Em primeiro lugar agradecimento enorme às companheiras de Vigo, por
termos dado este espaço para escuitar e ser escuitadas. Em tempos de
censura e política da cancelaçom, em redes sociais, médios
convencionais, dentro da esquerda, e também dentro dos próprios
movimentos sociais, é de agradecer que se abra umha janela para que se
escuite o que estamos a debater e a contestar as feministas, umha vez
apagada a lanterna que nos visibiliza cada 8 de março.
A
atrocidade da guerra, oculta e semelha pôr em segundo plano qualquer
outra questom. Assim devera ser, em todo caso, em resposta a todas as
guerras que se estám a desenvolver no planeta. Agora, só semelha que
exista umha guerra, a retransmitida, a que tem o foco mediático, a que
interessa à geopolítica do bloco que nos influi por pertença. As
feministas na Galiza berramos, quando a guerra do Afeganistam, “nem guerra que nos mate nem paz que nos oprima”, e berramos o mesmo quando a guerra de Iraque. Agora volvemos a dizer “nem guerra que nos mate nem paz que nos oprima” porque a
guerra é o máximo exponente da cultura patriarcal, a cultura da
violência como forma de relacionar-se entre os seres humanos, a cultura
da destruçom frente a cultura da vida que é a cultura na que nos
socializamos às mulheres, reprodutoras e mantedoras da vida. A cultura da paz, neste momento mais que nunca como a cultura de sobrevivência da humanidade.
Na
guerra de Ucraína o patriarcado volve a fotografar-se tal como é.
Mulheres com crianças, pessoas de idade e enfermas, fugindo da guerra;
homens obrigados a ficar contra da sua vontade a tomar as armas, a
fazerem-se violentos e assassinos; nas fronteiras máfias aguardando a
nova mercadoria, mulheres e nenas vulneráveis para substituçom nos
macroburdeis de Europa, Asia ou América; bebes comprados nas granjas de mulheres baixo contrato de explotaçom reprodutiva, sem direitos, entre outros o direito de filiaçom. O feminismo é o antídoto fronte às guerras, porque o feminismo luita polo fim do sistema patriarcal, esse sistema que se monstra tal qual o estamos vendo nas imagens de televisom estes dias.
Quando
me convidarom a dar esta charla, falarom-me de desenvolver o tema da
mercantilizaçom do corpo das mulheres. As análises mais conhecidas que
se vinham fazendo desde o feminismo nas últimas décadas do século
passado, monstravam a cousificaçom do corpo das mulheres sobre todo na
publicidade e nos mandatos da moda. Denunciavamos como nos utilizavam
como reclamo para vender um carro de alta gamma, um licor…, ou como para
a moda eramos simples perchas onde colgar a imagem que desejavam ver os
homens, nom importando o que isso de sofremento poidera ter para nós:
roupas incómodas, corpinhos de tortura, tacons impossíveis… todo
limitante e mesmo contraindicado para a nossa saúde. Mentres nos
dedicávamos, com todas as nossas energias, a denunciar a violência
machista, aparcavamos o debate da prostituiçom, era um tema que nos
dividia. As abolicionistas, agora o sabemos, carecíamos do argumentário,
das análises e investigaçons, que nos dessem a força necessária para
enfrenta-lo.
Agora a palavra mercantilizaçom soa moi cativa em
relaçom ao salto qualitativo que deu o patriarcado da mam do
neoliberalismo. A realidade nos convida a utilizar palavras mais
ajeitadas para defini-la. Podemos afirmar que o neo-liberalismo
aplica um modelo extrativista a respeito dos corpos das mulheres e da
sua capacidade reprodutiva. Como o extrativismo mineiro, agrário,
gandeiro ou forestal, a extraçom da matéria prima vai-se fazer sem a
penas respeito médio ambiental, no nosso caso, sem respeito à
integridade e à consideraçom das mulheres como pessoas humanas com
direitos. Como no extrativismo a materia prima vai-se extrair nos
territórios onde exista menos regulaçom, menos garantias legais que
protejam o território, mais pobreça, estados corruptos ou endividados, e
umha cultura de conceptualizaçom patriarcal das mulheres fortemente
enraizada. Como no extrativismo, a matéria prima vai-se exportar aos
países mais desenvolvidos onde produzirá pingües benefícios para as
industrias extrativas.
A industria criminal do sexo, a prostituiçom e a pornografia, junto com a incipiente industria dos ventres de alugueiro, som modelos extrativistas que funcionam pola simbiose patriarcal-capitalista, que reduzem às mulheres a mercadorias, infraseres sem direitos, para isso utilizam métodos violentos e de anulaçom.
O aumento exponencial da industria criminal do sexo vem acompanhado dum movimento extrativo de mulheres dos países mais pobres, em direçom aos países mais ricos. O
consumo de corpos de mulheres associado ao ócio e aos negócios, impom a
necessidade de renovar constantemente a mercadoria para manter a
demanda, e satisfazer a um cliente que exige porque paga. Rocío Mora, da Asociación para a Prevención, Reinserción e Atención à Mulher Prostituida "Apramp"
di que no passado ano 2020, se registrou umha reduçom de mulheres de
Brasil, e um incremento de colombianas, dominicanas, paraguaias e
venezolanas. Em menor percentagem, também, cubanas, peruanas e
uruguaias.
Esta industria, na sua maior parte ilegal, tem o
reto de converter-se em legal, para superar umha das suas maiores
dificuldades, o branqueio de capitais que provenhem da explotaçom dos
corpos de mulheres e crianças. O modelo regulacionista agora também
chamado modelo de direitos, aponta nessa direcçom. Nom podemos deixar de
nomear às instituiçons que promovem este extrativismo. O Banco Mundial,
e o Fondo Monetário Internacional, com os seus planos de ajuste
estrutural, proponhem empréstimos aos Estados com dívidas externas, para
desenvolver empresas de turismo e entretimento, entenda-se turismo
sexual e entretimento masculino.
O 40% dos homens do estado
espanhol som puteros. Som homens que compartem a ideia de que podem
aceder ao corpo das mulheres sem que elas os desejem, ainda que estejam
baixo os efeitos do álcool e as drogas; sejam ou nom vitimas de trata;
que estejam nessa situaçom por pobreza e desamparo; se forom captadas em
situaçom de vulnerabilidade... Situaçons como da que se aproveitam
nestes momentos as redes proxenetas na fronteira polaca.
Os
puteros som homens que assumem a deshumanizaçom das mulheres,
naturaliçam a violência e assumem o que é, abuso, violência e domínio,
como um direito de consumidor. O direito a que, sem desejo, só com
consentimento nom provado, mas pagado com um bilhete, penetra-las pola
vagina, polo ano, pola boca; o direito a que lhes chupem o pene, o ano; o
direito a acceder ao corpo dumha mulher em grupo, em manada, o chamado "bautismo";
o dereito a orinar, defecar, cuspir sobre o corpo das mulheres; o
direito a axfisia-las, apaliza-las, corta-las… Eles tenhem direito como
consumidores a eleger, elas a ser elegidas para sobreviver.
O
pago por um bebe nascido dum ventre de aluguer acada na Ucránia 40.000
€. Nesse país nascem entre 2.000 e 2.500 bebes ao ano, em 33 clínicas
privadas, que polo tanto facturam 100 milhons de euros anuais. Esta
industria em expansom florece também na ultracatólica Polonia, em
Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, India, Nepal, México, Tailandia,
Rusia, Grecia, Portugal, Sudáfrica Georgia, Vietnam,
Kazajistán,Tailandia e India. Esta-se introduzindo em Portugal, Bélgica,
Dinamarca e Irlanda, onde estám levantando restrinçons. No estado
espanhol está proibida pero as corporaçons que atuam noutros países
podem publicitar-se, podes trazer um bebe nascido por contrato e
registra-lo como próprio. Uns 1000 bebes ao ano registram-se no estado
espanhol por este método.
Esta industria extrativa funciona do
mesmo jeito que a industria do sexo, mas nom está a precisar de redes de
tráfico nem de branqueio à escala do que a prostituiçom. O produto
final tem aguardando unha parelha de semblante feliz que vê os seus
desejos cumpridos, ainda que esses desejos o fossem a costa de direitos de mulheres empobrecidas,
que internadas em espaços onde já nom som consideradas pessoas, senom,
como na gandeiria intensiva, matéria prima onde assegurar um produto de
qualidade, onde vigiar e ter controlo sobre a trazabilidade do produto, e
baixo um contrato onde renunciam a direitos, incluindo o de filiaçom, o
do controlo do próprio corpo, ou o da liberdade de movimentos, até o
momento do parto.
Nom é difícil intuir a relaçom que existe
entre sistemas como o prostitucional, industrias como a do aluguer de
ventres, com a violência sexual que medra nas nossas sociedades. Nom
é difícil intuir que a violência sexual nom vai desaparecer, mesmo
seguirá a aumentar se a pornografia erotiza entre os moços e homens a
violência contra as mulheres, chamando-lhe sexo, sexualidade. Podemos
ter umha venda diante dos olhos, mas seguiremos a ser testemunhas de que
pese às medidas institucionais que conquistamos ou que vaiamos
ampliando em relaçom à violência machista, se nom tocamos o sistema
prostitucional, a pornografia e a industria que se apropria da nossa
capacidade reprodutiva a costa dos nossos direitos, a violência contra
as mulheres nom cessará, mesmo se acrescentará. Nom podemos aceitar
os argumentos que se baseiam nas opçons individuais, na liberdade de
eleger frente a fenómenos sociais que estam mechados por industrias do
crime organizado, fundamentadas na desigualdade, na pobreza e na
violência, Aí o consentimento, a livre eleiçom ficam fagocitados.
Nom
quero que este argumentário fique reducionista. As causas de que a
violência machista pese a todos os esforços e iniciativas nom esteja a
desaparecer das nossas sociedades, também hai que busca-las, entre
outras, na reacçom dos homens contra a perda de privilégios fronte à
autodeterminaçom das mulheres ao conquistar e praticar os seus direitos.
Mas insisto, hai que busca-la sobretudo, naquelas instituiçons que as
reproduzem, as alimentam e som o adestramento na violência ou na
submissom, das geraçons mais novas.
Aí vam jogar para nós um
papel importante, mais umha vez, as nossas mestras, as pensadoras, as
investigadoras, as estudosas da nossa realidade. Estas companheiras
feministas vam situar faros de conhecimento que vam iluminar aquelas
instituiçons e realidades que estam a impedir os avances das mulheres,
reproduzindo violência, explotaçom e opressom.
Elas vam definir claramente a prostituiçom e a pornografia como duas instituiçons patriarcais onde se reproduze a violência machista,
diretamente nos corpos das mulheres e nenas prostituídas, e violência
simbólica para o resto de mulheres e nenas. Vam definir claramente o
sistema prostitucional, onde a industria da explotaçom sexual desde a
década dos noventa acadou dimensons nunca vistas, convertendo-se junto
ao tráfico de armas e drogas, na atividade mais lucrativa da economia
criminal. Um sistema onde os prostituidores, puteros, exercem
violência sexual, física e psicológica contra as mulheres e nenas, e som
invisíveis e impunes. Um sistema onde os proxenetas aplicam métodos
criminosos para manter e ampliar as suas redes de negócio.
Vam
sacar à luz os vínculos entre esta industria da explotaçom sexual, que
se nutre fundamentalmente da trata de mulheres e nenas, e o
capitalismo criminal, onde a prostituiçom e a pornografia vam ajudar aos
processos de acumulaçom capitalista, como o foi no seu momento a
escravitude, e mesmo se convertem em estratégias de países pobres
para fazer frente ao problema da dívida, e onde grandes multinacionais
que cotizam em bolsa tenhem ramas de negócio que obtenhem grandes
benefícios através desta atividade criminal.
No feminismo temos
suficientes estudos empíricos sobre a realidade do sistema
prostitucional como para dizer que nom conhecemos, tanto as suas normas e
o que o alimenta, como as consequências que derivam da sua existência
para as mulheres e nenas. Na Galiza, na Universidade de A Corunha, temos
um referente internacional, a profesora Rosa Cobo, ela à sua vez nos achega a estudos de Sheila Jeffreys, Melissa Farley, María José Barahona, Natasha Walter, Richard Poulin, ou a referentes europeus como Kajsa Ekis Ekman. Também existem estudos institucionais, como o realizado por Esther Torrado,
da Universidade da Laguna para o Parlamento Canário, que demostra que o
100% das mulheres prostituídas forom vitimas de violência machista.
Aqui em Vigo sempre estiverom Maria Xosé Queizán, a Ana Miguez da Asociacion Alecrin e a Luisa Ocampo de Mulheres Nacionalistas Galegas. Umha lembrança especial merecem as já falecidas Begonha Caamanho e Rosa Bassave,
e muitas outras ativistas que levam anos denunciando o sistema
prostitucional. Novas ativistas e organizaçons estam tomando o relevo
nesta cidade, como a associaçom Faraxa, ou a Rede Galega contra a Trata sexual, com a incansável Silvia Pérez Freire.
Agora o ativismo abolicionista que está a criar redes cada vez mais
extensas, reclama o ponto central que lhe corresponde na agenda
feminista do século XXI.
Quero sinalar especialmente, o estudo da professora catedrática da Universidade de Salamanca Carmen Delgado,
porque para mim aporta aspetos que eu desconhecia e nunca os tinha
visto incorporados ao relato feminista da prostituiçom e a pornografia. Carmen Delgado
comparte a importáncia dos fatores económicos como fatores que
propiciam a entrada de mulheres e nenas no sistema prostitucional,
também os vetores de racialidade e classe, e até aí nada novo. Ela
incorpora os fatores psicosociais, que vam reforçar definitivamente a
tese de que a pornografia e a prostituiçom som atividades onde se
violenta às mulheres e às nenas para sacar beneficio.
Carmen afirma que a violência sexual é previa à captaçom para o sistema prostitucional. Entre
o 85% e o 90% das mulheres e nenas prostituídas sofreram agressons
sexuais, violaçom, pederastia... antes de se incorporar ao sistema
prostitucional. Os dados e conclusons do seu estudo botam por terra
os argumentos da livre eleiçom e do consentimento no sistema
prostitucional. Ademais aporta o dato de que o 89% estam buscando
ativamente umha saída dessa situaçom. Mas o certo é que ademais da falta
de expectativas, é tam grave o dano psicológico que se sofre, que
muitas fracassam nesse intento, pola dificuldade para restabelecer
vínculos fora do sistema prostitucional.
As feministas, ante esta
evidencia empírica nom deveríamos aceitar a argumentaçom do
regulamentarismo que ignora estas circunstancias. Ao regulamentarismo
nom lhe interessam, pero está provado o dano psicológico grave que
sofrem já antes, as mulheres que som captadas pola industria da
explotaçom sexual. Segundo os estudos de Richard Poulin,
a idade media de captaçom para o sistema prostitucional som os 14 anos,
a livre eleiçom fica em falacia. E como denuncia a própria Silvia P. Freire, falar só da trata invisibiliça a realidade de violência sexual extrema que representa a prostituiçom.
Pero o estudo de Carmen Delgado, onde se nomeam outros estudos referenciais de Rosa Cobo, Sheila Jeffreys, Melissa Farley, María José Barahona,…
afunda também na situaçom de violência que vivem as mulheres e nenas
dentro do sistema prostitucional. Um 92% sofrem acosso sexual, um 92%
violência explicita, do 62 ao 72% violaçom, e um 25% intento de
suicídio.
O caso de July, dominicana de 42 anos, que intentaba salvar a Mónica, rumana de 30 anos, que ao grito de “quero ser feliz” intentou e conseguiu tirar-se ao trem arrastrando com ela a July, em Cantabria, nom conseguiu o que consegui o de Ana Orantes, nom foi televisado. No prostíbulo no que eram explotadas sexualmente “Parada de postas”, os seus proxenetas e prostituidores ficarom anónimos. Agora é Mila
a que vai petando porta a porta no Carvalhinho pedindo ajuda, a dizer
que tem medo pola sua vida até aparecer assassinada no medio do lixo da
vila. Os seus proxenetas foram condenados por tráfico de mulheres, o
prostíbulo segue aberto.
Umha violência que supom, por exemplo
entre outros danos psicológicos, que o 68% sofra transtorno de stress
postraumático. Para que esta cifra seja ainda mais significativa Carmen Delgado sinala que no caso de ex-combatentes de guerra a cifra é só do 20%. A
este trastorno se somam umha ristra mais que dam ideia do campo de
concentraçom, tortura e exploraçom que é o sistema prostitucional, onde o
varom prostituinte usa o corpo das mulheres e nenas para dominar,
exercer o poder através do sexo. Carmen
conclui que se pode identificar perfeitamente como Síndrome de
Estocolmo, a situaçom psicológica provocada polo sistema prostitucional
nas mulheres e nenas, onde para sobreviver desenvolvem trastorno de disociaçom,
um trastorno que deixa lesións psicolóxicas graves, que estám bem
documentadas nas mulheres que sofrem violência machista nas relaçons de
parelha, e que agora também o está nas mulheres e nenas vitimas do
sistema prostitucional.
Pero ademais dos estudos e
investigaçons, que se incorporam ao relato feminista sobre a
prostituiçom e a pornografia, o feminismo conta com a força das vozes
das mulheres feministas sobreviventes ao sistema prostitucional.
Companheiras feministas que com o seu relato pessoal de chegada e saída
do inferno prostitucional, completam a legitimaçom do discurso
abolicionista que vai tomar forma e fundo nestes últimos anos. Nunca
poderemos agradecer suficientemente a mulheres como Amelia Tiganus ou Sonia Sánchez
pola sua valentia, por abraçar com tanta lucidez a consciência
feminista e representar-nos a todas nesse discurso liberador de “ningumha mulher, ningumha nena nasce para puta”.
Pois
depois de todo este estudo sobre violência ao redor do sistema
prostitucional, as dimensons da industria da explotaçom sexual no estado
espanhol teriam que colocarmo-nos às feministas em estado de alarma
permanente: de cada 100 homens, 40 som prostituidores; Espanha ocupa o
número 3 em quando a demanda de prostituiçom a nível mundial, despois de
Tailandia e Puerto Rico, e ocupa o número 1 a nível europeio. Máis de
30.000 milhons de euros anuais, entre 300.000 e 500.000 mulheres e
nenas. Espanha é o burdel de Europa.
Denunciam desde o Observatorio contra a Violencia que desde que começou a guerra de Ucrania, a búsqueda de termos como "porno ucraniano", "adolescente ucraniana","chica ucraniana" dispararom-se em google e numha das webs pornográficas mais visitadas do mundo, Pornhub.
Estudos recentes, como a investigaçom titulada "Nova pornografía e cambios nas relacions interpersonais"
publicada en 2019, amossam o impacto que tem a pornografia na
construçom dos desejos sexuais. Se temos em conta que, como explica a
experta Mónica Alario,
as mensagens que transmite a pornografia aos varons que, por tanto,
construem o desejo sexual masculino, som a erotizaçom da dor física das
mulheres, da sua falta de desejo, sofrimento e humilhaçom, assí como dos
abusos sexuais a menores e do consumo de prostituiçom, entom podemos concluir que a pornografia construi os desejos sexuais dos homens baseados na violência e o sofrimento das mulheres.
Considerando que a pornografia erotiza a violência sexual cara as mulheres, observar como num entorno de guerra (com consequências humanas e económicas devastadoras)
aumenta o consumo de pornografía com búsquedas específicas em relaçom
às mulheres que estam sofrendo os seus efeitos, é quando menos
aterrador. Si a doutora alemá Ingeborg Kraus, especialista em trauma, denunciava no seu artigo que “O modelo alemám está criando um inferno na Terra”, seria o momento de ampliar o título “A industria criminal do sexo é o inferno na Terra para as mulheres e as nenas”
Sabemos
que alí onde se aplicaram políticas regulamentaristas da prostituiçom, a
demanda nom recuou, a industria expandiu-se e a trata nom rematou,
Holanda e Alemanha som exemplos disto. Sucede o contrário naqueles
países onde se estam a aplicar políticas abolicionistas: Suecia,
Islandia, Noruega, Canadá, Irlanda do Norte, Francia, República de
Irlanda e Israel. É polo tanto inaprazável que as feministas
consigamos umha lei pola aboliçom da prostituiçom e a pornografía. A
Plataforma pola Abolición da Prostitución, que preside Charo Carracedo tem elaborada umha proposta de lei
e está intentando que o governo, e os partidos políticos no Congreso
dos Deputados a tenham em consideraçom, sem muito sucesso polo de agora.
Na
Galiza ainda nom conseguimos que ningum partido político assuma como
própria a necessidade dumha Lei Galega Abolicionista. Todas sabemos que
se nom se pressiona na rua, é difícil conseguir avances de calado nas
instituiçons. Se a leitura e interpretaçom da realidade por parte de
todos estes estudos feministas mostram à pornografia e à prostituiçom
como um verdadeiro gerador de violência contra as mulheres, deveremos
desde o movimento feminista exigir políticas públicas que o desmantelem,
e conseguir o status de vitima de violência machista para todas as
mulheres e nenas prostituídas.
Hai medidas concretas que se podem aplicar com carácter imediato,
como impedir que a pornografia siga emitindo-se em aberto, que chegue
via internet com tanta facilidade a menores desde os 8 anos, que seja a
primeira escola em relaçons sexuais, polo tanto em inoculadora de
misoginia e violência machista e criadora da erótica da violência contra
as mulheres e nenas para conseguir prazer. Desde o feminismo devemos
artelhar campanhas de conscienciaçom onde denunciemos a pornografia como
fonte de violência e misoginia “o teu prazer nom pode construir-se a conta da violência contra as mulheres”.
Hai que conseguir que no código penal se penalize aos proxenetas e pornógrafos, e também a colaboraçom
alugando pisos, locais, serviços de limpeza, abastecimento de bebidas,
transporte… e todo o que signifique apoio a esta atividade económica
criminal. O código penal deve considerar delito a demanda de
prostituiçom, porque sem demanda nom hai negócio. O putero, o
prostituinte que agora também sabemos que comparte características do
perfil psicológico do violador (masculinidade
hostil, sensibilidade e fustraçom ante o rechaço das mulheres, consumo
de pornografía, sexo impersoal, narcisismo, permissividade com as
agressons sexuais, relaçons de parelha dominantes, falta de empatia
sexual...) deve saber que aceder ao corpo das mulheres por preço estará penado por lei, e polo tanto vai ser perseguido.
As mulheres e nenas em situaçom de prostituiçom devem poder acolher-se a planos integrais de recuperaçom integral, com atençom psicosocial e apoio económico para sair dessa situaçom de violência.
O feminismo tem que apagar a luz vermelha nos prostíbulos.
Também nas esquinas dos polígonos industriais, nos pisos dos
proxenetas, nas canles como OnlyFans, ou negócios como Sugar Dady. Tem
que apagar a luz vermelha que todo o oculta, o sensualiza, e abrir as
janelas para deixar entrar a luz que ilumine o dia a dia das mulheres e
nenas prostituídas.
Ao feminismo se lhe ameaça dizindo-lhe que se
nom pom por diante a luita contra o racismo, a denuncia do capitalismo,
a luita pola vivenda, os direitos das pessoas trans, o ecologismo, o
pacifismo… e todas as luitas e colectivos discriminados ou oprimidos que
existem, todas elas loitas justas, vai-se converter num feminismo
burgués, inútil, tipo “Hilari Clintom” ou como dim nos círculos de apoio à Ministra de Igualdade, um feminismo de “Kamala Harris” (por certo, a primeira mulher que ocupou por uns dias a presidencia de EEUU).
Ao feminismo nom se lhe permite ser o movimento que defende por riba de todo, os direitos da metade da humanidade,
das mulheres. Ao feminismo se lhe di que tem a obriga de cargar com a
mochila da merenda e a roupa suja de outras luitas. Pola contra, desde o
feminismo temos o dever de antes de assumir como próprias estas luitas,
com as suas reivindicaçons, ver de que jeito estas afetam às mulheres e
polo tanto as que devem cambiar para nom bater com os nossos direitos,
para que nom afortalezam o sistema que nos oprime, o patriarcado.
Precisamos logo um forte posicionamento do movimento feminista a favor do abolicionismo,
olhando para Francia, Islandia ou Suecia onde leis abolicionistas estam
freando às mafias e destruindo o sistema prostitucional.
Precisamos
logo um forte posicionamento do movimento feminista em contra da
industria dos ventres de aluguer, para que nom se avance na
permissividade dessa prática, se persiga a propaganda das clínicas e se
proíba às parelhas contratantes, o registro de bebes nascidos baixo
contrato.
No programa 8 de Las Claves,
da televisom espanhola, perguntavam num minidebate se sería possível
rematar com a prostituiçom. As regulamentaristas alí presentes diziam
que nom, que sempre existiria. As abolicionistas contestamos “pudemos
abolir a escravitude, poderemos abolir a prostituiçom, e fecharemos as
granjas de mulheres gestantes, a nova escravitude das mulheres e as
nenas, a escravitude do século XXI”
Vigo, 17 de Março 2022
VÍDEOS:
✔ Vídeo da Charla - O feminismo tem que apagar a luz vermelha, ... Por Lupe Ces - (Charla) 1 de 2. - "A mercantilización da mulher". (33 minutos)
✔ Vídeo do Debate - O feminismo tem que apagar a luz vermelha, ... Por Lupe Ces - (Debate) 2 de 2. - "A mercantilización da mulher". (55 minutos)
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