sábado, dezembro 26, 2015

Tempos de mudança

O resultado nom poderia ser outro do que foi, mas havia que intentá-lo. Nem umha melhor campanha, nem sequer um maior espaço nos médios conseguiria sustancialmente variar o que estava reflexionado e decido na vontade popular. NÓS Candidatura Galega nom conseguiu o seu objectivo de acadar representaçom.

A razom fundamental é sem dúvida a necessidade urgente dumha parte da cidadania galega de mudar as cousas. Nom querem outros 20 anos de trabalho honrado e fiel a Galiza desenvolvido polo BNG e tam repetidamente reivindicado em campanha. Ante a promessa de continuísmo, a parte mais consciente e sufrinte da sociedade galega, apostou por um cambio, apostou por umha estrategia que di que o cambio tem que ser aqui e agora. Umha estrategia à que se agarram coma um cravo ardendo para que cambie aquilo que lhes causa dor nas suas vidas: a falta de emprego; o abuso hipotecário e bancário; o trabalho escravo, o empioramento das condiçons salariais, laborais e de seguridade; a privatizaçom e recortes dos serviços públicos, sanidade, educaçom e dependência; os desafiuzamentos; a pobreza energética; ... Ante outros 20 anos intacháveis, mas ermos em quanto á capacidade para melhorar a realidade desta parte da sociedade galega, que resiste entre a precariedade e as redes familiares de apoio, o voto a En Marea, foi umha alternativa que arrinca dum desejo moi maioritário de que todo melhore, e que pare o latrocínio e a corrupçom.

En Marea conseguiu, co efeito chamada de Podemos, compactar a umha ampla maioria da esquerda social, que mágoas aparte de nom ter conseguido umha lista única, apostou polo cavalo ganhador e sobre todo, polo cavalo que claramente avançava cara adiante, “hai que atravessar a barreira de lume coma seja e quanto antes“. Nestas eleiçons, a urgência, as ganas de ganhar, de sentir-se no grupo ganhador, forom moi maioritárias. Muita gente vai seguir apostando claramente por esta estratégia para ver se se consegue, se se tumba à besta.

O sentimento nacional foi reconduzido maioritariamente cara essa estrategia, e em certa medida a existência na última hora de NÓS Candidatura Galega, facilitou maiores compromissos de carácter nacional dentro das negociaçons, agora sabemos que começadas hai um ano, onde se passou de afirmar que a criaçom dum grupo parlamentário próprio era tecnicamente impossível de conseguir, a converter-se num elo importante do discurso de En Marea ao longo da campanha, e agora, conseguida a aprovaçom de Pablo Inglesias, reconhecido como um feito histórico, independentemente dos obstáculos que vai atopar no caminho imediato: o da própria composiçom interna e os conflitos de obediência partidária que se derivam dela, e o da reaçom do próprio sistema que provavelmente vai utilizar todos as leituras possíveis do regulamento parlamentar para impedir a sua constituçom.

Quedou demostrado neste processo, que a urgência o barre todo, que os pactos entre cúpulas ou as intencionadamente sobredimensionadas diferenças que impedem unidades mais amplas, nom têm custe, quando menos para a parte que acadou representaçom, que seguem a ver as primárias abertas, e os modelos de participaçom assembleários, coma um perigo para que as pessoas elegidas polas cúpulas para levar o leme deste processo, podam acadar os postos que precisam. O único custe é para o processo em sim: a incorporaçom de NÓS e de IU às listas das coaliçons , teria conseguido um efeito multiplicador e acelerante, estaríamos diante dum resultado muito mais favorecedor para configurar no estado um governo à esquerda capaz de fazer as reformas urgentes, socialmente mais necessárias e demandadas que afetam à vida e o bem-estar de milhos de pessoas. Um cenário bem diferente para fazer valer o direito a decidir.

Ficam apenas uns meses para enfrontar umha nova contenda eleitoral, umha cita que vai estar marcada polo devenir da construçom do novo governo e pola possibilidade de ampliar ou nom as forças que se coaliguem com Podemos. Três anúncios vêm a sinalar que o caminho já encetou, ainda que é difícil saber que é o que já está pactado ou nom. Por umha parte as declaraçons de Martinho Noriega negando a sua candidatura a presidente da Xunta; por outra parte as declaraçons de Beiras que abrem essa possibilidade, quando menos para ele liderar a candidatura, e por último o anuncio dum processo de reflexom e debate que rematará numha assembleia nacional do BNG em Março.

O BNG tem por diante um caminho complicado e qualquer das decisons que tome vai ser negativa para a organizaçom, tal como está concebida até agora. É por isso que o BNG devería desbotar do debate que começa, centrar-se só nunha olhada introspectiva. As gentes do BNG, mais umha vez, devem exprimir-se ao máximo e decidir o que considerem mais positivo para os interesses da Naçom e do Povo, aqui e agora, nestes momentos que estamos a viver, onde todo cambia, e todo muda, e volve a mudar. Sería bom demonstrar à sociedade galega que NÓS, nom é só umha marca eleitoral do BNG, senom o gromo dum movimento capaz de abrir novos processo de participaçom política, um movimento que saiba construir alianças necessárias para construir as novas hegemonias onde os direitos e interesses da Galiza estejam reconhecidos.

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sábado, dezembro 19, 2015

A Contrarreforma em campanha

Era de esperar que irromperam na campanha as forças que levam botando um pulso no seio da sociedade desde que se aprovou a Lei Integral contra a Violência Machista no 2004. Um pulso que mantém o movimento feminista, entendido este em toda a sua amplitude, coa Contrarreforma que organiza ao seu redor colectivos masculinos, religiosos, do mundo judicial e político.
A violência machista segue cobrando dia a dia vidas de mulheres, e segue sendo anecdótica a compreensom da sua complexidade como expressom dum sistema social, o patriarcado, que seguimos estudando como se construiu e intentando alternativas para o deconstruir.

No médio desta realidade, a Contrarreforma instala-se no negacionismo, e fai-se acompanhar da cadena de tópicos e crenças que pretende tingir de estudos sociológicos umha realidade nom significativa, que é elevada a generalidade. Esta Contrarreforma tem, para o seu desenvolvimento viral, um corpo novo, forte e moi dinamizado mediaticamente, concretado na opçom eleitoral de Ciudadanos. A Contrarreforma tem no autoritarismo das maneiras deste partido, na leitura simplificada e uniformizada da realidade, o impulso que precisa para frear o avance social feminista destas últimas décadas. Avance ante o que o próprio PP dobrou coma um bímbio, lembremos a pressom exercida por amplos sectores sociais, liderados polo Feminismo, contra a Reforma da Lei do Aborto.

Ciudadanos pom voz no seu programa a esta Contrarreforma que se sente ameaçada polas conquistas sociais do Feminismo, num dos pontos mais concretados no médio dumha redacçom ambigua em temas fundamentais como o trabalho, a emigraçom, a educaçom... Ciudadanos é o burato de ozono que pretende colocar a Contrarreforma dentro do governo do estado, e levar a termo o que nom foi quem de fazer Ruíz Gallardón. Veremo-lo se este 20D nom som suficientes os apoios às forças de esquerda das naçons e do estado, onde as feministas levam anos fazendo labores de conscienciaçom e educaçom popular, e elaborando alternativas para deconstruir este sistema transversal que chamamos patriarcado.

O Feminismo foi umha a umha desmontando todas as lanças que desde o 2004 a Contrarreforma intentava chantar para parar a aplicaçom da Lei Integral, incluindo o recurso ante o Tribunal Constitucional. As lanças que conseguirom achegar-se mais ao seu objectivo fórom a irrupçom do SAP (Sindrome de Alineacion Parental) e da Terapia da Ameaça na prática judicial, cumha clara influência nas sentencias, e o ruxe-ruxe das denúncias falsas, que os distintos informes anuais venhem desmentindo, indicando que este tipo de denuncias som moito mais baixas que noutro tipo de delitos (estatisticamente irrelevantes). Outra ladainha forom os supostos privilégios acadados no processo de divorcio se se interpom umha destas denúncias, tristemente contestado polas próprias mulheres afetadas cumha reduçom considerável do número de denuncias interpostas, a pesar do pequeno aumento deste final de trimestre, ou co dato aterrador de que mais da metade das vitimas mortais nom tinham apresentado denúncia nengumha.

Intentando esquecer o ruido da Contrarreforma e os seus partidos-altofalantes, cumpre depois do 20-D fazer a necessária reflexom sobre a Lei, a sua aplicaçom e os seus resultados. Cumpre fazê-lo porque o número de denúncias diminuiu, analisando os datos dos ultimos anos, mas nom o delito,  porque as mulheres seguem morrendo polo feito de exercerem a sua liberdade. Cumpre fazê-lo porque os julgados específicos estám desbordados. Cumpre fazê-lo porque as novas geraçons estám repetindo estas condutas violentas e o modelo de relaçons afetivo-sexual que as sustenta e alenta.

A Contrarreforma tem um novo muro que tumbar. Umha morea de propostas que nos programas eleitorais ocupam um espaço cada vez mais prominente, o das propostas para rematar coa violência machista. Reformar a Lei para incluir todas as formas de violências contra as mulheres; aumentar a dotaçom dos Julgados Específicos; campanhas de educaçom popular; formaçom do pessoal sanitário e das forças de seguridade... e o Estatuto de Vítima de Feminicídio. Esta proposta intenta amparar também como vítimas da violência machista a aquelas crianças e a aqueles homes vítimas pola sua relaçom coa mulher sobre a que o machista quer exercer o controlo. Um Estatuto que se tem que redigir para melhorar, ao incluir a especificidade destes delitos, o Estatuto Jurídico da Vítima que entrou em vigor em setembro deste ano. Uns delitos com tanta particularidade como que case o 40% dos assassinos acabam suicidando-se.

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quarta-feira, dezembro 16, 2015

O voto decisivo

Nunca foi para mim tam difícil decidir o voto. O veram arrecendia a unidade. O optimismo prendia em muitas vontades. O outono veu murchar essas esperanças e adiantar um inverno que no meteorológico nom se deixou ver ainda. Agora cumpre decidir, arranxar o coraçom partido e situar-se, cada quem como se o seu voto fosse o decisivo.

Aí intentei colocar-me eu para saber que era o que eu devera fazer este domingo. E no impulso comunicativo, coa sua pinga de arriscado exibicionismo, que impulsa todo o que escrivo, quero argumentar o que é que vou fazer nesta cita eleitoral, das mais importantes que levo vivido.

Cumha mistura de medo e vertigem, acolhim as enquisas que asseguram o êxito da candidatura En Marea, e uns moi malos resultados para NÓS Candidatura Galega. Medo a que só umha das partes que estavam chamadas a construir um processo de unidade popular acade representaçom. Vertigem ao nom ter a seguridade de que só sejamos o ponto 277 [1] dum programa eleitoral. Vertigem ao nom reconhecer-me no país que querem construir comigo. Medo a desaparecer no médio dumha estratégia, que coa melhor das vontades, quere colocar-mo-nos como povo numha táboa de surf que nom colhe a onda que precisamos. Medo a que essa táboa nom tenha o suficiente contrapeso e acabemos afogando em mares alheios.

O êxito de En Marea está assegurado, contam coas camas elásticas das televisons e os lideres mediáticos. Mas eu quero que também todo o capital político, de resistência cultural, social e humano que representa NÓS Candidatura Galega, tenha umha parte no poder político que se reparte o domingo no Estado. Porque quero ajudar a impulsar todo o processo de transformaçom e novos liderados que conseguiu o nacionalismo de esquerdas neste país, o meu, e que nom está completado. Um cámbio na metodologia política, no discurso, nos programas e propostas, que nom esta rematado, e nom se pode frustrar. Um cambio generacional que assegura um jeito de vê-lo mundo que tem no epicentro Galiza, a vontade de ser e exercer como naçom. Umha oportunidade de desembaraçar-se de servidumes a poderes económicos, que souberom, em ocassom, mechar às estruturas e influir em estrategias que os beneficiavam.

Se hai algumha possibilidade de que Galiza conte cum grupo parlamentar próprio nas Cortes, e que exerça essas funçons, vai ser coa palanca da representaçom de NÓS Candidatura Galega. Ademais pensar que a representaçom que pudera acadar NÓS, facendo-lhe caso a algumha das enquisas, pudera ser a costa de sacarlhe diputados ao PP, também é umha morbosa e saudável motivaçom a ter em conta.

Quero ir votar o domingo como se o meu voto fosse o decisivo, o que marque que a candidatura de NÓS tenha representaçom ou nom. Por mim nom vai ser. Eu vou botar NÓS Candidatura Galega.

[1] Programa de Podemos (Punto 277 - Direito a Decidir).
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segunda-feira, novembro 30, 2015

Quando as vítimas som eles

Este ano, Sergio e Manuel, perderom a vida, em Arbo e Ponte Caldelas. Sergio estaba com Beatriz, também assassinada. Manuel aguardava a Sandra, o assassino nom a atopou e salvou-se. Os zarpazos do patriarcado quitarom-lhes a vida, vitimas do perverso amor romántico, que sementa possessom frente a liberdade, ditadura frente a eleiçom. Duas vítimas mais da violência machista a engadir à lista deste ano. Duas vítimas que nom perderom a vida polo feito de ser mulheres, mas sim polo machismo que reclama a sua propriedade, aquilo que lhe pertence absolutamente e que ninguém mais pode compartilhar.

As mortes de Sergio e Manuel estam-nos sinalando que ninguém está livre, nem os próprios homens, desta violência que estamos tardando tanto em descifrar, passo indispensável para desterra-la das nossas vidas. A lei nom as nomea, como tampouco reconhece às crianças vítimas. Nom se trata de recolher mais ou menos ajudas, de agarrar-se a essa Lei para as famílias compensar o dano feito, trata-se sobre todo, de ajudar a compreender as muitas aristas deste mortal poliedro. Umha chamada aos homes para que sejam conscientes de que a Igualdade também é para eles o paraíso a conquistar.

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segunda-feira, novembro 02, 2015

Maldit@s! (Para quem estivo e está a trabalhar para que a unidade nom seja possível)

Maldigo-vos! Por cem, por mil, polas mil primaveras que nos estades a roubar! Maldit@s! Porque era o momento, porque agora queda ver como toca a orquestra mentres o sonho feito barco se afunde... Maldit@s! Porque nas vossas decissons de mesa e taberna, estam em jogo as nossas vidas, o nosso futuro individual e colectivo. Maldit@s! Porque abristes o caminho aos lobos famentos que nos vam devorar coas suas mandíbulas neoliberais-conservadoras. Porque só numha única barca poderíamos nom naufragar na travessia. Porque o monstro tem mil cabeças e precisamos todas as espadas para vencê-lo. Porque os caminhos deveram confluir agora que temos os cantis tam à beira! Agora cada passo que nos adentra mais na pobreza, cada volta de torca que nos asfixie na falta de liberdade, cada cacho de território roubado ou deturpado, cada maleta caminho doutras terras, cada infáncia roubada, cada alegria sequestrada em cada mesa, em cada festa... será também fruito da vossa psicopatia política, que vos converte em território ermo para a empatia co sofrimento deste povo. Maldit@s!

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sexta-feira, outubro 30, 2015

O monstro

Quando moitas das tuas amizades colgavam laços violetas nas suas contas das redes sociais, escoitavamos mais umha vez os discursos sobre violência machista, animando às mulheres a denunciar, a nom aguantar... e mais umha vez equivocavam o discurso porque ti nom entravas nesse perfil de “maltratada”.

Mais umha vez Conchi [1], intentavam explicar com tópicos a realidade complexa na que se desenvolve o machismo e a sua violência que a ti, tam nova, acaba de roubar-che a vida. Essa vida que passava ante os teus olhos detrás da barra do Chirinkito na praia, onde construías os teus sonhos, o teu futuro já sem el. Chirinkito que ardia poucos dias antes de que também se queimasse em segundos o teu tempo de vida.

Ti, que colgavas no teu perfil de facebook, umhas poucas horas antes de ser assassinada, o “Manifesto para Nenas”, onde asseguravas que nom hai limites para as nossas ganas de ser livres...

E aos poucos dias, eras ti, Maria, rompendo co teu corpo o silencio no bairro do Calvário. Ti, peregrina de serviços sociais, mendicante dumha soluçom nos serviços assistenciais que agora dim que nom aceptavas ajuda, que nom aceptavas a reclusom no centro de acolhida, que nom te resignavas a abandoar a tua casa, á tua parelha enferma...

Que se saiba!, que se comece a entender, que se assuma... O machismo é um monstro de muitas cabeças, um grande monstro de mil faces, que ademais se alimenta e complementa com diferentes realidades sociais e individuais: saúde mental,  dependências,  história familiar, normas sociais e religiosas, tradiçons, inercias... mas que tem sempre um comum denominador, impedir às mulheres o exercício da sua liberdade.

[1] Conchi Reguera Peón, foi assassinada em Pontesampaio e María José Rodrígues em Vigo, outubro de 2015.

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quarta-feira, outubro 07, 2015

O armário

Olhavas aquel armário quando precisavas acobilho, quando o monstro aparecia, justo polo mesmo caminho, polos mesmos olhos, nos que noutros momentos agromava o amor, a paixom ou as migalhas de alegria. Umha alegria que axinha passou a ser só alivio, e logo, um longo e lousado silencio tenso.

Olhavas aquel armário e sentias um desejo irreparável de que te resgatasse de todo, daquela vida, dos paus, dos gritos, da vergonha... meter-te naquel armário e meter a cabeça entre as maos... e que o tempo parara, e que te deixaram em paz. Descansar, descansar até do sol, descansar del, descansar do horror...

Aquel armário nunca se abriu para ti... Nunca atopaches um armário para ti... Nem quando estiveste ante o juiz, nem quando estiveste nos médicos..., nem quando fuches ao salom a amanhar o cabelo, onde maquilharom as pegadas do monstro.

Aquel armário só se abriu para o teu corpo já sem vida, vida roubada no último arrebato da fera que bramia, polo mesmo caminho que saiam os beijos e as caricias. E ali estivo teu corpo dous dias, Silvina, naquel armário que quixo dar-te em morte o que nom te dera em vida.

Sodes moitas. Refugiadas fugindo do país do amor-trampa. Refugiadas entrando na terra do esquecimento. Sodes moitas.  Um mar de refugiadas de feridas abertas, de ossos rotos, de colos esganados, de carne desgarrada... Sodes moitas, derrotadas nesta guerra. Sodes moitas, e nom chega um só coraçom, nem partido em mil anacos, para ter-vos.

* Silvina, foi assassinada em Vigo, o 4 de outubro de 2015

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sábado, agosto 01, 2015

Para Amaia e Candela

Resistimo-nos a abrir esta porta, mas aí estades as duas, empurrando dela e olhando-nos cos olhos de perguntar. De perguntar o porquê disto, o porquê da vossa morte, e nós sem respostas para vós, só co coraçom num espanto e a gorja atragoada co sem sentido do que vos aconteceu.

Hai tanta dor acumulada na vossa pequena história... Umha historia que fala de seres atormentados, de falta de liberdade, de demasias iras e demasiados despreços. Umha história que fala de acurralamento, estigmaçom e repressom..., assim fomos construindo a nossa cultura, assim fomos construindo o mundo ao que vos trouxemos...

E toda essa ira guardada, todo esse despreço, toda essa autonegaçom... virou cara Eva, a origem, a do pecado, a da culpa, que paga por todo, que fixo que perdêramos o paraíso, e agora, mais umha vez, castigada coa morte das suas filhas, morta em vida.

De nada vos valerom as condenas da ONU, de nada vos valerom a vós todo o falado, escrito e sentenciado... Fracassamos, fracassamos todas, fracassamos todas e todos... mais umha vez os vossos olhos, os olhos de perguntar, nos deixam na mais absoluta das soidades,  no mais absoluto dos silêncios.

Manhá será um novo dia, seguiremos construindo muros de liberdade e igualdade para conter este horror, mas o vosso olhar ficará chantado nas nossas costas onde ficam para sempre as cicatrizes do nosso fracasso.

Amaia e Candela forom assassinadas em Moranha polo seu pai o 31 de Julho de 2015

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sábado, junho 27, 2015

Marea para quê?


É bem verdade que o jeito de participaçom política cambiou e ainda vai cambiar mais nos tempos acelerados que nos toca viver. Cumpre reflexionar e nom há muito tempo. Cumpre escoitar e a urgência da acçom política fai-nos mover na linha espaço-tempo, quando todo parece magma baixo os nossos pés.

Alguém me tem dito nestes días que se está a escrever pouco sobre o que hai que fazer. Pouco artigo de opiniom, pouco trabalho de reflexom compartilhado... E é de entender, pois o que era onte, hoje já nom o é, e anda todo em mudança, polo que, o que hoje se escreve, amanhá perdeu vigência.

Neste contexto hai cousas que se agradecen, como o artigo publicado em Praza Pública por Denis Fernandez, ou um recente documento sobre o proxecto estratégico de Anova, que marca algumas claves sobre esse novo jeito de participaçom. Asegura-se nesse documento que o compromisso político das maiorias sociais já nom é o gerado ao redor dunhas siglas ou dum modelo social moi elaborado e alcançável só a moi longo prazo. A cidadania está-se mobilizando, comprometendo-se na transformaçom social, em base a objectivos concretos. A confiança e a comunicaçom volvem-se ativos imprescindíveis nestes novos contextos.

Temos que cruzar o rio. O rio que nos separa da realidade que todas e todos padecemos, e chegar á outra beira, onde nos aguardam os direitos individuais e colectivos, roubados, conculcados ou nunca reconhecidos. Aí queremos pisar firme. A maioria recua ante o perigo de escorregar, isso está permitido só para as minorias apaixonadas das ideias e da açom política que nos permitimos umha e outra vez cair no rio e nos erguer. Agora, a maiores, a realidade aprema mais que nunca, e a urgência, impulsora desta possibilidade histórica de cambio, pode também atraiçoar-nos nas pedras resvaladiças.

Confiança e comunicaçom. A confiança cada dia está mais longe das forças políticas sistémicas que trapicheam cos votos e a representaçom, protagonistas de espetáculos bochornosos como os destes dias, onde com mais claridade que nunca, mostrarom as suas entranhas como o que verdadeiramente som: ninhos de poder, instrumentos para acapará-lo e exercé-lo desde umha minoria.

A confiança estase tecendo ao redor dos novos atores institucionais, que contagiam novos jeitos de fazer, e estam oxigenando a vida municipal. A confiança está viva nos movimentos sociais que dia a dia tecem redes de apoio mútuo. A confiança está nas redes familiares que, extenuadas, sustentam o dia a dia evitando o desastre humanitário de consequências imprevisíveis.

Começamos a cruzar o rio, e novembro é umha pedra mais nesta travessia sem retorno. Marea galega, para quê? Grupo Parlamentar galego, para quê? Estamos falando de objectivos políticos a curto prazo, desses que podem arrincar o compromisso político dumha maioria social que nos impulse á outra beira. Aí entra em jogo a comunicaçom. Explicar bem explicadinho para que vai servir, em que vai beneficiar e fortalecer essas redes de confiança das que falávamos.
Se nom está explicado até agora será porque quem o estám artelhando ainda se situam na porcentualidade da democracia da representaçom e a delegaçom, e nom na urgência de manter a vida, de sobreviver a este andaço de pobreza e exclusom, polo tanto na necessidade da democracia da participaçom e no espaço da ruptura para cambia-lo todo.

Comunicaçom. Expliquemos bem, logo, que a Marea Galega é a expressom genuína deste país, da vontade da maioria para unir-se. Expliquemos que a Marea Galega é a expressom máxima de generosidade por parte de quem leva toda a vida trabalhando por umha sociedade mais justa, e por quem acaba de incorporar-se á cidadania ativa. É o encontro entre diferentes que componem num caleidoscópio o prisma necessário. É a síntese possível e necessária, entre a experiencia, e a criatividade do que acaba de nascer, entre a regeneraçom do velho e o impulso do novo.

Comunicaçom. Expliquemos que essa unidade é imprescindível para estarmos todas e todos. Que o diverso nom colhe num molde rígido ou forneado noutra realidade, por moi boa vontade que se lhe reconheça ao forneiro. Expliquemos que para acometer os cámbios necessários que nos assegurem pam, trabalho, teito, saúde, educaçom, precisamos todas as mans, toda a força da Marea.

Comunicaçom. Expliquemos que nom queremos um Grupo Parlamentar Galego que se adique a impulsar iniciativas que só valham para engordar estatísticas de atividade parlamentar. Queremos um Grupo Parlamentar Galego numhas Cortes Constituintes, que seja decisório para formar o novo governo do estado, e polo tanto que nos coloque como território e identidade nacional no centro da decisom política, do processo de cambio. Um Grupo Parlamentar Galego que se alinhe coas forças rupturistas do estado para assegurarmo-nos os direitos nacionais, sociais e individuais.

Somemo-nos a esta estrategia brilhante, a esta oportunidade histórica, com generosidade, com humildade... Que nom no-lo bote a perder ninguém coas suas cozinhadas. Aqui nom sobra niguém, aqui ninguém se tem que apartar, construamos a Marea, e fagamos realidade este novo objectivo político: Grupo Parlamentar Galego de Mam Comúm.

sábado, maio 09, 2015

Mil vezes mortas! Para Isabel Fuentes

Que razom tem a tua vizinha falando na prensa de que te matou duas vezes. A tua morte, a tua trágica morte, vai envolta em celofane vermelho e nos entra polos olhos como a mais real das series televisivas. A tua morte Isabel. Ti, que só aspiravas a ser feliz, que ansiavas os momentos de tranquilidade passo a passo coa tua vizinha, confidencia a confidencia, que iam narrando unha historia, um modelo de vida e de amor que nom era o teu. Ti nom contavas nada, nem o bom nem o malo. Porque sempre hai cousas boas e malas Isabel, a vida é assim, as relaçons som assim, ... O que nom deve haver é controle, humilhaçom, tortura, submissom, maltrato... que construíam o teu silencio, o teu frio e mortal silencio. Por isso ti e mais eu sabemos que nom te matou duas vezes. Sabemos que ti, que todas vós, sodes mil vezes mortas! Mortas em vida, coa morte do silencio, coa morte do medo das noites, coa morte do medo dos dias, coa morte que impom a ira, coa morte que impom a humilhaçom, coa morte que impom a vergonha... E mil vezes mortas na morte, pola morte que impom a cumplicidade, pola morte que impom a impunidade, pola morte que impom a indiferença, pola morte que impom o machismo que se disfarça, que se agocha, que nos engana... ate que se abalança sobre algumha de nós para lançar-nos a um caminho sem retorno, onde conformades umha estela de dor, que parece aumentar ate o infinito.

domingo, fevereiro 15, 2015

Aspaneps, por quê nos quedamos aí?


Estes dias saiam em prensa novas relacionadas coa entidade que xestiona a saúde mental da nossa infáncia nas comarcas de Eume, Ortegal e Ferrolterra. Umha entidade sem ánimo de lucro, que nasceu pola iniciativa das famílias que nos anos 80 começarom a reivindicar umha saída diferente á problemática educativa e psicológica das suas crianças. Passarom logo mais de tres décadas sem conseguir que essa atençom á saúde mental infantil, fosse assimilada polo sistema público de saúde.

Ao melhor é que nem o intentamos... Houvo oportunidades políticas de que umha cousa tam importante como é a saúde das nenas e nenos nom dependera dunha iniciativa privada, isso sim, sem ánimo de lucro, mas privada na gestom, contrataçom..., e preferimos, mais umha vez, deixar que a infancia mais vulnerável nom seja o epicentro das políticas públicas. Assim temos nestes momentos a saúde dos nossos nenos e nenas, pendente dum convenio ou dunhas ajudas...

O caso de Aspaneps nom é único na nossa cidade, nem tampouco o de Aspanaes. Se seguimos o rastro a menores em risco, que passarom a ser tutelados pola administraçom, temos a entidades religiosas ou associaçons que regentam centros privados, onde se derivam a estes menores e estas menores, via convênios. E nom podemos esquecer o feche dos dous centros públicos emblemáticos na nossa cidade, “Virgen del Carmen” e “Soutomaior”, e posterior privatizaçom dos serviços que prestavam, para passar a mans da “Fundación Camiña”, que regenta também o Punto de Encontro da nossa cidade. Nom devemos esquecer tampouco, a privatizaçom do centro “Souto de Leixa”, em mans de Clece
, pertencente á multinacional ACS de Florentino Pérez, que arrastra desde a sua privatizaçom umha estela de conflitividade e precarizaçom do serviço, como denunciam repetidamente as famílias.

O dinheiro público, e o que é mais importante, a responsabilidade social, de todas e todos, no coidado da infáncia, na custodia da sua integridade, segue em mans privadas. Realmente apenas a abandoou desde o franquismo, como se o coidado da infancia, se reduzira ao ámbito privado ou assistencial da beneficência ou caridade.

As associaçons que acolhem à infáncia em situaçom de risco social e familiar, derivam também a matricula escolar a centros religiosos, Cristo Rey, Compañía de María, Tirso de Molina. Salvo no caso da  Asociación Dignidad, de confessom evangélica, que deriva a matrícula a centros públicos por razons obvias. Eis o circulo pechado que gestiona os direitos da infáncia e o investimento público.

Por isso nom deixa de chamar a atençom que as organizaçons e partidos que defendem a sanidade pública, os serviços públicos, fiquem ai, numha simple reclamaçom de melhora dum convênio ou subsídios, na vez de reclamar que todo o que tem a ver coa saúde, maiormente da infáncia; todo o que tem a ver coa custodia, coidado, defesa dos direitos e interesse das menores e dos menores... fique a salvo da gestom privada e da provisionalidade dos convénios.

Questom a parte som os direitos laborais adquiridos polas trabalhadoras e trabalhadores destes centros, que num processo de recuperaçom para o sistema público, sempre haverá que respeitar. Luitar, reivindicar e conseguir o poder político suficiente para a recuperaçom destes serviços públicos vinculados aos direitos da infáncia e o direito universal à saúde, leva associado também a qualidade e a seguridade no emprego.
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