMCE pretende formar pessoas neoliberais de pensamento conservador ou a hegemonia do pensamento conservador e neoliberal é o que permite a aprovaçom da LOMCE? O pensamento conservador aplicado ao espaço político-organizativo de ANOVA esta a impedir a consolidaçom do proxecto ou é o enunciado do proxecto de ANOVA o que nom se adapta ao pensamento conservador e neoliberal hoje socialmente hegemónico?

Segundo Torres, para o ser humano neoliberal, triunfar na vida consiste em acabar cos rivais e utilizar ao resto das pessoas como mercadorias para os seus fins. É um ser competitivo, guiado por ideas mercantis, de racionalidade positiva, cumha concepçom despolitizada da racionalidade económica, empresarial, e das dimensons tecnocráticas dos processos e da sua eficacia. Asume a lógica coercitiva e violenta dos processos burocráticos neoliberais. Som personalidades autoritárias porque carecem de contidos, procedimentos e valores sociais que contemplem o bem comúm.

Segundo J. Torres, o ser humano neoliberal precisa também do ser conservador. É um sócio necessário para fortalecer o neoliberalismo. Caracteríza-se pola ausência de empatia, rege-se polo presentismo, carecendo dumha cultura relevante e crítica para situar-se no curso da história. Tem um sentido comúm limitante e medo a arriscar. Carece de imaginaçom para criar possibilidades e alternativas distintas ao sistema neoliberal.

Só desde a atividade do ser neoliberal e conservador, pode entender-se a esclerose aplicada ao nascimento de muitas assembleias, dos modelos de eleiçom, direcçom, comunicaçom, imagem pública e finanzaçom de ANOVA.

Só desde a presença deste pensamento neoliberal e conservador também no resto das organizaçons que conformam a coaliçom, pode entender-se a planificada parálise das assembleias populares de apoio a AGE, ou a obstruçom dos vasos comunicantes que permitiriam converter em organizaçom popular, a energia liberada ante a unidade conseguida no processo desencadeado ao redor das eleiçons ao parlamento galego.

Só desde a presença deste pensamento neoliberal e conservador também no resto das organizaçons da esquerda nacional, pode-se entender o reumatismo que ataca qualquer processo de achegamento, pactos, estrategias conjuntas, que apontem a processos de acumulaçom de forças rupturistas.

Fronte a este conservadorismo neoliberal instalado dentro das nossas organizaçons políticas e sociais, cumpre construir e encher de contido o pensamento democrático e o ser socialista que está chamado a protagonizar a ruptura democrática que permita um processo constituinte, onde se expresse umha nova hegemonia: a do bem comum, a da cooperaçom, a da complementariedade, a da solidariedade, com nós, cos outros povos, coas outras especies, co planeta...

Esta construçom só pode ser umha criaçom colectiva, onde xurdam novas formas de liderado. Cumpre afortalar um modelo organizativo que libere as forças atrapadas nas aranheiras conservadoras e neoliberais, um modelo de horizontalidade e transparência que faga albiscar esse novo modelo social que aspiramos e precisamos construir. Se o parto se malogra e a realidade actual de ANOVA nom o permite, outros agromos faram a encomenda por nós, porque como di o Zeca “o povo é quem mais ordena”.

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