segunda-feira, setembro 16, 2019

De liberdade de opiniom e de opressom


No aeroporto da Corunha, vinha de celebrar com apertas, lágrimas e sorrisos um muito aguardado reencontro familiar na sala de chegadas. Ao dirigir-nos aos aparcamentos, fixei indiscretamente, como fago a miúdo, a minha olhada numha rapaza que poderia estar entre os 16 e os 18 anos, com rasgos etíopes, esbelta, andar elegante, mas com um toque de resignaçom, e tristeza profunda no semblante. Entrava no interior das instalaçons do aeroporto sem bolso, sem equipagem… Atrás dela, formando um perfeito triángulo moviam-se dous homens entrados em idade, cadeias de ouro ao peito, camisolas e chaquetas como sacados dum filme de Torrente. Tampouco manejavam equipagem. Iam silenciosos mas decididos. Foi por uns segundos, que cruzaram a minha vida, o meu corpo, as miles de nenas e mulheres que vam rotando de bordel em bordel, porque a mercancia hai que move-la, o cliente exige novidades. E ao melhor nom era o caso, e eu deixei que as estatísticas e os estereotipos filtraram nesses segundos a realidade confrontada em testemunhas, estudos e investigaçons, que asseguram que as mulheres e nenas prostituídas vam rotando de prostíbulo em prostíbulo para satisfazer a demanda. E eu, pobre de mim, lancei-me a pensar e concluir, só polo pequeno detalhe de que umha rapaza dessa idade nom leva-se a um aeroporto nem umha mochila, nem um pequeno bolso, como assim levabam todas as da sua idade que estavam nesse aeroporto, e em todos os aeroportos do mundo.

As imagens do aeroporto volveram a mim estes dias, ante o intento de celebrar na Universidade da Corunha umhas jornadas cuja iniciativa se lhe atribui a umha estudante de sociologia que se reivindica puta, é dizer, que póm, com mais ou menos liberdade, à venda os buracos do seu corpo para que acedam a el, a cambio de dinheiro, os homens. E pensei na imensa maioria de mulheres prostituídas que foram construídas como putas, desde que eram menores de idade, a costa de destruir o seu desejo, de cousifica-las, dobrega-las a base de miséria económica, consumo de drogas para sobreviver, jornadas esgotadoras e fazer-lhes perder a liberdade com dividas, movendo-as dumha parte a outra para que nom afiancem relaçons e mesmo retendo-lhes a documentaçom.

E puxem na balança a suposta liberdade dessa estudante de sociologia para vender os buracos do seu corpo, e o valor da liberdade roubada na realidade de miles de mulheres e nenas prostituídas. E puxem na balança, o valor da liberdade de expressom para conceder a entrada no espaço universitário, à opiniom de que vender o uso dos buracos do teu corpo, para satisfacer os desejos de homens, é um trabalho, fronte ao valor da humilhaçom, cousificaçom e explotaçom que as mulheres prostituídas e o conjunto de mulheres, recebemos polo relato que indica que as mulheres podemos assumir como trabalho, satisfazer o desejo sexual de todos os homens que o podam e o queiram pagar.

E assisti com estupor à reaçom nas redes, e dum sector universitário… e concluo: que arraigado está o neoliberalismo! que potente a uniom do capitalismo e o patriarcado!

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