sexta-feira, outubro 30, 2015

O monstro

Quando moitas das tuas amizades colgavam laços violetas nas suas contas das redes sociais, escoitavamos mais umha vez os discursos sobre violência machista, animando às mulheres a denunciar, a nom aguantar... e mais umha vez equivocavam o discurso porque ti nom entravas nesse perfil de “maltratada”.

Mais umha vez Conchi [1], intentavam explicar com tópicos a realidade complexa na que se desenvolve o machismo e a sua violência que a ti, tam nova, acaba de roubar-che a vida. Essa vida que passava ante os teus olhos detrás da barra do Chirinkito na praia, onde construías os teus sonhos, o teu futuro já sem el. Chirinkito que ardia poucos dias antes de que também se queimasse em segundos o teu tempo de vida.

Ti, que colgavas no teu perfil de facebook, umhas poucas horas antes de ser assassinada, o “Manifesto para Nenas”, onde asseguravas que nom hai limites para as nossas ganas de ser livres...

E aos poucos dias, eras ti, Maria, rompendo co teu corpo o silencio no bairro do Calvário. Ti, peregrina de serviços sociais, mendicante dumha soluçom nos serviços assistenciais que agora dim que nom aceptavas ajuda, que nom aceptavas a reclusom no centro de acolhida, que nom te resignavas a abandoar a tua casa, á tua parelha enferma...

Que se saiba!, que se comece a entender, que se assuma... O machismo é um monstro de muitas cabeças, um grande monstro de mil faces, que ademais se alimenta e complementa com diferentes realidades sociais e individuais: saúde mental,  dependências,  história familiar, normas sociais e religiosas, tradiçons, inercias... mas que tem sempre um comum denominador, impedir às mulheres o exercício da sua liberdade.

[1] Conchi Reguera Peón, foi assassinada em Pontesampaio e María José Rodrígues em Vigo, outubro de 2015.

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quarta-feira, outubro 07, 2015

O armário

Olhavas aquel armário quando precisavas acobilho, quando o monstro aparecia, justo polo mesmo caminho, polos mesmos olhos, nos que noutros momentos agromava o amor, a paixom ou as migalhas de alegria. Umha alegria que axinha passou a ser só alivio, e logo, um longo e lousado silencio tenso.

Olhavas aquel armário e sentias um desejo irreparável de que te resgatasse de todo, daquela vida, dos paus, dos gritos, da vergonha... meter-te naquel armário e meter a cabeça entre as maos... e que o tempo parara, e que te deixaram em paz. Descansar, descansar até do sol, descansar del, descansar do horror...

Aquel armário nunca se abriu para ti... Nunca atopaches um armário para ti... Nem quando estiveste ante o juiz, nem quando estiveste nos médicos..., nem quando fuches ao salom a amanhar o cabelo, onde maquilharom as pegadas do monstro.

Aquel armário só se abriu para o teu corpo já sem vida, vida roubada no último arrebato da fera que bramia, polo mesmo caminho que saiam os beijos e as caricias. E ali estivo teu corpo dous dias, Silvina, naquel armário que quixo dar-te em morte o que nom te dera em vida.

Sodes moitas. Refugiadas fugindo do país do amor-trampa. Refugiadas entrando na terra do esquecimento. Sodes moitas.  Um mar de refugiadas de feridas abertas, de ossos rotos, de colos esganados, de carne desgarrada... Sodes moitas, derrotadas nesta guerra. Sodes moitas, e nom chega um só coraçom, nem partido em mil anacos, para ter-vos.

* Silvina, foi assassinada em Vigo, o 4 de outubro de 2015

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