domingo, dezembro 05, 2010

Privatizar o Outono


Em quanto os dias se fixérom mais curtos, os caminhos do meu bairro começárom a encher-se de cores luminosas. Amarelos, laranjas, ocres, mesmo vermelhos, saiam-me ao passo polas ruas, polos caminhos entre os parques, no passeio à beira do mar. Um mar de gente, sobre todo crianças, apanhavam castanhas nos soutos urbanos que forom consolidando-se ao longo destes anos em distintos pontos de Caranza. Carvalhos, castinheiros, marmeleiros, ameneiros, bidueiros... e mesmo algum albedro e arces japoneses, agasalham as suas melhores cores, para que vejamos nelas a luz e o consolo que um debilitado sol, e um ceo gris, dia sim e dia também, nos negam empurrando-nos cara a tristeza dumha natureza que se apaga.

Só assim, apoiadas e apoiados na contemplaçom das cores luminosas do Outono, podemos sobreviver até a chegada do solstício de inverno onde mais umha vez, a luz volverá a ganhar o dia.

É por isso, que este ano vivim com preocupaçom este Outono que chega a súa recta final. Nesta febre neoliberal com convulsons privatizadoras, suspeito que o Outono vai ser privatizado, de jeito que só um grupo privilegiado vai ter aceso a el. O Outono nas cidades nom é rendível a olhos de quem aspira a recortar gastos e vê na nossa saúde, entendida o mais globalmente possível, algo que, ou se tira negocio de-lo ou é valorado como um lastre, algo que pom freio a um crescimento inevitável, lembremos neste ponto que os cancros, os tumores, som também um crescimento desregulado das nossas células.

O Outono nas cidades precisa de coidados. As folhas tenhem que ser recolhidas para que nom tupam as sumidoiros, e para que nom produzam acidentes sobre todo entre a gente de mais idade que desfruta dos passeios. As árvores tenhem que ser coidadas, junto a todas as zonas verdes, das que o meu bairro, por sorte, conta polo de agora, de abondo. Isso se traduz em gasto para a instituiçom municipal, afogada polos obrigados recortes que nos impom o cancro que padecemos, é dizer, o medre duns mercados desregulamentados, convertidos em tumores malignos moi activos e com grande capacidade de metástase que, ameaçam, entre outras cousas seguramente mais importantes, o desfrute colectivo da maravilha outonal. O Outono significa postos de trabalho para coidar de algo que nom se valora como produtivo, e agora coa máxima de que “quem o queira que o pague”, podemos começar a ver como se substituem por cimento, ou por espécies perenes, que nada tenhem a ver coa paisagem que precisamos para fazer com cordura esta viagem de transiçom ao inverno, os nossos parques e os nossos passeios.

Privatizaram o Outono. Numha comarca onde a invasom do eucalipto nom permite vê-lo nas fragas mais achegadas, onde um monótono e sedento verde grisalho nos acompanha todo o ano. Entom, o Outono ficará nas grandes fincas privadas. E nós iremos busca-lo detrás dos feches dessas fincas, como a grande maravilha que nos será negada. E estaremos com menos saúde, com menos alegria, e nom seremos quem de ser nós, seremos irremediavelmente gente diferente.

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