terça-feira, abril 27, 2010

A guerra dos corpos

Artigo publicado na revista "Atenea" do mes de Março, editada polo Ateneo Ferrolán.
Escoitamos falar da guerra que se livra polo controlo dos recursos energéticos, a mais descarnadamente directa, que bombardeia, assassina, destrue países inteiros. Escoitamos também a diário, falar da guerra contra o terrorismo, que é a bandeira que se ondeia como escusa para desatar essas guerras de destrucçom. Mas também sabemos da que se livra polo controlo do espaço. Os satélites amoream-se porque também formam parte da guerra polo controlo da informaçom. A guerra tecnológica tem na espionagem e sabotagens, as suas melhores armas, fronte aos primeiros brotes de tecnologia conseguida baixo sistemas de criaçom livre e colectiva. Mas a guerra que se livra no corpo das mulheres, só se visibiliza nalgumha das suas expressons, e nom se analisa como um todo global que persegue, o mesmo que no caso da energia, e os recursos naturais, o controlo da potencialidade do corpo e a mente das mulheres, e o poder simbólico que ao longo dos tempos jogou para manter os poderes religiosos, políticos ou de supremacia dumhas culturas sobre outras.

A guerra nos corpos das mulheres tem umha das batalhas mais virulentas no controlo da sua capacidade reprodutora. O aborto voluntário é o cabalo de batalha dos poderes religiosos das distintas confessons, e tem no conservadorismo político o seu maior aliado. Vai associado a outros objectivos como som a capacidade de controlo por parte das mulheres da maternidade, e a potencialidade sexual e em geral, de autodeterminaçom das mulheres, extendida a todos os aspectos e momentos da sua vida. Atinge a todas as mulheres e todas som vítimas ou de criminalizaçom e repúdio social, ou de condenar-se de por vida a umha existência ajustada a normas morais que sacralizam a desigualdade, a dor e a abnegaçom de obrigado cumprimento, nom de livre eleiçom.

Esta batalha, que tivo umha primeira parte, exitosa para as mulheres em quanto abriu novos espaços de direito, na década dos setenta do século passado, revive agora em todo o planeta, também na Europa do século XXI. As mulheres que temos abortado voluntariamente, somos acusadas de assassinato desde os púlpitos, e desde os médios de comunicaçom que, faltando ao código deontológico mais básico, fam de altifalantes da Conferencia Episcopal sem, salvo contadas excepçons, colocar quando menos, ao mesmo nível a argumentaçom e a presença das defensoras dum direito fundamental como é a soberania do próprio corpo. E todo isso sem que essas acusaçons diárias de assassinato, tenham nengumha conseqüência. Só umha conjuntura política que mantém em certas estruturas do poder político a feministas, novas e velhas, falo da Ministra de Igualdade, mas também das suas assessoras, fam possível que se avance nos direitos das mulheres e das moças. Umha conjuntura que pode virar em qualquer momento.


Ainda desde sectores progressistas, como se dumha purgaçom de culpa se trata-se, dramatiza-se o aborto, falando dumha decissom difícil, de um trago amargo ao que as mulheres se tenhem que agarrar como última opçom, quando um aborto, nas primeiras semanas de gestaçom, que é no que se realizam a imensa maioria, poderia ser umha intervençom de ambulatório, sem mais trascendência. O que é um trago amargo é passar por abortos clandestinos onde as mulheres que nom perdem a vida, podem ficar com lessons para sempre. É um direito traer umha criança desejada a este mundo, e também é um direito vir a este mundo como um ser desejado, porque alguém quere dar-che a vida e comprometer-se contigo para sempre.


A ofensiva nom é exclusiva da hierarquia católica espanhola, nem sequer da hierarquia católica assentada no Estado do Vaticano. O integrismo religioso, evangelista, islámico, budista, judeu, batalha polo poder no útero das mulheres. Somos expulsadas do nosso próprio corpo, para viver para sempre baixo um poder alheo. Em EEUU mesmo se assassina a médicos que praticam abortos. Em Polónia, onde o aborto é ilegal e só se permite nuns supostos moi restritivos, umha campanha associa nestes dias, nas vaias publicitárias, o aborto com Hitler, pretendendo concienciar à povoaçom da necessidade da ilegalizaçom total. Em Nicarágua, depois de ter conseguido a lei mais avançada em América latina, no século passado, baixo o governo Sandinista, fortemente tutelado pola hierarquia católica, aprovou-se a proibiçom total. E assim em todo o planeta, alzan-se vozes em defessa dum “código genético que pode chegar a ser pessoa”, presente já no momento da fecundaçom do óvulo, mentres a Injustiça e a Desigualdade, seguem devorando seres vivos, arrincando do colo das suas nais a seres indefensos ante a guerra, a fame e a pobreza.


Outra fronte de batalha é a que condena às mulheres a ser as portadoras do símbolo cultural dos povos. As mulheres portamos a esência da cultura ou da religiom, seja nos costumes associados a momentos importantes da nossa existência, nascimento, morte, emparelhamento ... ou no nosso jeito de mostrar-nos ao mundo, bem na vestimenta ou no espaço que ocupamos, ou na nossa linguagem corporal. Muitos países que tinham esquecido o uso do velo nas mulheres, recuperam assim este costume para marcar umha diferença cultural e religiosa, em oposiçom aos símbolos ocidentais de permissividade na vestimenta das mulheres. A resistência ao Império, que invade e usurpa os seus territórios e recursos, com cruentas guerras, é expulsado do corpo das mulheres , onde se instala a esência do islamismo cultural e político, e também da identidade diferenciada das mulheres fronte a identidade das mulheres que vivem baixo os desígnios das normas imperiais.

Também, o Império, baixo a desculpa de liberar o território do corpo das mulheres, dos seus velos de opressom, justifica guerras como a de Afganistam, com extensons nom tam directas, mas sim igualmente devastadoras em Paquistam, Bangladês, Iemem, ou o mesmo Iram. Cada medida repressora ou limitadora em ocidente do uso da vestimenta simbólica, nom vai conseguir o efeito libertador que presumivelmente se persegue. Antes bem, cargara-se mais de simbolismo na medida que seja foco de atençom nas sociedades dominantes. Sociedades que, co seu poder político, militar e económico fixérom emerger, fronte a movimentos laicos e democráticos, um forte sentimento identitário que vê nos integrismos religiosos, umha resposta às agressons que padecem constantemente.

As mulheres em ocidente sofremos os nossos bombardeios mediáticos para que nos esforcemos para dar a medida do corsé que estigmatiça as enrugas, as canas, passar dos centímetros e quilos estipulados, ou ficar curta. O êxito das operaçons estéticas, a todas as idades e em todos os sectores sociais, com algumha diferencia marcada sobre todo polo poder aquisitivo, visibiliza esses outros velos, nom impostos por hierarquias religiosas ou políticas, mas sim por um patriarcado que segue a ter a vara de medir o corpo das mulheres, e a maneja, neste caso, ao ritmo que precise o mercado. Operaçons de peitos, de lábios, de nariz, liposuçons, reconstruçom de himens e na última fornada, operaçons de reducçom dos lábios da vulva.

Neste ambiente belicista, a prostituçom é a nai de todas as batalhas no corpo das mulheres. O importante nesta batalha nom é se as mulheres optam voluntariamente ou nom, a vender uns serviços sexuais, poderíamos entóm pôr fim a esta guerra simplesmente perseguindo um delito de rapto e escravitude laboral. Tampouco se trata de se com essa actividade se lucram proxenetas, ou as conexons destas redes co tráfico de armas ou estupefacientes. Sabemos de delitos contra a Humanidade de grandes Coorporaçons Económicas, ou mesmo o que supom a fabricaçom e venda de armamento. A prostituiçom, forçada ou nom, simboliza o domínio, mediante compra, dos corpos das mulheres, o afianzamento dumha sexualidade, que deita no mesmo leito a satisfacçom e livre decissom das partes (suponhendo que estas existam), coas leis do mercado, e um modelo sexual alienado coa opresom. Eis a iniciaçom sexual de miles de moços no nosso tempo. Analfabetos nas relaçons afectivo-sexuais que afiançam estereótipos machistas nos prostíbulos, onde triunfa a sua masculinidade no espelhismo do cerco e conquista facilitado polos euros.

Este ano lembramos o centenário da celebraçom do 8 de Março, como umha data de reivindicaçom dos direitos das mulheres. Volvíamos umha vez mais a vista atrás, para admirar ainda mais as loitas das mulheres sufragistas. A sua batalha foi polo direito ao voto. Por conseguir o que os nossos companheiros revolucionários franceses nos negárom na constituiçom da Primeira Repúbica de 1792. Se pensamos na batalha desatada no corpo das mulheres, temos que respirar profundamente e ser conscientes dos retos que temos por diante para conseguir a soberania sobre os nossos corpos. O feminismo que pretende transformaçons sociais de tanto calado, longe de ter conseguido avanços importantíssimos, semelha que como umha criança, só começou a dar os primeiros passos.

domingo, abril 25, 2010

Contra o fascismo sem fisuras



Acudim hoje à concentraçom convocada por umha dúzia de organizaçons baixo o lema "Pola Xustiza Universal, contra a impunidade do franquismo". Umhas mil pessoas acudírom a esta convocatória, mas eu sabia, e me doíam, as muitas ausências. O meu sindicato, CIG, e outras pessoas situadas ideologicamente à esquerda, nom acudirom, mesmo se desligárom publicamente da mesma. A figura do juíz Baltasar Garzón, prevalecia sobre outros argumentos à hora de fazê-lo. Pesou-lhes mais a imagem que da convocatória faziam os médios de comunicaçom, que repetiam e repetem que foi umha mobilizaçom em apoio ao juiz Garzón, que os comunicados emitidos polas organizaçons convocantes, antes, ou lidos nas distintas concentraçons. Pesou mais essa figura trajeada entrando e saíndo da Audiência Nacional, que os lemas das faixas que encabeçavam as distintas manifestaçons organizadas nesta jornada, dentro e fora do Estado Espanhol. A cegueira política e ética, confundiu-nos. O pulso nom se dá por saber si Garzón é condenado ou nom a avandoar a magistratura, se é culpável de prevaricaçom ou nom. Aqui do que se trata é de se os crimes do fascismo podem ser julgados ou nom.

"VERDADE, XUSTIZA E REPARACIÓN", esse foi o lema da faixa que em Ferrol, encabeçou a concentraçom da Praça de Armas. Umha faixa que as pessoas que trabalham a prol da recuperaçom da Memória Histórica, cederom para que protagonizaram o acto a familiares das vítimas da ditadura franquista em Ferrol. Alí estavam para lembrar-nos o longo caminho andado em soidade durante todos estes anos. Alí estavam para lembrar-nos que ainda hoje é um caminho proibido, silenciado, penalizado... Alí estavam para demostrar-nos que o monstruo se levanta cada vez que escoita os seus passos, as suas vozes, que sente a sua sede de justiça. Por isso, hoje, nom se lhes podia deixar sós. Porque pese ao que representa para muitos e muitas de nós a figura do juiz Garzón, ante o fascismo nom pode haver fissuras.

Quando vim o filme "El laberinto del Fauno", reconhecim as cores de muitas das passagens da minha infáncia. De nena nom entendia muitas cousas, mas havia pessoas como o avó dos meus curmáns, ou o padrinho dumha das minhas irmás, que sabia que tinham algo que os diferenciava dos demais. Andando o tempo da minha vida, enterei-me que á avoa da minha curmá, na casa onde celebráramos muitos anos o seu aniversário, no bairro de Canido, vinheram-lhe buscar ao home para matá-lo e deixaram-na soa com seis filh@s. Ela me mira ainda agora, desde as fotografias que conservo desses anos cumha imensa tristeza. Como se esse fosse o único xeito que se poidera permitir de rebeldia. Alí aparece, entre os rostros sorrintes pola festa, a sua abrumadora e interrogante tristeza. Logo conhecim à família de Amada García, e hai moi poucos anos descubrim que à nena que compartilhava comigo muitas horas de instituto, fuzilaram-lhe o avó, Mendiguchía Real. Escoitei-na reivindicar firme e afectuosamente a sua memória, num acto no peirao de Ferrol na visita do barco Idra. Comprendim que quando representávamos no instituto a obra "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry, ela já conhecia que significava a palavra Liberdade.

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quinta-feira, abril 08, 2010

Em Ferrol, como em Vigo, manifestaremo-nos em defensa da nossa saúde


O próximo domingo dia 11, às 12 do meio-dia, desde o ambulatório do centro de Ferrol, sairemos em manifestaçom defendendo a sanidade pública, proclamando a saúde como um direito, mostrando a nossa oposiçom a convertê-la num negócio. Todo isto diremos-lho a Feijóo e ao seu governo, responsáveis diretos destas políticas que perseguem tirar negócio dos serviços públicos, criados para garantir ao conjunto da populaçom os seus direitos básicos.

Imos colher o relevo da cidadania que o 25 de Março, encheu coa mesma vontade as ruas da cidade de Vigo. Desde alí venhem informaçons que falam de actuaçons dos actuais responsáveis políticos para apropriar-se de conquistas sociais que garantem a cobertura universal da atençom sanitária, para entregar-lhas aos seus amigos mercaderes das grandes corporacións. A saúde, as pensons, a educaçom, os serviços sociais ... som vistos como grandes ocassons de negócio, umha ingente quantidade de recursos económicos, que hai que retirar do controlo público para ser colocados nas ambiciosas mans dos seus negócios. Só assim se explica, como um hospital projetado para Vigo por valor de 300 milhos de euros, pasará a custar 1000 milhos ao privatizar a sua construçom e gestom. Setecentos milhos que sairám das arcas públicas para engordar benefícios privados e precarizar o trabalho do pessoal sanitário e diminuir a qualidade da assistência.

Por desgraça nom é o único. A ameaça do sistema de copago, a reduçom de pessoal, o pago de medicamentos ... está presente nos projetos da Conselharia de Sanidade, onde a secta Opus Dei ocupa importantes postos de decissom. Esta secta actua coerentemente, pois tem a crença de que as nossas enfermidades e sofrimentos, nom som algo a combater e erradicar, senom que som provas que Deus nos pom para ser merecentes da sua eternidade. Esta secta anima a oferecer os sofrimentos das pessoas enfermas a um deus, que as aceita como demostraçom de amor incondicional, de despreço pola vida na Terra e desejo de estar com ele no Ceu. Toda esta perversom e utilizaçom ao redor do sofrimento humano derivado da falta de saúde, junta-se a umha búsqueda enfermiça do poder político e económico por médios nada transparentes nem democráticos.

O domingo 11 sairemos polas ruas de Ferrol para dizer que a saúde nom é um negócio, é um direito.
Umha grande mobilizaçom cidadá pode fazer de freio a esta loucura privatizadora e concienciar à cidadania na necessidade de afastar dos centros de poder a quem nom esté em disposiçom de garantir coas suas políticas os nossos direitos fundamentais.

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