domingo, julho 20, 2008

O mercado de Caranza fecha


Coa frase "O privado é político" aprendimos que o que sucede na casa e sobre todo o que sucede na cama tem muito que ver coa construçom social e moral. A crença de que cada quem faz o que quere na sua casa, é isso, só umha crença, porque as normas tecidas socialmente que levárom, e seguem levando em muita medida, discriminaçom e desigualdade entre os seus nos, marcam o dia a dia dos nossos afectos, da nossa sexualidade e a organizaçom do nosso espaço e do nosso tempo no privado. Eis o trabalho de desfazer esses nos, alguns deles muito resistentes.

Agora estamos aprendendo que nas nossas cozinhas, ademais de compartir o trabalho, temos a enorme tarefa de construir umha relaçom diferente cos alimentos, porque "o que comemos é político", e as mulheres, que somos maioria na produçom e elaboraçom dos alimentos, temos nas nossas mans a ferramenta para expulsar a enfermiça ambiçom capitalista das nossas cozinhas e das nossas mesas.

A derrota do proxecto de lei da equipa de Cristina Fernández, Presidenta de Argentina, mais corretamente expressado, a derrota dos movimentos populares e de esquerdas para pôr um freio à exportaçom de grao por parte das multinacionais, num país deficitário em alimentos, é umha mala nova. É umha mostra mais do aviso continuado da presença do capital financeiro na alimentaçom. Por extensom, da presença dos especuladores, da gente sem escrúpulos e sem ética, com essa compulsom enfermiza de ganhar dinheiro, ainda que seja a conta da desgraça alhea, e que hoje representam a maioria da actividade económica mundial. Os alimentos estam-se convertendo cada vez mais no refúgio da inversom financeira, e sabemos que sem crise sem que se desequilibre a oferta e a demanda, sem picos nos preços e desestabilizaçom dos mercados, os tiburons nom comem, nom hai benefício financeiro. Aninharom no petróleo, logo na vivenda e agora na comida e na auga.

A Via Campesina, que reúne movimentos agrários de todo o mundo, fala da Soberania Alimentaria como soluçom ao desequilíbrio existente no planeta entre a produçom e a demanda de alimentos. As mulheres de Via Campesina falam de aceso à propriedade da terra, e melhora das condiçons de trabalho e de vida. Falam de agricultura que nom as intoxique nem a elas nem às suas famílias, nem à gente que consuma os seus produtos. Falam de ter presença nos organismos de decisom, que se tire das maus da Organizaçom Mundial do Comércio o poder de decidir sobre as políticas agrárias. Falam de priorizar a produçom e a distribuçom em mercados locais e um mercado mundial com relaçons de igualdade, afastado da especulaçom. Falam dum processo de empoderamento das mulheres do campo e um processo de respeito e cooperaçom mútua na relaçom coa terra da que vivemos.

Imos avançando na participaçom na vida pública, avançando em direitos sexuais e reprodutivos, sendo reconhecidas como cidadás de pleno direito, esta-se a escrever a nossa história e abriu-se o campo da investigaçom científica para nós. É hora de democratizar a economia, porque só numha atividade económica democratizada, longe da ditadura do capital, poderemos ter igualdade.

Em quanto todas estas forças se debatem no mundo, e também na Galiza, no meu bairro de Caranza vai fechar o mercado para abrir um centro comercial. O mercado no meu bairro, foi esmorecendo na medida que iam medrando os grandes Hipermercados internacionais e iam esmorecendo as pequenas explotaçons agrárias em Ferrol Terra, onde a gente, consciente ou nom, meteu eucalipto até a mesma porta da casa, e nom houvo quem recolhesse os conhecimentos agrários imprescindíveis para seguir alimentando a umha comarca que agora come kiwi de Nova Zelanda ou Chile no mês de Julho, ou amorodos argentinos no mês de Dezembro; umha comarca que está afeita, e nom passa nada, a que de súpeto todo o azeite de girassol se retire dos supermercados por estar contaminado e outro dia faltem produtos básicos pola folga do transporte; umha comarca que já está afeita a que os ovos som de cor pálida e os pólos tenhem a auga e a textura das sardinhas. Sim, sardinhas ainda hai, mas competem e muito cos peixes importados e os medicalizados das piscifactorias.

A política do Mercado e do Imperio está nas nossas cozinhas e nas nossas mesas. Precisamos umha resposta política. Precisamos Soberania Alimentaria.

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