Artigo publicado na revista "Atenea" do mes de Março, editada polo Ateneo Ferrolán.
Escoitamos falar da guerra que se livra polo controlo dos recursos energéticos, a mais descarnadamente directa, que bombardeia, assassina, destrue países inteiros. Escoitamos também a diário, falar da guerra contra o terrorismo, que é a bandeira que se ondeia como escusa para desatar essas guerras de destrucçom. Mas também sabemos da que se livra polo controlo do espaço. Os satélites amoream-se porque também formam parte da guerra polo controlo da informaçom. A guerra tecnológica tem na espionagem e sabotagens, as suas melhores armas, fronte aos primeiros brotes de tecnologia conseguida baixo sistemas de criaçom livre e colectiva. Mas a guerra que se livra no corpo das mulheres, só se visibiliza nalgumha das suas expressons, e nom se analisa como um todo global que persegue, o mesmo que no caso da energia, e os recursos naturais, o controlo da potencialidade do corpo e a mente das mulheres, e o poder simbólico que ao longo dos tempos jogou para manter os poderes religiosos, políticos ou de supremacia dumhas culturas sobre outras.
A guerra nos corpos das mulheres tem umha das batalhas mais virulentas no controlo da sua capacidade reprodutora. O aborto voluntário é o cabalo de batalha dos poderes religiosos das distintas confessons, e tem no conservadorismo político o seu maior aliado. Vai associado a outros objectivos como som a capacidade de controlo por parte das mulheres da maternidade, e a potencialidade sexual e em geral, de autodeterminaçom das mulheres, extendida a todos os aspectos e momentos da sua vida. Atinge a todas as mulheres e todas som vítimas ou de criminalizaçom e repúdio social, ou de condenar-se de por vida a umha existência ajustada a normas morais que sacralizam a desigualdade, a dor e a abnegaçom de obrigado cumprimento, nom de livre eleiçom.
Esta batalha, que tivo umha primeira parte, exitosa para as mulheres em quanto abriu novos espaços de direito, na década dos setenta do século passado, revive agora em todo o planeta, também na Europa do século XXI. As mulheres que temos abortado voluntariamente, somos acusadas de assassinato desde os púlpitos, e desde os médios de comunicaçom que, faltando ao código deontológico mais básico, fam de altifalantes da Conferencia Episcopal sem, salvo contadas excepçons, colocar quando menos, ao mesmo nível a argumentaçom e a presença das defensoras dum direito fundamental como é a soberania do próprio corpo. E todo isso sem que essas acusaçons diárias de assassinato, tenham nengumha conseqüência. Só umha conjuntura política que mantém em certas estruturas do poder político a feministas, novas e velhas, falo da Ministra de Igualdade, mas também das suas assessoras, fam possível que se avance nos direitos das mulheres e das moças. Umha conjuntura que pode virar em qualquer momento.
Ainda desde sectores progressistas, como se dumha purgaçom de culpa se trata-se, dramatiza-se o aborto, falando dumha decissom difícil, de um trago amargo ao que as mulheres se tenhem que agarrar como última opçom, quando um aborto, nas primeiras semanas de gestaçom, que é no que se realizam a imensa maioria, poderia ser umha intervençom de ambulatório, sem mais trascendência. O que é um trago amargo é passar por abortos clandestinos onde as mulheres que nom perdem a vida, podem ficar com lessons para sempre. É um direito traer umha criança desejada a este mundo, e também é um direito vir a este mundo como um ser desejado, porque alguém quere dar-che a vida e comprometer-se contigo para sempre.
A ofensiva nom é exclusiva da hierarquia católica espanhola, nem sequer da hierarquia católica assentada no Estado do Vaticano. O integrismo religioso, evangelista, islámico, budista, judeu, batalha polo poder no útero das mulheres. Somos expulsadas do nosso próprio corpo, para viver para sempre baixo um poder alheo. Em EEUU mesmo se assassina a médicos que praticam abortos. Em Polónia, onde o aborto é ilegal e só se permite nuns supostos moi restritivos, umha campanha associa nestes dias, nas vaias publicitárias, o aborto com Hitler, pretendendo concienciar à povoaçom da necessidade da ilegalizaçom total. Em Nicarágua, depois de ter conseguido a lei mais avançada em América latina, no século passado, baixo o governo Sandinista, fortemente tutelado pola hierarquia católica, aprovou-se a proibiçom total. E assim em todo o planeta, alzan-se vozes em defessa dum “código genético que pode chegar a ser pessoa”, presente já no momento da fecundaçom do óvulo, mentres a Injustiça e a Desigualdade, seguem devorando seres vivos, arrincando do colo das suas nais a seres indefensos ante a guerra, a fame e a pobreza.
Outra fronte de batalha é a que condena às mulheres a ser as portadoras do símbolo cultural dos povos. As mulheres portamos a esência da cultura ou da religiom, seja nos costumes associados a momentos importantes da nossa existência, nascimento, morte, emparelhamento ... ou no nosso jeito de mostrar-nos ao mundo, bem na vestimenta ou no espaço que ocupamos, ou na nossa linguagem corporal. Muitos países que tinham esquecido o uso do velo nas mulheres, recuperam assim este costume para marcar umha diferença cultural e religiosa, em oposiçom aos símbolos ocidentais de permissividade na vestimenta das mulheres. A resistência ao Império, que invade e usurpa os seus territórios e recursos, com cruentas guerras, é expulsado do corpo das mulheres , onde se instala a esência do islamismo cultural e político, e também da identidade diferenciada das mulheres fronte a identidade das mulheres que vivem baixo os desígnios das normas imperiais.
Também, o Império, baixo a desculpa de liberar o território do corpo das mulheres, dos seus velos de opressom, justifica guerras como a de Afganistam, com extensons nom tam directas, mas sim igualmente devastadoras em Paquistam, Bangladês, Iemem, ou o mesmo Iram. Cada medida repressora ou limitadora em ocidente do uso da vestimenta simbólica, nom vai conseguir o efeito libertador que presumivelmente se persegue. Antes bem, cargara-se mais de simbolismo na medida que seja foco de atençom nas sociedades dominantes. Sociedades que, co seu poder político, militar e económico fixérom emerger, fronte a movimentos laicos e democráticos, um forte sentimento identitário que vê nos integrismos religiosos, umha resposta às agressons que padecem constantemente.
As mulheres em ocidente sofremos os nossos bombardeios mediáticos para que nos esforcemos para dar a medida do corsé que estigmatiça as enrugas, as canas, passar dos centímetros e quilos estipulados, ou ficar curta. O êxito das operaçons estéticas, a todas as idades e em todos os sectores sociais, com algumha diferencia marcada sobre todo polo poder aquisitivo, visibiliza esses outros velos, nom impostos por hierarquias religiosas ou políticas, mas sim por um patriarcado que segue a ter a vara de medir o corpo das mulheres, e a maneja, neste caso, ao ritmo que precise o mercado. Operaçons de peitos, de lábios, de nariz, liposuçons, reconstruçom de himens e na última fornada, operaçons de reducçom dos lábios da vulva.
Neste ambiente belicista, a prostituçom é a nai de todas as batalhas no corpo das mulheres. O importante nesta batalha nom é se as mulheres optam voluntariamente ou nom, a vender uns serviços sexuais, poderíamos entóm pôr fim a esta guerra simplesmente perseguindo um delito de rapto e escravitude laboral. Tampouco se trata de se com essa actividade se lucram proxenetas, ou as conexons destas redes co tráfico de armas ou estupefacientes. Sabemos de delitos contra a Humanidade de grandes Coorporaçons Económicas, ou mesmo o que supom a fabricaçom e venda de armamento. A prostituiçom, forçada ou nom, simboliza o domínio, mediante compra, dos corpos das mulheres, o afianzamento dumha sexualidade, que deita no mesmo leito a satisfacçom e livre decissom das partes (suponhendo que estas existam), coas leis do mercado, e um modelo sexual alienado coa opresom. Eis a iniciaçom sexual de miles de moços no nosso tempo. Analfabetos nas relaçons afectivo-sexuais que afiançam estereótipos machistas nos prostíbulos, onde triunfa a sua masculinidade no espelhismo do cerco e conquista facilitado polos euros.
Este ano lembramos o centenário da celebraçom do 8 de Março, como umha data de reivindicaçom dos direitos das mulheres. Volvíamos umha vez mais a vista atrás, para admirar ainda mais as loitas das mulheres sufragistas. A sua batalha foi polo direito ao voto. Por conseguir o que os nossos companheiros revolucionários franceses nos negárom na constituiçom da Primeira Repúbica de 1792. Se pensamos na batalha desatada no corpo das mulheres, temos que respirar profundamente e ser conscientes dos retos que temos por diante para conseguir a soberania sobre os nossos corpos. O feminismo que pretende transformaçons sociais de tanto calado, longe de ter conseguido avanços importantíssimos, semelha que como umha criança, só começou a dar os primeiros passos.
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