sábado, agosto 01, 2015

Para Amaia e Candela

Resistimo-nos a abrir esta porta, mas aí estades as duas, empurrando dela e olhando-nos cos olhos de perguntar. De perguntar o porquê disto, o porquê da vossa morte, e nós sem respostas para vós, só co coraçom num espanto e a gorja atragoada co sem sentido do que vos aconteceu.

Hai tanta dor acumulada na vossa pequena história... Umha historia que fala de seres atormentados, de falta de liberdade, de demasias iras e demasiados despreços. Umha história que fala de acurralamento, estigmaçom e repressom..., assim fomos construindo a nossa cultura, assim fomos construindo o mundo ao que vos trouxemos...

E toda essa ira guardada, todo esse despreço, toda essa autonegaçom... virou cara Eva, a origem, a do pecado, a da culpa, que paga por todo, que fixo que perdêramos o paraíso, e agora, mais umha vez, castigada coa morte das suas filhas, morta em vida.

De nada vos valerom as condenas da ONU, de nada vos valerom a vós todo o falado, escrito e sentenciado... Fracassamos, fracassamos todas, fracassamos todas e todos... mais umha vez os vossos olhos, os olhos de perguntar, nos deixam na mais absoluta das soidades,  no mais absoluto dos silêncios.

Manhá será um novo dia, seguiremos construindo muros de liberdade e igualdade para conter este horror, mas o vosso olhar ficará chantado nas nossas costas onde ficam para sempre as cicatrizes do nosso fracasso.

Amaia e Candela forom assassinadas em Moranha polo seu pai o 31 de Julho de 2015

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