sábado, setembro 25, 2010
Cigana
Saudei a umha família cigana que aguardava, caída a noite, em urgências, no ambulatório de Ferrol. Chamárom à cigana máis velha, da minha idade, e mentres aguardávamos intercambiamos informaçom familiar para pôr-nos ao dia pois havia tempo que nom conversávamos. Apareceu a mulher, vestida completamente de negro, dizendo que era verdade o que ela suspeitava, tinha a tensom polas nubes. Colocárom-lhe duas pílulas debaixo da língua e mandárom-lhe aguardar. Sabiam-lhe mal, e como puído, convenceu à filha para que leva-se à mais pequena a casa. A nena tinha sono e havia que ir à escola ao día seguinte. Deu, no seu característico castelám dialectal, as indicaçons precisas. Que nom se pelee co irmao, saca-lhe ti a roupa para deitá-la, que nom a molestem ... Logo ficou soa, ao meu lado, totalmente em silenço com os seus pensamentos, apertando a boca com um pano. Pouco a pouco aquele corpo tenso começou a relaxar-se... Estás melhor? Dixem engadindo o seu nome. Ela afirmou, e começou lentamente a relatar o porque estava ali. “Já mo dixo a doutora, que che passou para vir asi? Som as preocupacións polos filhos... Desde os oito anos trabalhando... lavando a roupa que nos metíamos na auga até aqui (sinalando o vam)...logo loitando co home, fiquei viúva aos vintedous... saquei os filhos adiante...e agora querem boa ducha, boa limpeza na casa, comida... e só tenho umha paga de trescentos euros, e o meu filho, ti o conheces, como está com essa merda pom-se moi agressivo e molesta à gente ... e eu me ponho moi mal com todo isso... que já lhes digo que vaiam à marea, porque eu iria, co meu caldeirinho, mas nom podo, tenho vertigos e artrite... e é que o corpo nom aguanta mais...”
Dixérom o meu nome. Quando saim da consulta chegavam de novo a filha e a nora para recolhe-la. Saudei desexando melhoría, mas eu sabía que efectivamente aquel corpo estava rendindo-se, e ademais outra merda muito máis perigosa vai achegando-se pouco a pouco, e acavará enfermando ainda mais à sua família. Viaja desde o leste, e como umha nova peste vai avançando por Europa, mostrou já o seu rostro máis amargo em Alemanha e em Itália, agora está moi perto, na Franza de Sarkozy ... e onte, Antena 3, infectava co vírus maligno do racismo, unha sociedade que, igual que os montes que temos cheios de maleza, sem coidar, com um pequeno lume, arderá violentamente e sem remédio. E nom ponhem médios, nem orçamento, nem políticas que nos livrem del. Só para afrontá-lo, contamos co pouco de consciência, compromiso e valores de esquerda que poidam quedar em nós.
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