quinta-feira, maio 06, 2010

Loitar em tempos revoltos

Umha situaçom de confusom geralizada semelha estar consolidando-se nos últimos meses na nossa sociedade. Pouco a pouco o medo e a incerteza sobre todo relacionados coa situaçom laboral, vam atacando a resistência que freava o pessimismo, e vai-se assentando a depressom colectiva e a desconfiança. Unha depressom que hai umhas décadas viveramos já na comarca de Ferrol Terra, depois de que a loita contra a reconversom dos estaleiros, acabara em derrota psico-social. Umha depressom colectiva que nom curou, só se paliou cumha perda de populaçom que converteu à comarca e nomeadamente à cidade de Ferrol, num lugar envelhecido e mesmo condenado ao esgotamento político e social. E assim medrou também a gente nova de Ferrol nestes anos, escoitando e reconhecendo-se numha melodia que dizia que este era um sitio de derrotas, mas que havia que ficar aqui. Desobedecendo o mandato, muitos e muitas acabárom marchando.

Os fenómenos meteorológicos e geológicos, estám ajudando a aprofundar na impressom de que imos cara a um abismo. A informaçom sobre fenómenos naturais, ocupa agora um espaço importante dos informativos, como tem que ser. Mas sempre sem analisar, que parte hai de natural, e que parte poderia ter-se evitado, das desgraças que acompanham estes fenómenos, como em Haiti, Madeira, Chile, Turquia. China, Islándia... A nós já nos tocou algo. Nos últimos tempos, vivemos o dramatismo do Klaus, e paralisou-nos o medo ao Xhintia. Com o Klaus sentimos a incomprensom de quem a poucos quilómetros nom sofriam as suas consequências. Com o Xhintia a incomprensom puxemo-la nós, mas que aprendemos?

A vida chama todos os días à porta e hai que ir trabalhar, ou buscar emprego, estudar, atender as necessidades diárias, estar pendente das pessoas queridas e mesmo acudir a umha que outra actividade social. Mas a vida nom está a fluir com normalidade. A nossa respiraçom colectiva é cortada e agitada. Nom sabemos cara onde vai o mundo, e como nom sucedia desde havia muito tempo, agora nom sabemos o que vai ser de nós a um ou dous anos vista. Case todo o mundo sinte que antes ou depois, a terra que pisa vai começar a se mover, também no senso literal. As vozes da direita aproveitam a incerteza para lembrar-nos o bem que vive o povo sem vontade, sem ter que pensar e decidir, o bem que se vive se te tutelam. Assim declaram as bonanças do passado. Todo, dim, deveria volver ao de antes, ao branco e gris da época onde se marcava até a rúa pola que deverías andar moceando, e o longo da saia, definia a altura moral da mulher que a portava. Nom havia nada que aguardar, nada que pensar, nem um sobressalto ía romper a triste monotonia dos cantos litúrgicos ou da tabla de multiplicar. Cada quem sabia o seu lugar e o que tinha que fazer.

As vozes da esquerda pola sua parte, estám enfeitizadas polos cantos das sereias. O discurso de que a culpa de que nom saiamos da crise é dos sindicatos, porque nom dam entrado na reforma laboral que se precisa, ganha adessons. Puidemos escoitar na Cadena Ser o sábado 1º de Maio, como se defendia a congelaçom dos salários do funcionariado entre os contertulios e ninguém punha o contraponto. O mesmo passou quando se falou da jubilaçom aos 67 ou doutras medidas de recorte de direitos laborais. Umha e outra vez repetiam que os sindicatos tinham a culpa, porque nom sabiam explicar-lhe bem aos trabalhado@s todas estas medidas modernizadoras e preventivas para que o sistema nom creve.

Alguns sindicatos estám na negociaçom dumha reforma laboral. Acudem a essa negociaçom numha posiçpm de debilidade. Nas poucas declaraçons públicas que permitem escuitar os monopólios da informaçom, transmitem o síndrome da vítima de maltrato “vou calar para que nom se enfureça”, assim levam as negociaçons, sem luz nem taquígrafos, dando vantagem aos especuladores, que pretendem sacar o máximo beneficio desta crise.

É verdade, os sindicatos nom estám explicando bem as cousas. Nos discursos deste 1º de Maio, nom se explicou o que está a passar em Grécia, ou as consequências negativas dos informes das agencias de rating, como Standard & Poor's. Por certo, interei-me ainda estes días que só hai tres no mundo, duas norte-americanas e umha inglesa, mas que tenhem o poder de baixar ou elevar, segundo os seus informes, os juros da débida pública dos estados. Os sindicatos nom mobilizarom para que se acabe com esse oligopólio e se criem agencias públicas, como também deveria criar-se banca pública, e emprego público. E mentres nom chegamos a estes objectivos, os sindicatos deveriam marcar no dia a dia da classe trabalhadora que realidade alternativa podemos construir desde já. Tendo em conta a frase que iluminou o reagir do Feminismo na década dos setenta “O Privado é Político”, os sindicatos, como movimento social transformador, deveriam dar alternativas para o cotidiano, por exemplo, que fazer coas hipotecas ou os alugueres, onde meter os aforros, como mercar para debilitar o poder das multinacionais, que cultura consumir para fortalecer a ideologia de classe e cargar-nos de argumentos fronte ao capitalismo que ameaça com deglutir-nos a nós e ao planeta, que como bem ensinam em Bolivia, todo é a mesma cousa.

Mas, a gente que conformamos os sindicatos, que estamos nos centros de trabalho, que ponhemos dirigentes ou os sacamos, ou todo o contrário, estamos em disposiçom transformadora ou simplesmente aprendimos um discurso e apoiamos um modelo social, que nos permite seguir agarrando umha parte do pastel mentres milhos tenhem só as faragulhas? Em Grécia, a unidade sindical convoca a folga geral. Só estamos em disposiçom de aparcar o que nos separa quando vemos o tsunami arrasando-nos? Nom podemos tecer redes de uniom que nos amparem antes?

Mentres, os donos da tarta, querem aproveitar-se de que imos subindo a escaleira coa luz apagada, às apalpadas. A confusom das palavras nos discursos que explicam a crise económica, que falam dos problemas sociais, que alarmam sobre os cámbios no clima, som como guedelhos que se liam nos nossos pés e convertem em mais torpes aqueles passos que imos dando para superar cada escano. Imos virando às costas a quem nos representou no seu día e hoje, nos traspasa co seu discurso, sem provocar em nós nem umha pequena emoçom. Tampouco somos quem de pôr nomes e apelidos a quem montou este barulho. Deveríamos pechar-lhes as nossas casas, os nossos coraçons e as nossas vidas. Rechaçar o seu mercado, os seus empréstimos, o cacho de paraíso que nos querem vender. Fazê-los avergonhar nos seus despachos, nos seus clubes privados, nas portas dos seus templos. Queremos e devemos conhecer e sinalar aos seus representantes nos assentos dos seus escanos, nas redacçons dos seus diários ou nos tribunais onde ditam sentência.

Som os usurpadores de direitos. Som os sanguesugas do trabalho alheo. Som os ludópatas do casino-planeta. Intentarám apertar para que trabalhemos mais, descansemos menos, para que morramos antes, para que nom haja ninguém que nos coide quando o precisemos, para que sobrevivamos entre o lixo que vam produzindo e estrando. E sobre todo, faram o impossível para que nom saibamos, que nom comprendamos o que estám a fazer, e nom saibamos que hai outro jeito de viver sem eles. Por que Grécia tem que vender as súas ilhas? Quem pode mercalas? Para que? Por que se limita o salário mínimo, as penssons, a idade de jubilaçom, o tempo de subsídio e nom se limita a riqueza? Nom é esta umha pergunta sinxela? Pois logo, terá doada resposta.

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