sexta-feira, maio 16, 2008

Hoje fum ao sindicato



Estivem nos locais comarcais da CIG da Avda de Esteiro de Ferrol. Fum até ali ao conhecer que a empresa ESHOR, ia intentar outra vez entrar nos locais do sindicato, para arrincar umha retificaçom das declaraçons realizadas numha rolda de imprensa, presidida polo Secretario Comarcal Xosé Manuel Pintos, onde se denunciava um trato escravista para com as trabalhadoras e trabalhadores imigrantes.

Cheguei a ver dous autocarros que transportárom até Ferrol a umhas 100 pessoas, a maioria, polo seu aspecto, peruanos, equatorianos... Diziam que vinham de Madrid, aproveitando o festivo de Sam Isidro. Comezárom a rodear os locais, os de diante com muita força berrando "Pintos mentiroso" termando dumha faixa em galego onde solicitavam à CIG que nom os defendera. Atrás, silencio e passividade. Havia umhas sete mulheres, a mais activa a Chefa de Pessoal, que agarrava também umha faixa. A consigna máis coreada Viva ESHOR! Viva ESHOR! Os ovos que traiam para lançar quedárom esmagados entre os A3 que ficárom no cham. Algumha discussom, berros...

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Umha barreira de homens e mulheres da afiliaçom da CIG, aguardavam, junto a duas dotaçons policiais, nas portas do sindicato mostrando algumhas das diferentes fazes que componhem a actividade sindical na comarca.
Dentro da sede comarcal, os comentários iam e vinham. A Direçom estivo reunida no salom de atos, e a normalidade mantinha-se como se podia.
Alguns trabalhadores de ESHOR argumentavam no meio do rebumbio, que eles estavam ali porque por culpa da CIG a empresa estava perdendo contratos. Aqui do que se trata é que empresas como ESHOR desapareçam do sector da costruçom. Empresas que competem deslealmente conseguindo ofertar uns custes mais baixos, mantendo condiçons laborais de escravitude.
Som case 500 as baixas voluntárias na empresa desde hai ano e medio. Parece ser que já as assinam junto co contrato, coa data em branco. Mas tudo isso e muito mais, sairá no juiço que a empresa tem que enfrontar o próximo dia 10 de Junho.De todo isto , para mim nom é nada especialmente salientável. Ao fim, centos de trabalhadores e trabalhadoras que passarom por ESHOR, as suas famílias, amistades... conhecem a verdade e assim se clarificará no julgado, ainda que isso nom seja exatamente fazer justiça.
Mas o verdadeiramente salientável é a agressom e violentaçom da liberdade sindical. O feito sem precedentes da mobilizaçom dumha empresa, que acarretando a uns trabalhadores e a algumha trabalhadora às portas do sindicato, pretende pôr atrancos à acçom sindical, porque esse é o papel que lhe corresponde aos sindicatos, denunciar as irregularidades, denunciar os abusos, denunciar a explotaçom, às empresas piratas e escravistas que fam o seu lucro a base do tráfico de seres humanos.Os julgados, as inspeçons de trabalho, SMAC, o Conselho Galego de Relaçons Laborais... atúam para resolver os conflitos e as denúncias apresentadas e mediar ante a acçom sindical. Assim se vai avançando, ou retrocedendo, em direitos e seguridade no trabalho.
A CIG é um sindicato formado, na comarca, por mais de 8000 pessoas. Dentro da CIG confluem muitas correntes sindicais, e também distintos interesses partidários ou de grupos de poder. À hora de elaborar estratégias de acçom sindical, pode haver diferencias, mesmo choques ou reinos de taifas entre federaçons ou organismos. O que nom sabe quem pretende amordaçar à CIG, que existe a solidariedade obreira, que existe a consciência sindical, que essa consciência e essa história do movimento sindical na nossa comarca, é quem de romper sectarismos e interesses pessoais para criar a barreira que defenda a organizaçom imprescindível da classe trabalhadora. Todo isto seja qual sejam as siglas, seja qual seja o nome das pessoas que num momento determinado a dirijam. É o sindicato, aquilo que temos para defender os nossos direitos, e que está aberto também para a defesa dos direitos daqueles companheiros e companheiras, que traem a pel mais escura, os rasgos dos olhos também diferentes, que sentem mais frio que nós quando chove dous dias seguidos, e a quem a morrinha fai-lhes de companhia porque nom vem muito o sol por aqui.
Gostaria-me que desde a direçom da CIG, e desde as direçons de todos os sindicatos, se propusera umha mobilizaçom do movimento obreiro em Ferrol, para reafirmar a inviolabilidade dos direitos sindicais, e a necessidade dos sindicatos como garantes dumha sociedade democrática.

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quarta-feira, maio 14, 2008

Rendistas


A minha irmá enviou-me esta foto num correio. O cartaz resume, num tom irónico, seguramente sem vontade de faze-lo, qual é a situaçom dos locais que albergam pequenos negócios na cidade de Ferrol. Os rendistas desta cidade som os que fam o agosto. Sabem que onde se aluga, ao pouco se fecha. Neste tempo é difícil competir coas grandes superfícies. Mas nom é problema, onde se fecha ao pouco se aluga, sempre hai alguém que o vai intentar, ainda que desista aos poucos meses. Mentres, os alugueres de escândalo vam enchendo as suas bolsas. Nom podemos esquecer o pequeno detalhe de que em muitas ocassons estes locais nom estam dados de alta ou carecem do estudo de seguridade, ou proxecto técnico correspondente, é dizer, pouca inversom, todo ganho. Concluindo, algum dia alguém escribirá a história dos rendistas de Ferrol, esses ferroláns de pro, e também algumha ferrolá, que coa sua avaricia asfixiarom muito do futuro desta cidade envelhecida.

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A fantasma do patriarcado

Hoje umha nena de 4 anos informou a toda a aula que a sua madrinha dixera que era a moda das pulseiras. A mestra perguntou-lhe que era isso da moda. Muitas fôrom as vozes que voluntariamente explicavam ao grupo que a moda era levar pulseiras, até se dixo que a moda era desfilar coas pulseiras. Entom, no meio das explicaçons, um neno de cinco anos afirmou "a moda é levar as pulseiras para estar guapas e casar". Quando a mestra lhe perguntou se também se levavam pulseiras para estar guapo e casar, o neno dixo que nom, que isso era só cousa de rapazas.

Abriu-se todo um coro de apoio a essa crença tam rotundamente afirmada. Só quando a mestra começou a perguntar se conheciam a algum homem ou rapaz que levase pulseira, comezou a nomear-se a algúm pai, tio ou curmám. Deixo aqui o relato. Deixo neste ponto esta assembléia de pequenos e pequenas. Agora perguntemo-nos como é possível, que estas crenças que mantenhem desigualdades, podam estar tam presentes nestas idades tam temperas. Queria trazer a estas linhas um pequeno exemplo da presença do patriarcado no pensamento das crianças. Um patriarcado que para muita gente nom existe. É certo que pode ser invisível, ou aparecer em pequenas cousas como as que vos acabamos de relatar, mas é o mesmo patriarcado que levou a vida estes dias, de duas mulheres assassinadas em menos de 12 horas polas suas parelhas. Som partes dum todo. Por isso existe e trabalha o feminismo, por isso o esforço em associaçons, movimentos... Levamos dous séculos fazendo reunions, mobilizaçons, escrevendo livros... para destruir a fantasma do patriarcado. Umha fantasma que pode acabar coa vida dumha mulher ou filtrar-se na mente dumha criança.
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segunda-feira, maio 12, 2008

Quê fai o poder na tua mesa?

Na década dos 80, Josep Vicent Marques publicava um livro titulado "Quê fai o poder na tua cama?", a onda feminista que arrancou na década dos 70, falava de que o privado era público, e começou a bucear na sexualidade feminina para, em primeiro lugar denunciar a sua existência, negada tanto por científicos como por filósofos e teólogos; em segundo lugar anunciar aos quatro ventos a potência da sexualidade feminina, umha sexualidade nom dependente nem passiva, e em terceiro lugar para separa-la definitivamente da maternidade.

Vicent Marques perguntava Quê fai o poder na tua cama?. Agora queremos perguntar-nos "Quê fai o poder na tua mesa?" e quem di na mesa di na cozinha, di na cesta da compra. As feministas sabíamos que as mulheres no planeta desenvolvemos o 70% do trabalho mas só possuirmos o 1% da propriedade da terra. Somos maioria na produçom de alimentos agrícolas e gandeiros, e somos maioria na elaboraçom desses alimentos, segundo a agencia para a alimentaçom das Naçons Unidas essa porcentagem chega ao 70% nos países empobrecidos.

Desde há uns anos as organizaçons campesinas do mundo estam organizando-se em redes trabalhando por um direito que asseguram é fundamental para a sobrevivência dos povos e do planeta: a soberania alimentaria.

As labregas feministas estam aportando novas reflexons e campos de acçom ao feminismo, nesta ocassom nom só reivindicando o espaço rural e a agricultura como um modo de vida das mulheres onde devem ter assegurados os seus direitos como trabalhadoras e como mulheres, senom empoderando a todas as mulheres como elaboradoras de alimentos para cambiar modelos patriarcais e capitalistas que afetam à saúde das pessoas e do planeta.planeta.Pruduzir alimentos, para consumilos tendo em conta a cultura das comunidades, e nom aceitar pasivamente novos hábitos de alimentaçom mediatizados pola publicidade e as decisons econômicas da Organizaçom Mundial do Comércio e as multinacionais; consumir os alimentos locais, apoiando as agriculturas de proximidade, aforrando a energia do transporte e conservaçom dos alimentos que vam dum continente a outro; nom aceitar alimentos produzidos em monocultivos de grandes terratenentes que nom duvidam em utilizar a repressom contra as comunidades que desenvolvem agriculturas locais nesses países; desbotar o usos de pesticidas e demais produtos que ameaçam a nossa saúde e à da terra; dar-lhe as costas aos alimentos transgênicos... som muitos os princípios que construem o direito à soberania alimentaria. A urgência da crise humanitária que está cruzando o planeta, concretada na subida dos prezos dos alimentos básicos, nos está exigindo olhar às labregas feministas e às suas organizaçons, para poder levar adiante um cambio tam profundo como necessário e urgente: o jeito de produzir e consumir os alimentos, garantindo os direitos das mulheres campesinas e assumindo e pondo em prática as suas alternativas.

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domingo, maio 11, 2008

Maio de Romeo e Julieta

Susana Barrul Salazar, tirou-se a noite do 25 de Abril à Ria de Ferrol, desde a ponte das Pias. Tinha 17 anos e ninguém poido salvar-lhe a vida, sucedia na nossa cidade, em Ferrol. A rapaza vivia em Caranza coa sua nai. Nem os medios de salvamento despregados imediatamente na zona, e que despertárom ou mantiverom em alerta a todo o vecindário de Caranza, fórom quem de atopa-la até o dia seguinte, quando recuperárom o seu cadáver. Os meios de comunicaçom refletírom a noticia, todos os jornais, televissons, rádios... reflectiam a nova. O que nom transcendeu foi a morte, uns dias depois do seu mozo, de 18 anos, por sobre dose de barbitúricos. Esta nova só circulou polo bairro, nas conversas mais íntimas, apareceu também nas sempre bem informadas esquelas. As conversas iam acompanhadas da explicaçom do inexplicável, a rapaza discutia coa sua nai porque nom a deixava relacionarse co seu mozo. O mozo quitou-se a vida ao enteirar-se da morte de Susana. Romeo e Julieta em Caranza, numha nova representaçom do assassino chamado "amor romântico", e da intransigência social ante o comportamento afetivo-sexual das e dos adolescentes.

Nunca! nunca perdoaremos o sofrimento e a dor causada polas ideologias políticas, religiosas ou culturais, que mantenhem o amor e o sexo mutilado das alas da liberdade que lhe som próprias. Para Susana, e para o seu moço, as nossas disculpas, por nom chegar a tempo às suas vidas, polas vezes que calamos ante actitudes machistas e sexistas, que negam a necesidade da educaçom afectivo-sexual no curriculum escolar e seguem a manter, dentro das escolas umha formaçom religiosa onde contam que Adam e Eva fórom expulsados do paraíso por comer da fruta proibida.

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