quinta-feira, setembro 10, 2009

Que che fixemos Laura?


Tenho preocupaçom pola reacçom social que envolveu o assassinato de Laura Alonso Pérez no concelho de Toén. A medida que passavam os dias depois da sua desapariçom, as vozes que pediam endurecimento das penas, cadeia perpetua ou mesmo pena de morte íam in crescendo, coa ajuda inestimável dos meios de comunicaçom que abriam foros e votaçons para a reforma do Código Penal, como si a existência ou nom da violência machista tivesse relaçom co número de anos, meses e dias das sentenças que se ditam. Só hai que mirar, como me apontava umha amiga, que muitos agressores actuam como terroristas suicidas, sem dar opçom à justiça a actuar contra eles.

Mentres a sociedade siga alimentando sentimentos de vingança e ensanhamento, e nom esté disposta a acometer os cámbios necessários para arrincar as raízes que alimentam a violência machista, seguiremos enterrando a muitas Lauras.

Já som muitos os sinais que nos indicam que a sociedade galega deu um golpe de timom no rumo que a levava cara a umha sociedade inspirada nos valores da igualdade. Coa morte de Laura, apontam as contradiçons entre o que significa chorar diante do seu cadaleito e apoiar políticas que preparem o escenário do novo crime. Sem dúvida estamos diante dumha involuçom do que pareciam ser avanços consolidados em quanto a liberdade e direitos das mulheres.

Essa reacçom visceral ante o assassinato de Laura convertida num feito mediático, espida absolutamente de análise e reflexom, indica-nos até que ponto a sociedade galega está impossibilitada para rematar coa violência machista e evitar mais assassinatos de mulheres. Nom se pode deconstruir ou desactivar o que se desconhece, e segue havendo umha grande ignoráncia social a respeito da violência machista, por quê se dá?, quais som os efeitos que produz nas vítimas?, que tipo de masculinidade a exerce?, e sobre todo... como prevé-la?.

Exercer umha responsabilidade política, aumenta em muitos graos o efeito dessa ignoráncia. É também muito perigoso, desconhecer ou minimizar o efeito que sobre o repunte ou o retrocesso da violência machista, tenhem as políticas que se aplicam desde os poderes públicos ou a influência que neste fenómeno tem, a ideologia que extendem as instituiçons mais poderosas na nossa sociedade, nomeadamente a cúpula católica.

Essa ignoráncia demostrou-na o Presidente da Xunta, Alberto Nuñez Feijóo, na declaraçom institucional realizada a raiz do assassinato de Laura Alonso, comentando que na Galiza o assassinato de mulheres era algo "excepcional". Palavras pouco adequadas para referir-se a um fenómeno social no que a morte de cinco mulheres no que vai de ano, é só a ponta dum iceberg que arrastra miles de denúncias nos julgados, e que agocham muitas mais agressons todos os anos no nosso País.

Seriam só palavras, que se poderiam desculpar, se nom agachassem umha ideologia e umhas políticas que vam na direcçom contrária dos valores da igualdade. O Partido Popular ao que pertence, deu sobradas monstras delo, opondo-se à Lei de Igualdade, á reforma da Lei do Aborto, á inclussom nas escolas da asignatura "Educación para a Cidadanía", a igualdade de direitos das pessoas homosexuais, apostando pola guerra ... e abandeirando umha política económica de privatizaçom dos serviços públicos, baixada de impostos e aforro do gasto público em serviços e prestaçons sociais, que é um ataque directo à igualdade das mulheres.

Seriam só palavras, as de Feijóo, ante a morte de Laura Alonso, que poderíamos disculpar se nom tivessem detrás umha vontade política de colocar ao frente das instituiçons galegas pessoas de conhecida ideologia integrista e misógena, que, como no caso do Conselleiro de Educación -Xesús Vázquez Abad-, aceita como bom, a segregaçom por sexos nas escolas, ameaçando o presente do sistema público de ensino, onde umha parte muito importante da comunidade escolar esforça-se, na formaçom em valores da igualdade, do ecologismo e a paz. El conhece esse passado recente e esse presente. Sabe como reaccionou o ensino público ante a catástrofe do Prestige ou ante a guerra de Irak. Sabe-o el, e o Opus Dei, a organizaçom que parece inspirá-lo. Polo que o ensino público, vai ser umha das instituiçons galegas mais atacadas nesta legislatura. Umha instituiçom chamada a ajudar a formar pessoas cumha nova masculinidade, novos roles nom esteriotipados, novas relaçons afectivo-sexuais baseadas no respecto e a igualdade.

As de Feijóo, forom só palavras, que seríam anécdota, se o governo que dirige, nom estivera abrindo umha fenda nos direitos e liberdades das mulheres. A Conselleira de Sanidade -Mª Pilar Farjas Abadía- vai à frente dessa actuaçom, nom só pola sua carreira privatizadora dum serviço público básico para as mulheres, senom que nela se arroupa o mais reseso dos integrismos que qualificam o aborto como um assassinato. Assim pretendem aplicar na Galiza o terrível modelo de apoio às mulheres com embaraços nom desejados, que já está em vigor em Valencia. O objectivo é, em primeira instáncia, convencê-las de que o melhor para elas é levar a termo o embaraço, que já haverá a quem entregar ao seu filh@ umha vez parid@, sem ter em conta os sentimentos ou a afectaçom que para a saúde mental das mulheres comporta esta terrível decissom. Essas mulheres vam poder ser acolhidas por outras familias, que por suposto lhes transmitiram os valores dumha maternidade adnegada na que a sua vontade e desejo conta bem pouco. Um modelo que ignora a responsabilidade masculina, e que vai dirigido fundamentalmente às mulheres mais vulnerábeis (adolescentes ou mulheres pobres), nom para empodera-las e dar-lhes a suficiente autonomia para que tomem com liberdade às suas própias decissons, senom para encorsetá-las num modelo feminino herdado dos manuais da "Sección Feminina" e das ordes religiosas, tradicionalmente dedicadas a redimir "vidas descarriadas". É que a Conselheira di que o aborto é a monstra palpável do fracasso da educaçom sexual. Teria-nos que explicar de que educaçom sexual fala Pilar Farjas e onde se imparte.

O alcalde de Toén, aparecia nos meios de comunicaçom primeiro abatido, logo, ante a detençom do agressor, com cuja família mantinha umha forte vinculaçom política e de amizade, o abatimento convertiu-se em desorientaçom. A vítima e o verdugo dentro do seu círculo de confiança. O discurso oficial de condea nom servia. Era como se se dera conta por um momento que algo tinham feito mal em Toén. Como se puido chegar até aí? Como é que nom pararom a tempo as cousas quando havia que para-las? Por que um rapaz de boa família chega a fazer o que fixo? Por que a umha rapaça como Laura, as idas e voltas dumha relaçom lhe custam a vida? Nom lhes virom nunca nada na escola? Que lhes diziam na misa? E no centro de saúde, nunca lhe notarom nada? E na casa, que lhes diziam na casa? Que se fai nestes casos? Que haveria que fazer antes?... Mas entóm, Alberto Nuñez Feijóo, o seu presidente, o seu máximo dirigente, chegou a Toén para reprogramar umha única resposta correcta a todas estas perguntas. Umha resposta que ademais apresentou, como umha reivindicaçom das organizaçons de mulheres: hai que aumentar as penas para os maltratadores. Assim, o que era algo "excepcional", converte-se em razom para cambiar o Código Penal. Todo para seguir dando às costas ao problema da violência contra as mulheres. Todo para que siga intacto o sacrosanto sistema patriarcal que contamina todas as expressons sociais. Todo para que os titulares da prensa recolham a pergunta Que che fixérom pequecha? no canto de: Que che fixemos Laura?

06-09-2009
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