quarta-feira, agosto 24, 2011

Som os sinos da Liberdade os que repicam em Líbia?


Quando nas escolas de Líbia, os nenos e nenas estudem que unhas potencias estrangeiras bombardearom durante case seis meses o seu país, causando miles de mortes, apoiando com armas e mercenários à  oposiçom para derrogar um governo; quando se explique que os recursos naturais, antes nacionalizados, fôrom desde aquela expoliados sem controlo por grupos de negócio pertencentes a interesses financeiros alheos, e quando se fale do empobrecimento da povoaçom que resultou desse roubo, depois de ser o país africano co maior índice de desenvolvimento humano, a nossa descendência, terá que esforçar-se para ser vista como parte da Humanidade, por essa longa lista de povos agredidos e saqueados, no nome da liberdade e da democracia.

Mas, nom seremos nós quem tenha que pedir perdom, mesmo o mundo poida que nom tenha um lugar para a nossa civilizaçom de Império, e sejamos tam só um objecto de estudo, como o som agora o império romano, ou o inca ou o austro-húngaro. Por isso, a historia dos vencidos e vencidas, a historia dos povos submetidos, carece sempre de momentos de reparaçom e perdom. Sempre é tarde, sempre é tarde para as vítimas. Ninguém poderá borrar o sofrimento polas mortes, as feridas, os exílios, causados por estes seis meses de bombardeios e intenso trafego de armas...

Estes seis meses centrárom as críticas num modelo político, o liderado por Gadafi, líder da revoluçom socialista que pujo fim à monarquia pró-ocidental, e pouco se sabia das ideias do Conselho Nacional de Transiçom. Quem nos posicionávamos radicalmente em contra da guerra, da intervençom da OTAN no conflito, ilegal e desproporcionada, tinhamos algo moi claro em quanto à categoria política dos grupos armados que estes dias tomavam Trípoli, umha oposiçom que nom tem reparo em chegar ao poder cum despregue militar imperial e hipotecando os recursos materiais (água, petróleo e gás) e financeiros do seu país.

Mas agora, um representante do Conselho Nacional de Transiçom, Magmu Jibril, até este mês de Março com responsabilidades de política econômica no regime de Gadafi e conhecido polas suas teses neoliberais, deu um discurso bastante esclarecedor dos objetivos que perseguiam, quando menos umha das partes em conflito, a restituçom das propriedades nacionalizadas que pertenciam a distintas famílias italianas e israelitas, vinculadas ao regime monárquico líbio que se instaurou por parte das potencias ganhadoras da Segunda Guerra Mundial.  Umha devoluçom que se fara sem lugar a dúvidas  a cámbio da liberalizaçom e privatizaçom das riquezas líbias, postas em bandeja para ser explotadas pola Uniom Europeia, USA e mesmo regímens da zona como Israel.

Eis as razons últimas da força militar imperial, autodenominada Comunidade Internacional; eis a diferencia entre o movimento opositor líbio, por muito que entre eles poida existir algum grupo pan-arabista e democrático, com críticas fundadas ao governo de Gadafi, e os movimentos populares de Egito, Argel, Tunicina ou o 15M. Em Líbia a bandeira da liberdade está movida polo vento do dinheiro; o ritmo dos cantos e das consignas está marcado polas bombas e os morteiros; as únicas assembleias som as reunions às que asistem as grandes potencias onde se vam decidindo dia trás dia, as sançons, as agresons, a destruiçom...

A operaçom militar resultou muito exitosa. Consolida-se logo como um precedente a nivel internacional. Abre-se a veda da caça de governos hostis ao Império. Umha chamada telefônica, um pequeno contrato de venda das riquezas do país, umha reuniom do Conselho de Seguridade da ONU..., e um grupo opositor pode ser posto no poder por este novo exército de liberaçom a conveniência, que é a OTAN. Quem será o seguinte? Venezuela? Bolivia? Ecuador?...

Na reportagem fotográfica feita depois da reuniom celebrada esta semana entre a ministra Carme Chacón e a ministra Trinidad Jimenez, havia moitos sorrisos. Nada adequado para avaliar umha guerra onde se está participando, matando, destruindo povoaçons e infraestruturas que nom lhes pertencem, ou é que tenhem saudade de quando Fernando O Católico conquistou Trípoli em 1510? Ou o sorriso é porque os interesses de REPSOL estám assegurados?  Seria este o poder co que sonhavam estas duas mulheres socialistas, democratas, e no seu momento pacifistas?  Que perverso processo pessoal anulou a sua consciência?

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sexta-feira, agosto 12, 2011

Quem expulsará aos mercaderes do templo?


O próximo 10 de setembro, a rede galega de crentes cristians, convidada pola Asociación Irimia, subirá ao Monte Xiabre de Vilagarcía. Será um dia de festa, reivindicaçom e oraçom. É a reuniom de moitas comunidades que umha vez ao ano, desde há já trinta e quatro, celebram umha intensa comunhom coa Natureza, e o sermos humanos, no que reconhecem o divino. Umha celebraçom onde o compartilhado, obra a milagre de converter em irmaos e irmas, a quem nom o som.

Por uns segundos, dias atrás, as televisons ofereciam umhas imagens, quando menos insólitas e inquietantes, da celebraçom dos funerais polas vítimas da massacre de Noruega. Insólitas porque nelas o oficio religioso estava protagonizado por um home e umha mulher, e na roupagem e nos acenos que realizavam nesses segundos nos que as cámaras enfocárom o altar, nom se percebia hierarquia entre oficiantes. Inquietantes, para algúns desde logo, porque nom se volvérom a emitir. Eis a Igreja de Noruega, que celebra desde 1993 matrimônios entre pessoas do mesmo sexo e tem a umha mulher bispa, como presidenta da sua Conferencia Episcopal.

Umhas semanas depois da celebraçom deste funeral, e umhas antes da Romaxe que levará ao Monte Xiabre às comunidades de base cristians galegas, estamos assistindo a umha demostraçom fastuosa e provocadora dum poder eclesial que busca perpetuar a sua dorosa doctrina e organizaçom social. Umha organizaçom baseada na desigualdade, ensalçadora e reprodutora do sofrimento humano e que desfruta de privilégios e status herdados de situaçons históricas que nada tenhem a ver coa democracia.

Contabilizei até seis canles de televisom que levam anunciando o evento. Conheço o palco coas suas extraordinárias dimensons. Conheço o desenho dos douscentos confessionários que se utilizaram na “Festa do perdom”, até o menú que Rouco Varela oferecerá como anfritiom a um seleto grupo, Papa incluído, de invitados. Com cada nova, o evento vai colhendo mais e mais personalidade megalômana. Cumpre lembrar que a megalomania é um estado psicopatológico caracterizado polos delírios de grandeza, poder, riqueza ou omnipotência. Trata-se dumha obsessom compulsiva por ter o controlo, pastores sobre as ovelhas.

Ás bases católicas praticantes se lhes comunicou que elas iam ser as financiadoras do projeto, coas aportaçons que significavam o acolhimento nas suas casas, de jovens, e nom tam jovens, participantes. As canles televisivas confessionais, desinformavam a respeito do dinheiro público doado generosamente em tempos de escassez, polos governos amigos, e polos governos temerosos do poder de Roma, para assegurar esse novo sentimento vitimista, que tanto rédito lhe trae ao integrismo entre as suas bases, “aos católicos se nos persegue neste pais”, “ninguém nos dá nada”, “em nenhum país passa o que passa aqui coa viagem do Papa”, “hai que pensar que é um chefe de estado e como tal tem que ser recebido”.

Assim, mentres os nenos e as nenas em Somália agonizam nos colos das suas nais e em Líbia os bombardeios diários pretendem convertê-la na nova Gaza... Mentres os anceios de liberdade e democracia abroiam em cada praça..., um grupo de homens negadores da democracia, da igualdade e da felicidade humana, faram ostentaçom do seu poder, e das suas boas relaçons cos poderosos, e verqueram sobre nós as suas ideias opressoras sobre a vida e a morte, sobre a sexualidade, sobre a convivência e os afetos... , e utilizaram todo o seu poder para impor essas ideias ao conjunto da sociedade mediante o apoio ao projeto político que lho vem assegurando ao longo de todos estes anos desde que rematou a ditadura. E o faram abençoando às suas empresas patrocinadoras, Banco de Santander, Caja Madrid, Endesa, Fomento de Construcciones y Contratas, Movistar... Mágoa do Cristo anticlerical e radical que expulsou aos mercaderes do templo!

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