quarta-feira, julho 29, 2009

Dentro do tanque


Aquela mulher nova, ainda enroibava explicando aquela história no asteleiro. Nom por vergonha, senom pola raiba que ainda estava empousada nela desde aquela.

"Fixerom-me baixar dentro do tanque do barco eu sóa, tinha que o limpar e pintar". Para explicar o perímetro do furado de entrada, unia as maos fazendo umha brazada, que componhia um pequeno círculo, do tamanho por onde ela tivera o acesso ao interior. Com certo alívio, sinalava que se tratava dum tanque que contivera água, e que tinha o autocolante de segurança no exterior conforme tinha passadas as leituras de gases.

"Eu sabia que era ilegal, que nom pode baixar umha pessoa sóa. A de segurança nom dixo nada, o de Navantia, que agora estam mirando o que fazemos nas auxiliares, também nom dixo nada, e baixei".

A mulher ia descrevendo o interior do tanque cheio de ferros, e cada um dos perigos que lhe forom passando pola cabeça aquela comprida jornada de trabalho. "Chorei, chorei muito dentro do tanque, porque sábia que se me passava algo, nom haveria ninguém para ajudar-me. Pensava no meu filho. Hai mala gente, porque nom é normal que os companheiros nom digam nada. Logo para rematar de pintar a escada ao tempo que saía do tanque, nom sábia como fazê-lo, colguei-me cabeça abaixo e fixem como puidem. Nom fum perguntar porque se vem que nom me atrevo a baixar ou que nom sei fazer algo me botam".

Describia, como se dum livro de Carlos Robira se trata-se, todas as estratégias que utilizou para carregar a sua mente de pensamentos positivos, que lhe ajudarom a superar aqueles dois primeiros meses de trabalho, que contados assim, coa intensidade e afectaçom com que o fazia, nom dava lugar a pensar que o tempo separava já com dous anos, os feitos da narraçom.

Sentados cos seus elegantes trajes aparecerom entom no Telexornal, os representantes da CEOE para explicar que siguem interessados no diálogo social, sem concretizar o que pidem. Umha tímida ráfaga do ministro de trabalho que vem dizer que a vida segue ainda que nom haja acordos, e umha implacável Maria Dolores de Cospedal, junto a umhas ameazantes siglas do PP, acusando a Zapatero de autoritarismo. Eis toda a explicaçom da televisom pública de Galiza. As cámaras nom entram polo diámetro do tanque. Só podem filmar ao metal polas ruas de Vigo, disque paralisando a vida cidadá. Sei que ali, em Vigo, nom hai mala gente. Nom miram cada quem para o seu. Assim era também nos asteleiros desta ria até que alguém os enfeitiçou.

In memorian
  • Ana Belén Paz Vilariño
  • Eduardo González Val
  • Juan Carlos del Real Gamundi
  • José Luis Veiga Infante
Navantia: 11 de Maio de 2005 - Para non esquecer

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