terça-feira, setembro 17, 2013

O epitáfio de Fátima


Moitos, 19 anos som muitos. Coas suas primaveras e os seus invernos, cos seus dias e as suas noites. Moitos. Mas ti Fátima, viviches esses 19 anos de terror. Viviches morta em vida. Morta polo medo. Morta polos golpes, as humilhaçons... que el infringia também aos teus filhos e á tua filha. Em 19 anos, a tua vontade estaria quebrada, a tua capacidade de resposta mermada, e tam só querias pensar que a diferença de idade faria a justiça que vias inalcançável para ti. El, com seguridade morreria antes e poderias descansar. Agosto, neste agosto luminoso que vivemos, decidiches começar a viver. Umha denuncia, umha orde de afastamento, trás umha terrível malheira, e a enterrar esses 19 anos para sempre. Nom sabias que a tua nova vida só precisaria dum pequeno reloxo de areia para ser medida. Agora venhem as perguntas, agora a vontade para atopar as respostas... Por que o teu torturador durante 19 anos permaneceu impune? Por que se a denuncia foi posterior a umha brutal paliza gozava de liberdade? Por que uns menores vivem durante anos umha situaçom de maltrato sem que a sociedade active mecanismos de denuncia e proteçom? Por que ninguém te indicou o risco que corrias volvendo à casa onde o teu assassino rondava? Fátima, som moitas perguntas que fazer e moitas respostas que buscar, mas a tua pequena vida, depois de 19 anos de morta em vida, nom pode levar como epitáfio os titulares dos médios de comunicaçom onde parece que todo sucedeu por despiste, por abandono... porque, segundo o teu alcalde, nom avisaches no Concelho de Verim que volvias. O epitáfio da tua pequena vida deve ser “umha mulher valente, que se rebelou contra o machismo buscando conquistar a sua liberdade”. Para ti Fátima, e para todas as combatentes caídas na luita contra o patriarcado o nosso reconhecimento e a nossa memoria para sempre.

Imaxe de Javier Calvo, "El reloj de arena"

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terça-feira, setembro 10, 2013

Companheiras adeus!


Pecharom a minha rua. Os sinais e as barreiras cortam a Avenida do Mar em Caranza. O passeio segue acolhendo os passos de moita gente que busca neste caminho a paisagem, a tranquilidade, a brisa e também as sombras dos prádios que abeiram longos tramos deste caminho ao pé da Ria. Umha ria castigada durante tantos anos pola inconsciência das administraçons e a falta de compromisso da cidadania para preservar e defender o território que habita.

Manhá começa a desfeita. Um bom número dessas companheiras de passeio vam ser sacrificadas para a construçom dum tanque de tormentas. Umha obra obsoleta, que em pouco tempo quedará fora da legislaçom europeia. Europa vai proibir este tipo de saneamento que mistura augas pluviais com augas residuais.

Estas companheiras nada podem aguardar das instituiçons que apuram estas obras num caminho cara nengures para encher este bairro de infraestruturas fantasmas, inecessárias, perigosas ou obsoletas (depósito de propano, linhas aéreas de alta tensom, auditório municipal, “tanques de tormentas”, ...). Tampouco podem aguardar nada dumha associaçom vizinhal, a AAVV de Caranza, que devera representar os interesses do bairro, incluindo vizinhos e vizinhas e defensa do território, totalmente alinhada coas decisons das instituçons que promovem este modelo irracional e destrutivo para o território. E nós, o resto de habitantes deste bairro, também daremos as costas, nem estamos nem se nos aguarda.

Só quedaram as perguntas das crianças. Ante os seus olhos as árvores derribadas. E nós que nom poderemos dizer que foi para beneficio da Ria, que foi para benefício da comunidade..., só poderemos explicar e escusar-nos “fam-no para ganhar dinheiro, e nom pudemos fazer nada”.

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quinta-feira, setembro 05, 2013

Para Elisa

Os cans ladravam hoje quando mais de mil dos teus vizinhos e vizinhas achegaram-se ao lugar onde te atoparom. Á beira da estrada, a poucos metros dunha das casas que a salpicam. As lágrimas apareciam nos rostros mais afetados, silêncios e flores. E logo os comentários... A gente de idade lembrava o antigo assassinato dumha rapaza de 14 anos numha das parroquias limítrofes. Asfixiou-na um cura coa correia da moto, também mentres caminhava. E o assassinato de Vanesa Lorente, mais recente, nun concelho vizinho. A noite ia fazendo mais grises os verdes dos caminhos e miles de sombras abrirom pouco a pouco as poutas do medo.

Elisa, matarom-te quando os teus pés tomavam o caminho, possuindo o território que ti tam bém conhecias nos teus longos passeios. Elisa, matarom-te porque alguém quixo caçar e vencer o teu jeito áxil de estar no mundo. Elisa, matarom-te, e no momento da túa morte, umha rede mesta de medo e impotência abatiu a liberdade das mulheres que em Cabanas, A Capela e Fene compartilhavam os teus caminhos, corredoiras e rueiros. Elisa, matarom-te e as duvidas e a incerteza méterom-se nos zapatos de todas nós. Por ti, por todas, sacaremos a força para volver a sentir os nossos passos ligeiros, livres das gadoupas do medo, livres dos grilhetes do machismo assassino.

Para Elisa Abruñedo, assassinada no concelho de Cabanas.

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