quinta-feira, outubro 24, 2019

Reflexons feministas dumha mente ocupada (relatório nas jornadas Noutrén: Feminismo Poscolonial)


Venho dum tempo gris…

A minha infáncia transcorreu no franquismo. Tenho lembranças de case tudo em branco e preto.  A minha mocidade desenvolveu-se entre lutas de “davides” e conquistas de gigante, foi um tempo épico, onde tudo era medido e sentido em máximos e mínimos. E na minha madurez estou sendo testemunha do medre numha onda imensa, do apoio que a luita feminista vai conquistando dia a dia, cristalizando em direitos e reivindicaçons. Nada do que vou expor aqui me pertence, é o produto de esforços coletivos, mas quero nomear aqui a duas mulheres, para evitar nomea-las continuamente ao longo desta exposiçom, porque sempre forom umha inspiraçom para mim. Carmem Adám, polo o impulso que deu ao movemento desde a Secretaria Geral de Igualdade, durante o governo bipartito, de quem recomendo o seu último livro  Feminicidio, e Rosa Cobo Bedia, profesora na Universidade de A Corunha, cumha amplísima obra ao serviço da nossa causa.

Precisaria nomear também, a um ingente número de ativistas, mulheres que me ensinarom, que me acompanharom e empoderarom, as que já nom estám, como Begonha Caamanho e Rosa Basabe, e as que estám, as que estades e seguides aí. Tenho a impresom de que ningúm movimento como o feminista, logrou tam altos niveis de irmandade, tendo em conta do nivel de negaçom de nós próprias do que partíamos.

As reflexons que oferecem estas páginas hai que lelas desde a realidade galega, ainda que se faga algumha referencia a outros níveis.

O movimento foi medrando ...

Nos anos oitenta, eu começava a organizar-me junto a outras companheiras para criar umha organizaçom de mulheres de ámbito nacionalista, Mulheres Nacionalistas Galegas. A esquerda espanhola tinha desde a morte de Franco organizaçons pequenas pero muito ativas. Descobrimos que o feminismo nos permitia questiona-lo todo, fazer umha nova leitura do mundo, desde as relaçons sexuais, os jogos da infáncia, a reproduçom humana ou a historia antes nom contada... Estávamos a descobrir o feminismo como cosmovissom. Nada é-lhe alheio. Podemos resumir estas décadas de finais do século passado, como a toma de impulso para a construçom do movimento tal e como é hoje em dia, na Galiza do século XXI. Hai que sulinhar nesse tempo, a importância da comarca de Vigo como foco irradiador de feminismo para todo o país, como nom se pode deixar de nomear às companheiras de AGM, a existência de Andaina, ou o papel unificador do movimento jogado por MNG. Assim as manifestaçons massivas do 8M que protagonizam agora muitas mulheres novas, tiveram os seus precedentes  nas manifestaçons e folgas de principio deste século XXI: a mobilização mundial do 2000, coa marcha sobre Bruxelas de vários centos de mulheres galegas; a primeira folga de mulheres, com repercusom nas comarcas de Ferrol e Vigo, e a Marcha Internacional em Vigo no 2004, com mais de 20.000 mulheres, mobilizadas nas ruas.

Paralelamente a este ativismo mobilizador, hai umha entrada importante de feministas nas formaçons políticas, e em consequência, começam a aplicar-se cámbios legislativos significativos.

Do mesmo xeito, as feministas na Universidade criam estruturas e abrem campos de investigaçom que reforçam o argumentário do movimento. Figuras como Maria Xosé Queizán, Carmen Blanco, Maria Xosé Porteiro, Luz Darriba, Pilar García Negro,… e muitas maís, desde distintos ámbitos impulsavam co seu fazer o argumentario feminista.  As políticas públicas de Igualdade, as quotas de representaçom política, a recuperaçom e visibilizaçom da nossa história, o avanço na liberdade sexual, os direitos reprodutivos, os cámbios na publicidade, no aceso à universidade e à investigaçom, o novo enfoque sobre os coidados... som passos conquistados que semelha nom ter volta atrás. Mas entom, como é que o patriarcado, goza de boa saúde?

Patriarcado e capital de igual a igual

Expressons culturais, modelos de relacionamento, sistemas económicos, estruturas religiosas, políticas, guardam praticamente intactos os seus pilares e só realizaram mudanças simplesmente estéticas, formais, ou som mínimas na sua transcendência. As cifras do feminicídio, das violências machistas, o auge da prostituiçom e a pornografia nas últimas décadas, a feminizaçom da pobreza, a beligerância do poder judicial contra as mulheres, a precariedade vinculada aos sectores produtivos feminizados..., som alguns indicadores de que o patriarcado muda algumhas formas, mas goza de boa saúde.

Nesta nova etapa neoliberal, está fortemente unido ao capitalismo, e se apoia, a nivel mundial em novas expressons políticas que reivindicam “espaços de liberdade para os homens fronte a ditadura feminista que impom às mulheres um modelo de vida que nom desejam”. É a reaçom às nossas conquistas. Governos como o de Bolsonaro, Mauricio Macri, ou na Europa, o governo polaco, monstram o fácil que é recuar em quanto aos direitos das mulheres. E moi perto das nossas fronteiras, países em conflito armado, submetem baixo normas patriarcais extremas, justificadas ou nom pola religiom, às mulheres e às crianças. A deriva autoritária e mesmo neo-fascista que vem monstrar o exercicio dum direito básico em Catalunya, como é a autodeterminaçom, é umha mostra máis da involuçom à que assistimos, ao servizo do capitalismo e o patriarcado.

Mas no nosso pais, como em muitas partes do planeta, um grupo cada vez mais significativo de mulheres abre campos de liberdade nas suas vidas, exercem autonomia, empoderam-se e entram em espaços laborais, culturais, científicos… antes proibidos. Um número cada vez mais importante de mulheres intentam construir novos modelos de relaçons afetivo-sexuais, em igualdade. Porém, as cifras de mulheres assassinadas, a violència contra elas e às suas crianzas, a feminizaçom da pobreza  e o número de mulheres e nenas prostituidas nom fixo máis que medrar. As masculinidades construidas baixo o prisma patriarcal, nom admitem outro jeito de desenvolver-se que a dominaçom, perseguem esse objetivo, e ou bem o conseguem ou reaccionam violentamente. Dá vertige o medre esponencial no nosso país de prostituidores, onde a vontade e o desexo das mulheres e nenas está anulado por um prezo.

Reaçom patriarcal

O feminicídio e o auge da prostituçom, som os máximos exponentes desta reaçom do poder patriarcal ante essa perda de hegemonia. Umha reaçom extremadamente violenta contra os nossos corpos, contra a nossa liberdade, contra os nossos direitos.

O capitalismo tem, através da economia criminal, umha oportunidade de negocio imensa que nom está a desaproveitar. Assim como avanza na apropiaçom e explotaçom dos recursos naturais, numha ansia depredadora sem límites, tem descuberto o corpo das mulheres e crianças como a materia prima renovável, que tem um circuito bem claro, como o tivo no seu momento a ruta da seda ou das especies: do sur ao norte, e do leste ao oeste. O capitalismo converte todo em mercadoria, e os nossos corpos aí estám, em situaçom de vulnerabilidade polo efeito da pobreza, da marginaçom, da violência sexual…, ou mesmo a impunidade das máfias.

Ante a presom do movimento, cambiar algo para que nada mude

As elites tingem o cabelo de lila. Vimo-lo este 8 de março. Mas em paralelo, criam expressons políticas profundamente misógenas e mantenhem intactas estruturas económicas, políticas e religiosas contrárias ao principio de igualdade.  Umhas elites que tanto sacam partido da mam de obra precária, de manter a pobreza e a exclussom, como da economia criminal, onde cada día converte-se a um número ingente de mulheres e crianças na matéria prima de florescentes negócios a escala mundial: a prostituiçom e a pornografia. Ou novos modelos de negócio onde o corpo das mulheres fica reduzido a medio de produçom, como os ventres de aluguer. Uns negócios que levam no seu núcleo, o aliem da dominaçom patriarcal.

As nossas conquistas ainda som só umha fina capa de gelo

Passeamos sobre umha fina capa de gelo que estala quando menos o esperamos. Emociona-me ver a avós, com seu cabelo encanecido, ou esplendidos bigodes, a cuidar de crianças em carrinhos. Eu nom o tinha visto nem na infancia nem na minha mocidade. Emociona-me ver a homens de todas as idades ir fazer a compra ou levar as crianças ao parque. Emociona-me, porque para mim som símbolos de vitoria, de avanços.

A muitos devolvemos-lhe a oportunidade de compartilhar os cuidados, de fazer parte da criança afetiva e criar vínculos mais além do sangue e apelidos. Demos-lhe às novas geraçons a oportunidade de começar a construir um futuro mais livre do que nós, sem armários, nem limites ao amor. Mas nom conseguimos a penas mudar a vida e as oportunidades dumhas quantas  e a nossa própria. O patriarcado em aliança co capital, cria realidades paralelas. Amplas zonas do planeta onde estám negados os direitos básicos. Bolsas de exclussom neste primeiro mundo, onde qualquera de nós, das nossas famílias, pode acabar. Falo de mulheres e crianças assassinadas, que sofrem violência machista, razismo, pobreza, explotaçom laboral e marginaçom que as fai vulnerabeis à dominaçom patriarcal. Temos esses índices de violência disparados entre adolescentes e moços. Expressons fortemente masculinizadas, entremeadas co dinheiro e o poder, som fenómenos de mobilizaçom de masas e organizaçom social cumha hegemonia inquestionável, como tudo o que rodeia ao futebol, incluído o negócio das apostas.  Saem à luz novas expresións culturais que reproduzem essa cultura da violência para a dominaçom, na música, no cinema, na moda, nas redes sociais... A nova cultura do ócio vinculada à explotaçom com 1.600 prostíbulos no estado espanhol, um número sem definir de pisos, e muitas ruas e polígonos industriais que suponhem um 0,35% do PIB. Temos bolsas de pobreza e exclussom onde o sistema capitalista em aliança perfeita co sistema patriarcal, usa os corpos das mulheres para reproduzir a mao de obra, manter os cuidados, tirar plusvalias da produçom em condiçons laborais precárias, ou ampliar nicho de negocio na economia criminal: prostituiçom, pornografia, ventres de aluguer… Campos de concentraçom, granjas de mulheres gestantes,  onde os puteros e os criadores de úteros, reproduzem a base fundacional do patriarcado, o aceso ao uso e o controlo do corpo das mulheres.

O patriarcado cai com o capitalismo ou nom cai, e vice-versa


O patriarcado nom vai desaparecer dunha punhada certeira ao coraçom. Nom vai desaparecer só por um movimento político e social que ative contra del. O monstro seguirá vivo mentres nom consigamos quitar-lhe o alimento, as bases nas que se sustenta. E intuímos que o patriarcado nesta nova etapa histórica, só cairá se  junto a ele cai o capitalismo, senom, sempre terá um companheiro que lhe facilitará novos jeitos de manter-se vivo. Neste século as transformaçons, os cámbios, produzem-se muito mais rápido. O feminismo logrou questionar muitos modelos sociais. O patriarcado transforma-se, colhe novas formas e rostros e sobretudo defendem-se e tem muitos recursos para fazê-lo. Nós temos os nossos corpos e a razom, o patriarcado tem estruturas de poder, recursos económicos e mediáticos para manter-se hegemónico nas nossas sociedades. Mas, como o foram outros sistemas de opresom,  nom é invencível nem eterno.

A reaçom patriarcal. como afrontar o tsunami

Semelha que estamos baixo alerta de tsunami. O patriarcado rearma-se e está a lançar umha nova ofensiva como contestaçom ao avanço do movimento feminista a nível mundial. E aqui, nesta velha naçom chamada Galiza, temos o imenso orgulho de contar com um movimento feminista forte, ingerido socialmente, cum corpo de pensadoras importante, com feministas ativando nos medios, na produçom cultural, no movimento associativo, nos grupos políticos… Um feminismo que logra mobilizar umha parte importante do tecido social e está freando em muita medida, essa reaçom. Um movimento que ajudou a formar mulheres com liderança política e social, Lidia Senra, Ana Pontón, Isabel Vilalba, Goretti Sanmartim… e muitas outras que desde as instituçons combatem o machismo e pulam por políticas públicas que lhe arrinquem espazos de hegemonia.

Estamos contra-atacando, mas cumpre manter a unidade e marcar bem os objetivos. Apontemos algúns dos componentes dessa reaçom:

1º Ataques ao feminismo como cosmovisom

    • Assegura-se que o patriarcado nom existe.
    • Que o Feminismo é umha ideologia só de mulheres burguesas, heteros e brancas
    • Que o feminismo quere imponher o modelo europeu às mulheres doutras culturas e crenzas

2º Ataques ao feminismo como ideologia de liberaçom
     
    • O termo Feminazis vem a explicar dum xeito moi simbólico, que as feministas nom representamos a liberdade senom a opressom.
     
    • A aplicaçom nos tribunais e na divulgaçom seudocientíca do Sindrome de Aleneaçom Paternal S.A.P., subjace a imagem da mulher manipuladora, mentireira e maquavelica, que todas levamos dentro.
     
    • A aplicaçom da Custódia compartida imposta, e todas as organizaçons de pais mobilizados para defender-se fronte o roubo das crianças, botando umha cortina de fume ante as denuncias por abuso sexual ou violencia machista.
     
    • A intençom de aprobar a Lei de mediaçom onde se pretendia obviar a realidade da violencia machista e dos abusos

3º Ataques às conquistas feministas

    •  A definiçom da Lei de Igualdade desde muitos ámbitos das redes sociais, como imposiçom de supremacia “hembrista”.
     
    • Os ataques à Lei Integral contra a Violência machista, onde se estendeu coma verdade que a maioria eram denuncias falsas, que as mulheres som mais assassinas que os homens, perversas, e em todo caso, que todo é violência…)
     
    • Os ataques ao direito ao aborto, com o acosso às clínicas onde está agochado, sem ocupar o espaço que lhe corresponde no sistema público de saúde. E mesmo as vozes, bem intencionadas, que para defende-lo o definem como desgraça, nom como direito.

Que batalhas nos aguardam?

Para rematar só apontar um guióm das tarefas pendentes e que eu considero prioritárias para avançar tanto na fortaleza do movimento como na definiçom e consecuçom dos nossos objetivos, som tarefas nas que muitas companheiras já estades, deixando tempo das vossas vidas, energias, com conquistas e  fracasos:

1. Focar mais energias na luita contra a prostituiçom e a pornografia. Conceptualizar a pederastia como expressom patriarcal.

2. Questionar o poder judicial e a sua nova caça de bruxas tal e como a denúncia Silvia Federicci.

3. Avançar na denúncia das instituiçons religiosas como instituçons patriarcais, que estendem a misoginia; e na criaçom de alternativas nom patriarcais para viver a espiritualidade.

4. Questionar o modelo de representaçom política. O modelo de quotas, de listas cremalheira, nom é mais que um paso na democratizaçom das nossas sociedades, que excluem ao 50%. Mas isto agora nom é suficiente. No panorama político espanhol emergem vozes de mulheres, representantes políticas e com responsabilidades em distintas instituiçons, que representam opçons reacionárias, negacionistas e involucionistas.  O movimento precisa de mais feministas nas organizaçons políticas, no sindicalismo e nas instituiçons.

5. Apoiar a criaçom e visibilizaçom de novas masculinidades. Em palavras de Lluis Rabell, “Partilhar desde os homens a etiqueta de feminista nom consiste nem mais nem nada menos que em assumir a sua responsabilidade ante o conjunto da sociedade e ante os outros homens, questionando os privilégios em torno aos cales construiu-se a sua identidade”

Com que ferramentas?

Sempre, em toda parte, e para conseguir luitar eficazmente por umha causa justa, precisa-se conjugar vários elementos: a criaçom de pensamento crítico, a mobilizaçom, a acçom política, e a elaboraçom e ensaio de alternativas. O movimento feminista galego conta com todos os elementos para afrontar com éxito esta maré reacionária, se sabemos conduzir o leme com inteligência colectiva e criatividade. Temos que construir:

1. Alianças para as novas batalhas. Aprofundar na unidade de açom com o feminismo partidário, apoiar às companheiras feministas que atuam nos sindicatos, unir laços cos movimentos onde participam novas geraçons  (cambio climático / novos modelos de produçom / benestar animal...),

2. Divulgar o argumentário (patriarcado-capitalismo), ativando nas redes sociais enciclopedias e dicionários electrónicos feministas, guias e cursos de formaçom online...

3. Criar escolas de empoderamento feminista além dos círculos universitários. “Empoderamento feminista é unha estratexia para o avance social das mulleres e a incidencia política cara a Igualdade” IV Conferencia Internacional, 1995 Beijing. Estas iniciativas deveram ter umha relaçom clara coa melhora da vida das participantes.

4. Reivindicar o espaço nos médios. Os de máxima divulgaçom nom permitem a entrada do discurso feminista mas que como algo esporádico ou vinculado à data do 8 de março. Por outra banda, o suceso dos últimos 8 de março é impensável sem a participaçom das companheiras jornalistas, que figeram romper o bloqueo informativo em muitos frentes.

Quero rematar lendo-vos um poema que escribi este passado 8 de março coas ruas do país cheias de força transformadora, umha força que mais cedo que tarde logrará os seus objectivos de emancipaçom.

sai das mans
sai dos peitos
sai dos sorrisos
e dos lamentos

sai do horror
e do desprezo
de berces mornos
e baldes cheios

sai de regos
e unhas partidas
de pés apertados
quando caminham

sai de línguas
atormentadas
e flores novas
sempre segadas

sai de leitos
onde a censura
mata desejos
ata e tortura

sai de pratos
a médio encher
e de cueiros
sem recolher

é o feminismo
tomando a marcha
sonhos ao vento
o mundo avança

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